São Paulo começará nas próximas semanas a implantar estacionamentos para estimular a integração do carro com a rede do metrô. Os primeiros serão nas estações Imigrantes, com 117 vagas, provavelmente entre Natal e Ano Novo, e Itaquera, com 587 vagas, no primeiro trimestre de 2009.
A idéia do governo paulista é que eles funcionem como bolsões de estacionamento a preços baixos para incentivar os motoristas a deixarem seus carros em regiões mais periféricas e a usarem a rede do metrô para acessar os bairros centrais de São Paulo, ajudando a atenuar os congestionamentos.
Para tanto, a tarifa do estacionamento dará direito a duas passagens -para a ida e a volta- correspondentes a R$ 4,80 no sistema metroviário. Essas passagens também poderão ser usadas nos ônibus municipais.
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Na estação Imigrantes, da linha 2-verde (ramal Paulista), os usuários vão pagar R$ 8,15 para estacionar por 12 horas, ganhando as duas viagens gratuitas no transporte coletivo.
Na estação Corinthians Itaquera, da linha 3-vermelha, a tarifa pelo mesmo período será de R$ 6,80, também com direito aos créditos equivalentes a duas passagens de metrô.
Em ambos os casos, quem exceder as 12 horas pagará R$ 1 pelos 60 minutos adicionais. Não existe desconto para quem quiser períodos mais curtos.
Segundo Cristina Bastos, chefe do departamento de negócios do Metrô, a intenção é implantar outros oito estacionamentos com esse mesmo modelo até 2010 (Bresser, Belém, Dom Bosco, Guaianazes, Tamanduateí, Marechal Deodoro e Brás, além de um segundo na estação Imigrantes).
Hoje já existem algumas garagens privadas anexadas às estações de metrô, mas sem vantagem tarifária -muitas com preços iguais aos dos demais estacionamentos da região.
O horário de funcionamento das garagens será das 4h30 à 1h30. Elas estão localizadas em áreas que pertencem ao metrô.
No caso da Imigrantes, o estacionamento fica a 100 metros da estação. Na Itaquera, fica a 500 metros. O metrô diz que haverá uma van gratuita, a ser oferecida pela prestadora do serviço, a Cia Park.
A empresa venceu a licitação, concluída há duas semanas, e vai ser remunerada por parte da tarifa do estacionamento. Em Itaquera, ganhará R$ 2 por veículo. Na Imigrantes, a quantia não havia sido revelada pelo metrô até ontem. O contrato firmado vale por 36 meses.
O sistema batizado de E-fácil contará com um cartão inteligente semelhante ao do bilhete único e que permitirá ao motorista utilizar seus créditos também para pagar as viagens de metrô, trens e até de ônibus.
O metrô não vai oferecer, porém, nenhum desconto diferenciado para quem quiser ser usuário mensal do serviço.
Cristina Bastos alega que a fórmula acertada não visava exclusivamente esse público. “É um valor muito atraente. No dia de rodízio, por que não deixar lá e seguir viagem?”
Quanto a atrair mais usuários num sistema superlotado, ela diz que a medida faz parte de um plano mais abrangente, de expansão do metrô.
A FAVOR: IDÉIA JÁ ERA PREVISTA NO PROJETO ORIGINAL DA REDE DE METRÔ
O especialista Jaime Waisman, professor da USP, aprova a criação de estacionamentos integrados às estações do metrô e afirma que a idéia já era prevista no projeto original da rede. Ele orientou uma tese de mestrado segundo a qual a expansão desse conceito teria “grande potencial de uso”. “As pessoas têm dificuldade no acesso ao centro, onde os estacionamentos, além de raros, são caros.” Mas Waisman reconhece as limitações. “De um lado, está sendo estimulado o uso de uma rede superlotada. De outro, porém, o usuário pode optar por não viajar na hora do pico.” Esse modelo, diz, é comum nos EUA e no Canadá.
CONTRA: DEVE SER PRIORIZADO TRANSPORTE COLETIVO EM TODO TRAJETO
O especialista Claudio Senna Frederico reprova a implantação dos novos estacionamentos e diz que a medida, semelhante a um modelo de integração dos EUA, difere do conceito predominante na Europa. A prioridade, para ele, não deve ser incentivar as pessoas a saírem de casa de carro e depois aderirem ao metrô, mas usarem transporte coletivo no trajeto inteiro. “Pode ter um efeito de tirar gente dos ônibus. Se oferece estacionamento subsidiado, quantos usuários de ônibus não vão preferir ir de carro? A visão é para satisfazer quem usa carro, quando a prioridade deveria ser quem anda de ônibus”, avalia.
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