As ferrovias brasileiras, para se manterem nos trilhos, investem em capacitação profissional. Com o crescimento do mercado e as novas tecnologias, as empresas mantêm convênios com universidades e escolas técnicas para a formação de sua mão de obra. A MRS Logística, uma das maiores concessionárias ferroviárias do país, aplica por ano cerca de R$ 8 milhões em aperfeiçoamento profissional. O diretor de recursos humanos da companhia, Félix Lopez Cid, ressalta que não há no Brasil escolas especializadas em formação profissional para ferrovias.
“Não é como o profissional para o transporte rodoviário, que tem cursos autorizados pelos órgãos competentes. Temos que formar nossa mão de obra e, com o crescimento do mercado e as novas tecnologias, profissionais qualificados são imprescindíveis para o bom andamento do nosso negócio”, afirma o executivo.
Há seis anos, a MRS mantém a Academia MRS, que já formou mais de 400 maquinistas e operadores. Além disso, 800 profissionais passam por ano nos cursos de qualificação da empresa. “É uma escola que atua em todos os cargos, mas temos uma atenção na formação de maquinistas e operadores, pois no Brasil não há curso para este tipo de profissional”, diz Lopez Cid. O executivo acrescentou que, por ano, cada funcionário tem que cumprir uma carga horária de cem horas. “São cursos de reciclagem.”
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Já a América Latina Logística (ALL) investe cerca de R$ 11 milhões por ano em qualificação profissional. O coordenador de desenvolvimento de gente, Rodrigo Paupitz, disse que a empresa mantém há dez anos uma universidade corporativa para a formação de mão de obra especializada. “Mesmo em tempos de crise sempre priorizamos essa área, já que não há curso de formação no mercado.”
Por ano, segundo o executivo, são formados 200 maquinistas e cerca de 400 operadores. “Dentro dessa iniciativa, a ALL também lançou uma pós-graduação em engenharia ferroviária. Queremos nosso profissional cada vez mais qualificado”, acrescenta Paupitz.
A Vale do Rio Doce também ministra cursos para formação profissional. Atualmente, estão sendo ofertadas 60 vagas para curso de pós-graduação com aulas em Belo Horizonte e São Luís (MA). O programa quer formar mão de obra na área de mineração, porto e ferrovia.
Para o curso de maquinista e operador na MRS não é exigido nenhum tipo de especialização do candidato, mas a empresa só oferece formação para seu próprio quadro de funcionário.
Fernando Germano da Cunha, 24, é um dos profissionais formados pela Academia MRS. Ele largou a profissão de técnico de informática para ingressar há quatro anos na escola de formação de maquinista. “Vi uma forma de melhorar de vida e, agora, reconheço que fiz a escolha certa”, diz Cunha.
Competitividade
Para manter a competitividade no mundo dos negócios, as empresas brasileiras precisam investir em capacitação de seus funcionários. Mas, segundo o consultor do Idort/SP, David Carlessi, essa prática ainda está muito aquém de países concorrentes, como China e Índia. Segundo ele, no Brasil, somente as grandes empresas reservam capital para o aperfeiçoamento dos seus profissionais.
“Isso ainda é muito pouco difundido no Brasil. Além disso, não há incentivos para que os investimentos em pessoal sejam mais frequentes. E isso esbarra na competitividade de nossas empresas. Se elas não têm capital humano adequado para o mercado, não há como crescer”, disse David Carlessi.
O consultor acrescentou que 80% da mão de obra do país está concentrada em micro, pequenas e médias empresas e, com isso, não há investimentos em qualificação profissional.
“No Brasil, só as grandes corporações têm essa cultura, ao contrário da China e da Índia, que se preocupam muito em formar pessoas. E esse é o caminho para o desenvolvimento de um país”, acrescentou o consultor.
Pensando nisso, o laboratório Hermes Pardini, que atua em Belo Horizonte, vai inaugurar um curso de especialização para seus profissionais. O Núcleo Técnico Operacional (NTO), laboratório modelo na América Latina, vai começar a operar em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte.
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