Atualmente seis milhões de passageiros são transportados por dia pelos sistemas metroferroviários em operação, em todo o País. Segundo Marcus Quintella, Mestre em transportes pelo IME (Instituto Militar de Engenharia) e Diretor técnico da CBTU, este número representa apenas 5% do total de pessoas que utilizam o transporte público diariamente no Brasil.
“Quando se analisa o transporte de massa a ferrovia é a melhor opção. Somente o metrô, o trem e o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) têm capacidade para transportar um grande número de usuários por hora”, aponta.
Segundo ele, há alguns anos, pouco se falava do potencial das ferrovias para a movimentação nas cidades. No entanto, hoje o cenário é diferente. “Cidades relativamente pequenas, como Caxias do Sul (RS) e São Bernardo do Campo (SP), querem viabilizar sistemas metroferroviários, pois perceberam os benefícios da ferrovia”, argumenta.
E complementa: “os trens devem ser o coração do sistema de transporte. Os outros meios de locomoção podem auxiliar, tendo a função de ‘alimentadores’ do sistema metroferroviário”.
Gargalos
Especialista aponta que é preciso expandir a malha de forma planejada e viável
De acordo com o especialista, embora o cenário tenha sofrido modificações e a ferrovia tenha ganhado destaque entre os meios de transporte, pelo menos quanto ao planejamento deles, ainda há muito o que ser feito.
“A cidade de São Paulo, que é a principal metrópole do País, tem investido forte em ferrovia, no entanto, nos próximos dez anos verá sua malha passar de 60 para 80 quilômetros, o que é pouco para a magnitude da capital”, pondera.
O especialista aponta que este volume é praticamente igual ao que a cidade de Recife, no Pernambuco, possui. “São sistemas diferentes, a malha paulista atende muitos pontos da cidade, no entanto, o total de quilômetros é o mesmo”, detalha.
Quando o assunto são os investimentos necessários na malha ferroviária, Quintella aponta que embora muitos profissionais da área afirmem que o sistema metroferroviário tenha uma implantação cara, os benefícios são maiores que o custo. E foi incisivo ao dizer que o transporte público não é para gerar lucro financeiro e sim social.
“Todos os grandes investimentos públicos devem proporcionar lucro social que nada mais é que benefícios, bem estar social, economia de tempo na locomoção, diminuição de poluentes no meio ambiente, redução de acidentes com vidas humanas, retirada de veículos das ruas, oferecendo um transporte de qualidade, maior conforto e segurança”, argumenta.
E destaca: “quando se ‘monetariza’ isso, percebe-se os reais benefícios do sistema metroferroviário. O lucro obtido pela cobrança de tarifa não é retorno de investimento público”.
Malha eficaz
Questionado sobre o tempo e quantos quilômetros seriam necessários para tornar o sistema metroferroviário brasileiro eficiente, Quintella diz: “ podem ser necessários 20, 30, 50 anos para o Brasil possuir uma boa malha, mas pode ser que continue assim, tudo dependerá dos investimentos destinados ao setor”.
“Além disso, o volume de linhas implantadas não é o fator determinante para que isso aconteça e sim a forma como elas são feitas, pois a construção pode acontecer de maneira errada que não atenda as verdadeiras necessidades de cada cidade”.
Quintella explica que “o sistema metroferroviário deve estar onde há o maior crescimento da cidade, um volume maior por demanda; é preciso estudar como estas linhas serão alimentadas e a viabilidade para poder ter um sistema eficiente”.
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