É difícil comparar a eficácia de um sistema de transporte entre dois países com características muito diferentes, principalmente quando uma dessas variáveis se refere, primordialmente, à infraestrutura física. Mas, se tratando de China e Brasil, o fato é que a tecnologia do sistema de transporte brasileiro tem contribuído, e muito, para o desenvolvimento de um tráfego eficaz no país mais populoso do mundo.
João Carlos Scatena, engenheiro civil e consultor na área de transporte público, trabalha na China em estudos para melhorar o sistema de transporte local. Segundo ele, lá “o sistema de transporte coletivo é bom, mas não é muito eficiente econômica e operacionalmente, o que diminuiria o custo do sistema”, considera.
O primeiro ponto parte do fato de que as cidades chinesas, na maioria, são planas e as quadras são de 800 metros por 800 metros, com uma parada de ônibus cada uma – o que torna o percurso a pé grande para o cidadão que se locomove por meio desse veículo.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Isso também faz com que o sistema das viagens do transporte coletivo seja menor e custe menos no país; uma tarifa de ônibus fica na casa dos R$ 0,25 – comparando com o valor em real -, mas vale lembrar que o ganho financeiro dos chineses também é bem menor.
No país, 50% das viagens são feitas a pé ou de bicicleta, 35% de transporte coletivo e 5% de transporte individual, “cuja produção está crescendo rápido e já ultrapassou a dos Estados Unidos”, observa Scatena, que complementa: “uma vantagem é que na China o carro custa muito barato”, diz. A questão, no entanto, tem se tornado uma preocupação ao governo chinês, que prevê um caos no tráfego se os chineses resolverem a optar por transporte individual.
Um dos estudos que está sendo desenvolvido pelo engenheiro contempla a cidade de Jian. Na pequena cidade, que tem seis milhões de habitantes, o especialista faz um levantamento para a implantação e expansão do BRT e treina uma equipe no local para o viabilizar o projeto.
Atualmente, as características do sistema de transporte de Jian agregam quatro corredores de ônibus (BRT) – de aproximadamente 35 quilômetros -, 170 linhas de ônibus e a locomoção de dois milhões de passageiros por dia.
A comunicação é eficaz – ao parar no ponto o ônibus informa: o nome da linha, o destino final e as próximas duas paradas. No entanto, o acúmulo de passageiros na parada é grande, “o ônibus circula com velocidade média de 12 quilômetros por hora. O sistema BRT circula um pouco mais rápido – 18 quilômetros por hora”, conta o engenheiro.
Os estudos se estendem até Chengdu, que também possui hoje seis milhões de habitantes. No local, Scatena planeja a reestruturação da rede de transporte coletivo, com faixas exclusivas para ônibus, uma linha de metrô e projeta a expansão do sistema ferroviário com outras três linhas.
Já em Chongqing, cidade maior com 30 milhões de habitantes, os gargalos a serem resolvidos são maiores. O sistema viário é irregular e em curvas de nível, e um dos principais problemas, segundo Scatena, é a transposição dos rios que foi feita em extensas pontes.
Na região, que conta com 410 linhas de ônibus e uma linha de monotrilho, o sistema de transporte transfere 5,7 milhões de passageiros por dia. Em Chongqing, os terminais urbanos também são poucos e precários. Apesar de outras três linhas de monotrilho estarem sendo construídas, Scatena objetiva melhorar a gestão e implementar um serviço de transporte coletivo para aprimorar o sistema de transporte.
De acordo com ele, a premissa é “otimizar o sistema e cortar o que é supérfluo. Se a velocidade média (dos ônibus) passar de 12 km/h para 15 km/h, a eficiência aumentaria em 20% e a frota poderia ser diminuída em 15%, cortando ônibus velhos e pouco eficazes”, observou. “O custo de capital seria cortado em 10%. O problema é que a China não tinha tecnologia para isso”, complementa.
Monotrilho
O monotrilho em operação na cidade foi projetado para seis carros, mas atualmente opera com quatro carros, contou o engenheiro. O sistema transporta 18 mil passageiros por dia, o que é considerado muito pouco por Scatena. “Esse sistema está crescendo muito devagar”, diz.
Uma solução apontada por ele que deve contribuir de forma eficaz para o sistema de transporte chinês é integração da tarifa de transporte – ônibus e trem. Embora o país tenha a comodidade do “cartão de transporte”, que armazena moeda e pode ser usado para pagar ônibus, táxi e metrô, a integração do transporte é urgente para a China, considera o engenheiro.
Seja o primeiro a comentar