A Namisa, mineradora de ferro que a CSN criou dois anos atrás e transferiu há quase um ano 40% do capital a um consórcio asiático de usinas de aço liderado pela trading japonesa Itochu, começa a pôr em prática seu plano de investimento superior a R$ 4 bilhões. A meta da empresa, que foi capitalizada em mais de R$ 7 bilhões no fim de 2008 com o aporte dos sócios, é alcançar venda de 39 milhões de toneladas de minério em 2013.
Para comandar esse plano, Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da CSN, escalou o brasileiro-americano Charles Laganá Putz, executivo de 48 anos com passagens pelos setores de papel, embalagens plásticas e telefonia. Putz chegou à CSN em novembro de 2007 como assessor especial da presidência da siderúrgica e acompanhou de perto a operação de venda dos 40% da Namisa. O negócio foi anunciado em outubro e concluído no apagar das luzes de 2008 por US$ 3,08 bilhões.
A nova estrutura da empresa, com a entrada da Big Jump Energy Participações, garantiu principalmente logística de escoamento da produção. A CSN transferiu para a Namisa 10% de sua participação no capital total da ferrovia MRS e firmou contrato de prestação de serviços portuários no terminal de Itaguaí (RJ). Os integrantes da Big Jump – a Itochu e seis siderúrgicas: Nippon, JFE, Sumitomo, Kobe e Nisshin (Japão) e Posco, da Coréia do Sul – asseguraram ainda suprimento de minério de Casa de Pedra, megajazida de ferro operada pela CSN. Pelos serviços de logística e minério, já pagou adiantado US$ 3 bilhões, em contrato com 35 anos de vigência.
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Atualmente, a Namisa opera duas minas – Engenho e Fernandinho – e duas instalações de beneficiamento na região de Congonhas (MG), próximo de Casa de Pedra. Neste ano, a produção prevista é próximo de 9 milhões de toneladas. Somando aquisições de minério de terceiros, o plano de venda é de 14,5 milhões de toneladas. Putz informa que o volume era maior, mas foi revisado devido à retração da demanda por conta da crise.
A empresa projeta receita líquida para este ano de R$ 1,5 bilhão, 40% superior à de 2008, quando vendeu 9,5 milhões de toneladas. Os mercados alvos da mineradora, agora e quando estiver à plena capacidade, são a Ásia – China e os sócios, que levam seu “take” -, e a Europa. “A grande parte das vendas serão em contratos de longo prazo, a preços de mercado (benchmark)”, informa o executivo. Com redução de 28% neste ano nos preços, a tonelada do minério fino ficou em torno de US$ 65 (FOB portos no Brasil).
Para dar o grande salto de expansão, a Namisa vai contar com fornecimento de minério de Casa de Pedra a partir de 2013, o correspondente a 20 milhões de toneladas de produto acabado. Para beneficiar o material que virá em bruto da CSN, será montada uma instalação, a partir de 2010, em terreno de um distrito industrial ao lado de Casa de Pedra. A previsão é ficar pronta até fim de 2012.
Em seu plano, a Namisa prevê construir duas fábricas de pelotização, cuja função é transformar minério superfino gerado na mina em pelotas. Com elevado teor metálico e alto valor de venda (cerca de US$ 80 a tonelada), a pelota alimenta altos-fornos e fornos movidos a gás. Cada unidade terá capacidade para 6,5 milhões de toneladas e ambas ficarão juntas das instalações de beneficiamento. Uma delas já está com o terreno preparado para receber as obras e deve iniciar operação no início de 2012.
Os investimentos, informa Putz, serão sustentados com recursos próprios e financiamentos a serem buscados no BNDES e no JBIC, banco japonês de fomento. “A Namisa é uma empresa que terá uma forte geração de caixa”, afirma o executivo. Mineradoras de ferro em geral obtêm margens de resultado operacional acima de 50%. Como a empresa já pagou adiantado boa parte de seus custos, agora, mês a mês, só completará o residual.
“A Namisa é hoje uma das dez maiores empresas privadas do país em patrimônio líquido, com R$ 8,5 bilhões”, diz Putz. Encerrado o programa de investimento, a empresa terá produção de 33 milhões de toneladas (13 milhões com minério de suas minas, que serão ampliadas, e 20 milhões de material oriundo de Casa de Pedra). O volume total será completado com 6 milhões de toneladas de pequenas produtoras de ferro vizinhas. No próximo ano, começa também a recuperar minério de barragens na região. O produto final da Namisa terá teor médio de quase 65%.
A mineradora já montou um escritório de vendas na Ilha da Madeira, que atuará na Europa, e está em fase de instalação de outro em Hong Kong, na China, voltado para a Ásia. Para este último, já contratou um diretor brasileiro, com experiência na região.
A Namisa faz parte da estratégia de Steinbruch de tornar a CSN uma produtora de 90 milhões de toneladas de minério por ano dentro de quatro a cinco anos.
Com sede em São Paulo, a empresa terá diretoria-executiva própria. Putz contará com diretores de operações, comercial, administrativo e jurídico e vai acumular a área financeira. A vice-presidência da Namisa ficou com a Itochu, que indicou Hironori Makanae, que já viveu alguns anos no Brasil. O conselho de administração, presidido por Steinbruch, tem nove membros: cinco da CSN. Os sócios majoritários – Itochu, Nippon, JFE e Posco – terão um membro cada.
O presidente da Namisa é formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e tem MBA no IMD, escola de negócios suíça. Na telefonia, passou por Telefônica e Brasil Telecom (fase de reorganização societária).
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