Nada como uma estação de metrô perto de casa para se livrar dos ônibus desconfortáveis ou dos engarrafamentos. A ideia está no discurso ou no imaginário de muita gente. Na prática, não é bem assim.
De um lado, está cada vez mais difícil e incômodo entrar no metrô de São Paulo no começo da manhã ou final da tarde. Em 2008, a superlotação dos trens continuou a crescer em toda a rede. Na linha 3-vermelha, passou de 8,7 para 9,2 passageiros por m2 nos picos –contra um limite tolerado de 6 por m2 na maioria dos países.
De outro lado, apesar da crescente demanda, a distribuição dos usuários nas linhas de metrô é bastante desigual. São Paulo tem há anos estações extremamente vazias.
Primeiro, dizem os técnicos, porque parte delas foi aberta em lugares de pouco movimento. Segundo porque não adianta ser vizinho de uma linha de metrô se ela não levar a pontos estratégicos. Terceiro porque muito paulistano resiste em deixar seu carro na garagem.
Vazio
As duas primeiras justificativas ajudam a explicar a posição da estação Vila das Belezas (zona sul), inaugurada em 2002 na linha 5-lilás, como a primeira no ranking das que menos recebem passageiros na catraca. No ano passado, ela atraiu só 4.000 usuários na média dos dias úteis. É menos do que oito ônibus da cidade carregam em um dia. A estação teria capacidade para abrigar sua demanda em menos de duas horas.
A Vila das Belezas não está sozinha entre as plataformas que contrastam com as da Palmeiras-Barra Funda (194 mil por dia) ou da Luz (106 mil). Na linha 2-verde, a Sumaré, que existe desde 1998, recebe só 11 mil passageiros diariamente. Na linha 1-azul, apenas 12 mil passam nas catracas da antiga Carandiru -inaugurada em 1975. Com uma área construída semelhante, a São Joaquim recebe três vezes mais.
O especialista Peter Alouche considera que a condição desigual de estações supervazias e outras superlotadas tende a ser atenuada com a expansão da malha, hoje restrita a 61,3 km.
A demanda costuma ser projetada para a rede completa. Quando a linha 4 [Luz-Vila Sônia, em obras e prevista para 2010] estiver pronta, haverá um equilíbrio maior, afirma.
Uma das razões é que a 4 será interligada a três linhas (1, 2 e 3) e ainda atrairá passageiros da linha 5 por meio de conexão na estação Pinheiros da CPTM.
O professor da USP Jaime Waisman vê problema de planejamento e desperdício de recursos pelo fato de um bem público que custa milhões ficar ocioso por vários anos. Ele lembra que há carência de metrô em muitas regiões. E, se por algum motivo, uma linha tiver que passar por bairros esvaziados, considera fundamental haver parcerias com a prefeitura para incentivar a ocupação do solo nas imediações.
Outro lado
O Metrô diz que seu plano de expansão em andamento irá reduzir tanto a superlotação dos trens nos picos como a ociosidade de algumas estações. O projeto do Estado abrange, por exemplo, a construção da linha 4-amarela (Luz-Vila Sônia) e os prolongamentos das linhas 2-verde (até a Vila Prudente) e 5-lilás (até Campo Belo), previstos para 2010, além da compra de 47 novos trens.
Segundo a gestão José Serra (PSDB), essas medidas aumentarão a oferta de lugares e reduzirão os intervalos entre os trens -atenuando a superlotação que subiu principalmente após a integração do bilhete único dos ônibus com a rede do metrô.
Wilmar Fratini, gerente de operações da companhia, diz que enquanto não ocorre a expansão da rede foram adotadas medidas para melhorar a situação das estações superlotadas, incluindo a contenção de passageiros nas catracas (para evitar tumulto nas plataformas) e a instalação de organizadores de embarque (metais para delimitar a fila de entrada nos vagões).
Ele afirma, que, apesar do aumento da demanda –da faixa de 1,7 milhão de entradas para 2,3 milhões por dia nos últimos dois anos–, foram mantidos os padrões de velocidade e demora das composições.
O Metrô diz que a quantidade de usuários em cada uma das 55 estações depende de fatores como localização, integração com outros modos de transporte e proximidade de pontos de interesse (hospitais e escolas, por exemplo).
Para Fratini, a ociosidade de estações como a da Vila das Belezas não significa falta de planejamento. Quando se faz um projeto, é preciso olhar para um futuro de dez, de 15 anos. Há rearranjos ao longo do tempo. A linha 5 hoje não está completa ainda. A rigor, não está conectada na rede, afirma.
O gerente de operações do Metrô diz que mais importante é haver uma malha disponível, independentemente de algumas estações terem baixa demanda.
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