A dificuldade para viabilizar economicamente o trem-bala entre São Paulo e Rio está emperrando o andamento do projeto de ligação entre as duas capitais por meio de um trem expresso. Um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem poucas chances de se efetivar, embora os governos de São Paulo e Rio trabalhem para isso. Outras alternativas seriam financiamento do Banco Europeu de Investimentos (BEI), instituição financeira da União Européia, ou contar com dinheiro da iniciativa privada.
Hoje, os governadores de São Paulo, José Serra, e do Rio, Sérgio Cabral, criaram uma comissão interestadual para acompanhar o desenvolvimento e implantação do projeto. Demonstrando pouco entusiasmo, Serra disse que “esse trem é uma fatalidade histórica, e vai acontecer algum dia”, ao ressaltar que a implantação é inevitável diante do desenvolvimento econômico das cidades.
Atrasado duas horas para a reunião por causa do fechamento do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, Cabral disse que seu exemplo ilustrava a necessidade do trem-bala. Ele conseguiu desembarcar em Viracopos e chegou à capital num helicóptero. Serra foi cético quanto à viabilidade econômico-financeira do projeto. “É preciso ver o volume de demanda e paradas no meio do percurso. Isso reduz a velocidade. Talvez, devemos ter um trem meia-bala”, disse. Cabral defendeu o uso da mesma linha para abrigar um trem sem paradas, direto entre São Paulo e Rio, e outro, com partidas a cada 20 minutos depois do trem-bala, que poderia parar em estações no meio do caminho.
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A demanda a que Serra se refere mostra que em 2015, quando a linha poderia estar em funcionamento se as obras começassem em 2008, 32 milhões de passageiros por ano estariam utilizando o meio de transporte entre São Paulo e Rio. Isso é equivalente a 89.300 passageiros/dia. Mas é preciso ainda convencer os possíveis passageiros a pagar os R$ 130 estimados da passagem para uma viagem de uma hora e meia sobre trilhos, ante ao custo de uma passagem aérea e uma viagem de avião que dura 50 minutos.
Os dois governadores esperam uma resposta do BNDES sobre o financiamento, que deve sair até março de 2008, e poderá contar com apoio de financiadores internacionais e até mesmo de fundos de investimentos estrangeiros e de pensões. “O fato do BNDES financiar (a obra) não significa que seja dinheiro público, é financiamento. O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, esteve com a gente recentemente e demonstrou que o Banco Europeu de Investimentos também pode financiar a obra”, explicou Cabral. Os governos italiano e coreano demonstraram interesse em investir no projeto.
O custo estimado para o trem bala brasileiro é de US$ 9 bilhões, ou algo em torno de R$ 18 bilhões, segundo projeto da empresa italiana Italplan. O projeto apresentado prevê a construção de 166 quilômetros de trilhos em superfície, 105 quilômetros de viadutos e pontes, além de outros 132 de túneis. A velocidade média da composição seria de 280 km/h. Para efeito de comparação, os 53 quilômetros do Eurotúnel, que liga a França à Inglaterra sob o Canal da Mancha, tiveram custo final de R$ 20 bilhões (R$ 40 bilhões).
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