Foi-se o tempo em que viajar de avião era um evento glamouroso, para o qual convinha vestir a melhor roupa – com aeroportos superlotados, ameaças de terrorismo e revistas inconvenientes, a viagem, hoje, costuma ser um estorvo puro e simples. Para aqueles que querem relembrar os dias em que viajar não era tão sofrido assim, as empresas especializadas decidiram investir em outra modalidade de transporte: o trem. Desde meados dos anos 80, quando o mítico Orient Express ressurgiu em sua rota Paris-Veneza, a oferta de trens de luxo disparou. Hoje, existem rotas em todos os continentes, e até o Brasil vem entrando discretamente nesse mercado. São centenas delas. Para dar ordem ao caos, a Sociedade Internacional de Viajantes de Trem (IRT, na sigla em inglês) divulgou em fevereiro uma lista das 25 melhores viagens de trem no mundo. A lista, organizada por continente, é feita para aqueles que, como escreveu o americano TS Elliot, estão mais interessados na viagem do que na chegada.
O conjunto pode ser separado em dois grupos. No primeiro, estão as viagens em que o mais impressionante é o luxo do próprio trem. Inaugurado em 2007 após um investimento de 25 milhões de dólares, o Golden Eagle Trans-Siberian Express é o primeiro trem privado da Rússia, e leva os passageiros de Moscou a Vladivostok, no extremo oriente do país. A viagem cruza a Sibéria em 14 dias e custa 15 995 dólares, algo como 37 000 reais. O preço é explicado pelo serviço de bordo. São 64 comissários para a lotação máxima de 132 passageiros. As cabines têm piso aquecido e acesso à internet. A boa notícia é que uma garrafa de vodca está incluída no preço. Na Índia, o enorme sucesso do Palace on Wheels, que tem lotação esgotada até 2010, fez com que o governo investisse no lançamento de outros trens. O Royal Rajasthan on Wheels, com capacidade para apenas 82 pessoas, tem 13 salões, foi inaugurado no ano passado e sai de Nova Délhi e passa pelo deserto no Rajastão. O passeio dura sete dias. A hospedagem na cabine mais luxuosa custa 2 000 dólares por noite.
O segundo grupo das 25 melhores viagens de trem do mundo é formado por aqueles em que o mais importante é a paisagem, não o trem. É o caso da rota de um dia que o Flam Railway traça pelos fiordes da Noruega. Em alguns pontos da viagem, o trem fica debruçado sobre fiordes de 865 metros de altura. Um dos dois representantes da África na lista da ITR, o Rovos Rail percorre a África do Sul, da Cidade do Cabo até Pretória. Um aspecto diferencia o Rovos dos concorrentes: o trajeto pode ser alterado, e seguir para qualquer linha de trem do naco sul do continente, a pedido de grupos que preencham os 72 lugares do trem. Um dos roteiros mais populares é o Golf Safari. Durante nove dias, o trem passa por campos de golfe espalhados pela África do Sul e a vizinha Suazilândia. O pacote na cabine mais modesta custa 3 875 dólares pelos nove dias. Uma viagem a bordo do Rovos Rail evoca o glamour da era das viagens de trem do início do século passado, diz David Patrick, executivo da Rovos Rail.
Diante da demanda por esse tipo de viagem, até mesmo o Brasil, país conhecido por sua crônica falta de ferrovias, criou seu primeiro trem de luxo. O Great Brazil Express foi inaugurado há um ano, numa viagem pelo que resta de mata Atlântica no Paraná. Hoje, o pacote completo dura nove dias, sai do Rio de Janeiro em direção a Foz do Iguaçu e custa 3898 euros por pessoa. Os preços são fixados em euros em razão de uma peculiaridade. Assim como acontece na Índia, o trem de luxo brasileiro é feito para estrangeiros, e não para os locais. Cerca de 80% dos passageiros são europeus. O resto vem basicamente de Ásia, Estados Unidos e Austrália. O projeto é resultado de um investimento de 2 milhões de reais do grupo brasileiro Serra Verde Express e da belga Transnico International. Das cinco viagens que o Great Brazil já fez, apenas duas tiveram acomodação máxima de 44 pessoas. Os responsáveis pelo negócio esperam que as cabines comecem a lotar a partir do ano que vem.
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