O analista de sistemas Fabio Cristofalo, 47, acabou comprando “um carro mais velhinho”. A servidora Elizabeth Sanches Glielmi, 56, decidiu dividir as despesas de gasolina e estacionamento com os amigos. E há quem tenha utilizado até táxi – caso da secretária-executiva Rosângela de Biasi Oliveira, 50- como alternativa à restrição aos ônibus fretados imposta pela Prefeitura de São Paulo desde segunda passada.
A Folha fez na última quinta e sexta entrevistas com 200 usuários desse tipo de transporte coletivo para obter relatos e identificar como eles se viraram na primeira semana de veto ao fretamento em 70 km2 do centro expandido, medida polêmica implantada pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM).
A sondagem verificou que: 1) um terço diz já ter aderido ao automóvel para ir trabalhar; 2) quase metade deixou de usar os fretados ao menos em algum dia; 3) entre os que seguem com esse transporte, há queixas praticamente unânimes.
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Além da demora adicional de 50% no tempo de viagem (de 60 para 90 minutos, na média) devido às modificações em trajetos e aos congestionamentos fora da área de restrição, quase todos reclamam de ter que caminhar agora “quilômetros”.
Os fretados passaram a parar em espaços limítrofes e seus passageiros têm que “andar e andar”, conforme as palavras da secretária Carla Michels, 42, que vive na zona norte e trabalha na zona sul. “Tive que providenciar um kit básico tênis e capa de chuva.”
“Após descer do ônibus caminho por 30 minutos por ruas com calçadas obstruídas, muitas sem semáforo para travessia, e ainda chego atrasada no trabalho”, reclama Érica Moreira de Souza, 27, que usa fretado no trajeto de Santo André (ABC paulista) ao Itaim Bibi.
Pistas comportamentais
A sondagem por e-mail feita pela reportagem com usuários de fretamento de diversas regiões da Grande SP não tem nenhum rigor estatístico, mas fornece pistas comportamentais que podem abalar a pretensão da prefeitura de melhorar a fluidez do trânsito em 11%.
Isso porque, se a adoção do transporte individual predominar, a tendência é que as ruas recebam mais automóveis e que a lentidão somente fique pior no médio ou longo prazos.
A estimativa da prefeitura é que havia 40 mil passageiros de fretados na área de restrição.
Além dos 54 entrevistados que já dizem ter usado carro próprio nos primeiros dias e outros 14 que compartilharam uma carona, são muitos os que afirmam ter essa intenção.
Técnicos afirmam que é cedo para avaliar os impactos da restrição aos fretados no trânsito, inclusive devido às variáveis como férias escolares e dias de chuva. Na última semana, houve momentos de lentidão pior que a média e diversos outros em que ela esteve melhor.
O levantamento da Folha indica a resistência dos passageiros em migrar ao transporte público. Dezenas dizem que não vão para os ônibus comuns ou trem “de jeito nenhum”, por falta de qualidade e de oferta.
Mas, mesmo que “à força”, 50 dos 200 entrevistados já tiveram que usar esse transporte -a maioria como maneira de baldeação com os fretados.
“Transporte público? Piada, né? Se eu tiver que desistir do fretado infelizmente tenho que parar de trabalhar nessa região”, afirma Carla Michels.
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