Há 150 anos, os norte-americanos trouxeram os chineses para construir as primeiras linhas ferroviárias no oeste do país. Hoje, porém, a situação se inverteu: a China voltou para os Estados Unidos, dessa vez para fornecer tecnologia, equipamentos e a engenharia dos modernos trens de alta velocidade.
O governo chinês assinou uma acordo com o estado da Califórnia e a General Eletric para auxiliar na construção das novas linhas. Os acordos, ainda preliminares, mostram o desejo da China se tornar o maior exportador e licenciador de trens-bala, que correm a mais de 300 km/h, uma tecnologia favorável ao meio ambiente que os chineses adotaram em seu país.
“Estamos muito avançados em diversos segmentos, e queremos compartilhar tal conhecimento com os Estados Unidos”, disse Zheng Jian, diretor da alta velocidade ferroviária chinesa.
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O governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, acompanhou de perto o progresso das discussões com a China e espera ainda a oportunidade para conversar com funcionários do Ministério Ferroviário, disse David Crane, conselheiro especial do governador para assuntos relacionados à empregabilidade e crescimento econômico, e membro do California High Speed Rail Authority.
Porém, os chineses não são os únicos interessados em fornecer tecnologia de alta velocidade aos EUA. Disputam o projeto países como França, Alemanha, Itália, Japão, Coréia do Sul e Espanha.
O Ministério Ferroviário também fechou um acordo para licenciar sua tecnologia para a GE, líder mundial em locomotivas a diesel, porém a empresa tem pouca experiência no desenvolvimento de máquinas para alta velocidade. De acordo com a GE, o acordo prevê que pelo menos 80% de qualquer locomotiva e equipamentos de controle seja de fabricação nacional, e o acabamento seria realizado também nos EUA, em prol de seu próprio mercado. A China, por sua vez, licenciaria apenas 20% de sua tecnologia, incluindo engenharia.
Os chineses começaram a traçar rotas de alta velocidade na Turquia, Venezuela e Arábia Saudita. Ainda procuram oportunidades em outros sete países, principalmente o Brasil, que possui um projeto de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro.
Especialistas ferroviários internacionais dizem que os chineses são mestres na tecnologia de alta velocidade, construindo com rapidez e baixo custo.
“Eles sabem fazer acontecer – sabem como construir um trem rapidamente e demonstrar bom resultado operacional”, disse John Scales, especialista líder em transportes, no seu escritório do Banco Mundial em Pequim.
O projeto do TAV da Califórnia custará US$ 45 bilhões, sendo entre US$ 10 bi a US$ 12 bi investidos pela iniciativa privada. Crane acredita, porém, que os chineses podem financiar bem mais do que esta quantia. “Eles possuem muito capital, e demonstram isso”, afirma.
Para se ter uma idéia, a GE afirma que os Estados Unidos investirá US$ 13 bilhões em tecnologia ferroviária nos próximos cinco anos. A China, em apenas três anos, desembolsará US$ 300 bilhões em seus trens e infraestrutura, sendo boa parte do montante para a alta velocidade, afirma a GE.
Até mesmo para os trens da Amtrak, que são antigos e lentos, e uma viagem entre Nova York a Boston ou Atlanta, e qualquer outra rota semelhante, leva entre 18 a 19 horas, os chineses afirmam: “Temos tecnologia para qualquer serviço ferroviário que os americanos precisarem”.
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