A decisão política já foi tomada, e o governo estuda como tirará do papel o trem-bala que ligará São Paulo ao Rio de Janeiro. Em entrevista exclusiva ao JB, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, conta quais são as etapas a serem percorridas pelo Executivo para realizar a licitação da obra no ano que vem. Rebate as críticas ao projeto, e vaticina: “Será a maior contribuição do governo em termos de infra-estrutura de transporte de passageiros”.
Nascimento também revela quais serão as suas próximas ações. Depois do carnaval, decidirá qual será o destino da presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Os partidos da base aliada brigam para fazer a indicação. José Alexandre Resende, o atual presidente, é o último dirigente de agência reguladora em exercício nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A outra missão do ministro é concluir a redação da medida provisória que promoverá a integração da malha de bitola larga das ferrovias do país. A seguir os principais trechos da entrevista.
A novidade do ano no setor foi a inclusão do trem-bala no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo o projeto, 32,5 milhões de pessoas usarão o veículo e a passagem será de aproximadamente US$ 60. Há contestação sobre a viabilidade do projeto e sobre a demanda.
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– Cada um sai com uma tese diferente, mas o fato é que não temos especialistas sobre isso no Brasil. Qualquer coisa que se fale sobre o trem-bala é chute, até porque o país não tem experiência nesse tipo de transporte. O que nós temos de fato é um estudo de viabilidade econômica, um projeto executivo da obra e um projeto ambiental, feitos por um grupo italiano (Italplan). O governo não pode adotar a tecnologia italiana, mas pode adotar essas informações para chegar a um caminho para realizar uma licitação em que todas as tecnologias participem.
O governo já decidiu se será uma concessão à iniciativa privada ou terá de entrar com dinheiro para tirar a obra do papel?
– Na versão dos italianos, seria concessão. O Ministério dos Transportes e o Tribunal de Contas da União analisaram o projeto. Aparentemente, há a viabilidade para fazer a concessão. Como o governo resolveu que quer a obra feita, contratou uma consultoria internacional por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em agosto, o estudo de viabilidade econômica será concluído. Aí sim se poderá falar sobre as perspectivas desse projeto, se ele será totalmente concessão ou se com a inclusão do trecho entre São Paulo e Campinas precisará ter a participação do governo. Só com a conclusão dos estudos o governo vai ver qual caminho seguirá. Tudo que se fale agora são conjecturas ou especulações.
A projeção de demanda é realista?
– Estudos mostram que, se for a metade da demanda que está ali, há viabilidade. Se for um pouco menos, o governo teria que ter participação financeira. Ou ainda poderia não cobrar outorga ou energia, por exemplo. Isso aconteceu com a concessão de rodovias.
O senhor trabalha com que cronograma?
– A expectativa é de ainda no primeiro semestre do ano que vem fazer o leilão para a realização da obra. O que a gente tem ainda é muito vago. Mas, chama a atenção o fato de muitas empresas se interessarem por isso.
E se o estudo mostrar que há a necessidade de o governo entrar com dinheiro e realizar uma Parceria Público-Privada (PPP)?
– No entendimento do governo, vale a pena. Primeiro, esse é um transporte que contribuirá para resolver o problema dos meios já existentes. O transporte aéreo, por exemplo, vai ter a vida facilitada. A viagem entre Rio e São Paulo de avião dura mais ou menos 50 minutos. A viagem de trem será de um pouco mais de uma hora, mas a um preço bem menor. Será mais uma opção, além da viagem de ônibus.
O senhor não espera resistências das companhias aéreas?
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