Por mais que os produtos sejam idênticos, o agricultor de Sorriso, no norte do Mato Grosso, recebe por sua soja hoje um valor 30% menor que o colega de Ponta Grossa, no Paraná. A brutal diferença de preços pode colocar as contas no azul, e as do outro no vermelho, dependendo da safra. “Essa diferença equivale, essencialmente, ao custo do frete, com base na distância do porto”, explica o analista de mercado Robson Silva Campos, da consultoria AgRural, de Curitiba.
A influência da logística de transportes sobre a competitividade das commodities é tão grande que o recapeamento de uma estrada ou a chegada de uma ferrovia a uma região produtora pode aumentar os preços recebidos pelos produtores. Mais que isso: a logística pode permitir a produção em áreas antes consideradas inviáveis.
É justamente com base nesse poder da logística sobre as commodities que a Vale define suas estratégias comerciais e de investimento em ferrovias. Grande operadora de linhas férreas, a mineradora transportou 6,5 milhões de toneladas de grãos no ano passado. A previsão para 2010 é elevar esse volume em 34%, para 8,8 milhões de toneladas.
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Fronteiras agrícolas
A estratégia da Vale para crescer não é tanto levar sua malha para as regiões produtoras,e sim atrair a atividade agrícola para perto de suas ferrovias. “A grande vantagem da Vale é que temos musculatura para investir esperando os volumes crescerem nas áreas de fronteira agrícola, como as da Ferrovia Norte-Sul (FNS)”, afirma o diretor de comercialização de logística, Marcello Spinelli.
O crescimento da movimentação de commodities virá dos investimentos de US$ 2 bilhões em logística em 2009. Neste ano, serão mais US$ 2,6 bilhões. A empresa está construindo a Norte-Sul, entre Tocantins e Maranhão, na qual começará a transportar grãos nesta safra. Também está duplicando a Estrada de Ferro Carajás, que liga a principal mina de ferro da empresa ao porto de São Luís (MA), passando pela FNS. “O minério de ferro tem grande densidade e é o tipo de carga que paga os investimentos em logística muito rapidamente”, diz o executivo.
As projeções são de grande crescimento da produção agrícola justamente nas regiões em que a Vale domina o transporte ferroviário – Maranhão, Piauí e Tocantins. Hoje o porto de Tubarão (ES) recebe a grande maioria dos grãos transportados pela Vale, originário de regiões produtoras maduras, como Goiás e Triângulo Mineiro. “mas em cinco anos o porto de São Luis (MA) deve superar Tubarão nos embarques de grãos”, prevê Spinelli. Em 2010, Tubarão responderá por 6,2 milhões das 8,8 milhões de toneladas de grãos que a Vale prevê transportar.
Ganho nos preços
Outro projeto que vai contribuir para o aumento dos volumes transportados é a reativação do ramal ferroviário de Pirapora (MG), dentro da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). A expectativa é movimentar 650 mil toneladas de grãos por esse ramal neste ano. Em 2013, o projeto deverá transportar 3 milhões de toneladas de grãos até o porto de Tubarão. “É óbvio que essa soja toda ainda não existe na região, mas nossa melhor propaganda foi o preço da saca subir 15% por conta da chegada da ferrovia”, afirma Spinelli.
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