Recentemente, quando foram divulgadas as ações previstas dentro do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento divulgado pelo governo federal, dentre tantos projetos e diretivas, verbas e planejamentos, um fato me chamou especial atenção: dentro do PAC estão previstos recursos para a construção da Ferrovia Senador Vuolo, Ferronorte, para o trecho Alto Araguaia-Rondonópolis, em Mato Grosso.
O trecho tem 206 km de extensão e tem um custo de construção previsto de R$ 700 milhões. Esta é, de fato, uma boa notícia. Tanto pelo fato em si, quanto pela conjuntura política e econômica que envolve a questão. Para quem não vive a realidade mato-grossense, fica difícil imaginar a importância que a conclusão desta obra ferroviária tem para nossa população. Particularmente, quanto à importância que a chegada desta Ferrovia até Cuiabá. Isso significaria, por exemplo, o cumprimento da Lei 6.346 de 1976, que determina a chegada da ferrovia até a capital de Mato Grosso e, posteriormente, sua extensão para o noroeste e nortão do Estado.
A conquista desta lei, ainda em 1976, pelo saudoso senador Vicente Vuolo, marcava já naquela época a conquista de uma longa luta que não parou por aí e que prossegue até os dias de hoje.
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A luta por uma ferrovia em Cuiabá resgata, na verdade, uma injustiça histórica, ocorrida ainda no começo do Século XX, com a paralisação da construção da então Ferrovia Noroeste de Bauru, depois transformada em RFFSA, que deveria unir o interior de São Paulo a Cuiabá e, por um ramal, até o porto de Corumbá, no Rio Paraguai. As obras desta ferrovia ficaram paradas em um ponto conhecido por Campo Grande e quando, cerca de 20 anos depois, os trilhos chegaram até Corumbá, Campo Grande já era uma cidade em franca expansão.
Porém, os trilhos nunca chegaram até Cuiabá e o significado desenvolvimentista de uma obra ferroviária é de tamanho impacto que podemos afirmar ser este o pano de fundo da divisão de Mato Grosso em duas unidades federativas, no final dos anos 70.
Hoje, a atual Ferrovia Senador Vuolo opera até a cidade de Alto Araguaia, passando antes pelo município de Alto Taquari, promovendo o desenvolvimento econômico e humano. Estes dois municípios estavam em processo de estagnação antes da chegada dos trilhos até suas terras e, hoje, apresentam um PIB per capita superior à média dos Estados Unidos, ou seja, de R$ 35 mil por habitante. Alto Taquari tem o
melhor PIB de Mato Grosso e Alto Araguaia o quarto. Se isso ocorreu em uma região que não apresentava antecedentes de desenvolvimento regional, então é possível imaginar o que essa ferrovia pode fazer pela Baixada Cuiabana, que agrega 13 municípios, numa região estratégica economicamente.
Por isso, é preciso garantir a implementação do trecho já previsto no PAC para a Ferrovia Senador Vuolo, entre Alto Araguaia e Rondonópolis e incluir, ainda no PAC, a construção do trecho Rondonópolis-Cuiabá. Feito isso, estarão implantados os trilhos do futuro e um resgate histórico de toda uma região que está situada no coração da América do Sul.
Eliene Lima é engenheiro civil e professor e atualmente exerce o mandato de deputado federal por Mato Grosso
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