Em julho de 2006, o governo da China inaugurou com estardalhaço a estrada de ferro entre a província de Qinghai e o Tibete. É o último ponto de uma malha ferroviária capaz de ligar Pequim a Lhasa, capital do Tibete, e festejada como uma forma de dar impulso ao turismo no platô tibetano, considerado o “Teto do Mundo” por abrigar as maiores montanhas do planeta.
As ONGs que lutam pela independência do Tibete, ocupado pela China em 1951, reclamaram, e até o Dalai Lama se queixou de que o empreendimento “iria acabar de destruir a identidade cultural da região”.
O governo chinês alegou, na época, que pretendia apenas trazer prosperidade à província mais pobre do país atualmente.
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Na semana passada, no entanto, o Instituto de Pesquisas Geológicas chinês anunciou a conclusão de um estudo de seis anos sobre o platô tibetano com uma notícia espantosa: a província mais pobre da China é, na verdade, a mais rica em minerais, berço de reservas com milhões de toneladas de cobre, zinco, chumbo, ouro e minério de ferro. Ou seja, matérias-primas capazes de reduzir a dependência internacional que a China tem dos recursos que alimentam seu espantoso crescimento econômico.
“Vamos acelerar as pesquisas para identificar com mais exatidão onde estão esses minérios”, afirmou Zhang Hongtao ao jornal estatal “China Daily”. “Uma vez desenvolvidas, essas minas vão reduzir a enorme pressão da China sobre seus próprios re c u r s o s ” .
Na quarta-feira, uma reportagem da revista americana “Fortune”, reproduzida no site da CNN, mostrou o que está por trás dos dois projetos, aparentemente independentes.
Segundo o artigo, o estudo geológico, de US$ 44 milhões, foi realizado de maneira sigilosa pelo governo de Pequim, e a estrada de ferro, na verdade, era parte do projeto chinês de explorar as riquezas minerais tibetanas, capazes, segundo a revista, de afetar o mercado internacional de commodities.
“A estrada de ferro para o Tibete agora parece ser parte de um plano maior para explorar os vastos depósitos de metais da disputada região”, afirma a reportagem da revista “Fortune”.
De acordo com o governo da China, o platô tibetano abriga 16 regiões onde ficam os depósitos minerais, avaliados em US$ 128 bilhões.
Juntos, esses depósitos representam 40 milhões de toneladas de cobre, 40 milhões de toneladas de chumbo e zinco e mais de um bilhão de toneladas de minério de ferro.
Dalai Lama critica invasão de turistas na região Apesar do caráter sigiloso, a pesquisa, devido a sua extensão, acabou vazando. Como resultado, segundo a “Fortune”, a região está passando por uma verdadeira “corrida do ouro”, com até mesmo pequenos empresários chineses indo para o local explorar minas de menor porte. As grandes mineradoras internacionais, por sua vez, já começam a firmar parcerias com empresas chinesas para explorar as vastas reservas.
O interesse maior tem sido de canadenses e australianas.
Quando os trens da estrada de ferro Qinghai-Tibete começaram a levar centenas de chineses da Costa Leste para Lhasa, o Dalai Lama, de seu exílio na Índia, afirmou temer que a invasão de turistas acabasse representando a consolidação da dominação chinesa na região. Não sabia que o pior ainda estava por vir.
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