A privatização da Malha Nordeste resultou num encolhimento do sistema ferroviário da região e numa piora do serviço prestado. Cortando sete Estados, a Malha Nordeste foi privatizada num leilão realizado pelo governo federal há 10 anos. A vencedora da licitação foi a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), que pertence à família do empresário Benjamim Steinbruck, um dos donos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Na época, a expectativa era de que a companhia realizaria novos investimentos, modernizando a ferrovia, que tinha uma extensão de 4.238 quilômetros.
Os grandes investimentos não ocorreram e a região deixou de ter uma ligação ferroviária com o Sudeste do País devido a uma cheia que ocorreu no ano 2000 e que danificou pontes e trilhos localizados entre Pernambuco e Alagoas. “Estamos isolados e não existe mais nem o trem do forró”, lamentou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), Jorge Corte Real. O trem do forró percorria os 118 quilômetros que ligam a cidade de Recife a Caruaru, no Agreste do Estado. Este trecho pertencia à linha tronco, que foi desativada, e ligava a capital até Salgueiro, no Sertão.
Os trilhos da antiga Malha Nordeste começavam na cidade de Propriá, em Sergipe, e iam até a cidade de São Luiz, capital do Maranhão.“Hoje, menos da metade do que foi privatizado está em funcionamento”, disse o presidente do Centro de Estudos do Nordeste (Cenor), Sebastião Campelo.
Embora o leilão tenha sido realizado em 18 de julho de 1997, a operação da malha pela CFN foi iniciada em janeiro de 1998. A partir daí, a empresa teria que cumprir metas de aumento na movimentação de carga, de redução de acidentes e também realizar investimentos para melhorar o estado da antiga Malha Nordeste, como estava previsto no contrato que estabelece a concessão por 30 anos.
De 1998 a 2004, a CFN não cumpriu as metas de aumento da quantidade de carga nem de redução de acidentes. Em agosto de 2005, o governo federal, via Agência Nacional de Transportes (ANTT), assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com a CFN reduzindo as metas que tinham sido fixadas no contrato de concessão.
“Há uma frustração do setor produtivo com a privatização da Malha Nordeste, porque não percebemos nenhuma ação proativa da CFN”, comentou, mais uma vez, o presidente da Fiepe. A ferrovia é importante para o setor produtivo porque faz com que os produtos sejam transportados de forma mais barata.
O Porto de Suape já deixou de receber um empreendimento na área de metalurgia. Ao saber que a sua matéria-prima não poderia sair do Sudeste e chegar à região de trem, a indústria desistiu do investimento. A argumentação foi de que a produção local não seria competitiva, caso fosse usado o transporte rodoviário.
Transnordestina não tem nem 10 km
A construção da ferrovia Transnordestina não conseguiu concluir os 10 primeiros quilômetros depois de um ano e um mês do início das obras, lançadas pelo presidente Lula. A ferrovia vai sair da cidade de Eliseu Martins, no Piauí, e vai até os Portos de Pecém (no Ceará) e de Suape. No total, ela terá 1.860 quilômetros, dos quais 905 quilômetros serão de linhas novas a serem construídas em Pernambuco, Ceará e Piauí. O trecho que foi iniciado tem 110 quilômetros e liga a cidade de Salgueiro, no sertão de Pernambuco, a Missão Velha, no Ceará.
A obra custará R$ 4,5 bilhões e será bancada, em mais de R$ 3 bilhões pelo Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), do extinto Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor), que acabou junto com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Apesar de a grande maioria dos recursos serem públicos, a responsável pela construção é a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN).
“As grandes dificuldades estavam nas desapropriações, que estão andando. As licenças ambientais são o maior gargalo”, disse o presidente da Companhia Ferroviária
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