Nos últimos meses, especialistas do Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado (Condephaat) vistoriaram dezenas de antigas estações ferroviárias do interior de São Paulo. Além da importância histórica, avaliaram aspectos arquitetônicos, urbanísticos e ambientais. E pretendem pelo menos triplicar o número de bens tombados até o fim do ano, acelerando os processos – atualmente, são 17, quatro na capital.
Segundo a presidente do Condephaat, Rovena Negreiros, as ferrovias são responsáveis pelo atual desenho da urbanização no Estado, pois incentivaram a ocupação do território e a formação das cidades. Também estão ligadas à imigração, ao processo de industrialização e à consolidação dos eixos de exportação, sobretudo do café. Estamos olhando a linha inteira e mapeando os bens que podem ser preservados.
O inventário abrange as principais ferrovias antigas de São Paulo: São Paulo Railway, Mogiana e Sorocabana, Cia. Paulista, Noroeste, Central do Brasil, Bragantina e Araraquarense. Estamos olhando a importância que as vias tiveram no contexto regional e avaliando quais estações, equipamentos e instalações são relevantes e passíveis de preservação, explica.
A iniciativa inverteu o processo usado para o tombamento. Em vez de esperar os pedidos encaminhados pelas prefeituras e órgãos de preservação ferroviária, os técnicos vão a campo fazer o levantamento.
Precariedade. Nas vistorias, constataram que a maioria das construções está em condições precárias. Nenhuma estação foi avaliada em ótimo estado e apenas sete foram consideradas em bom estado – entre elas, Americana, Andradina e Jaguariúna.
Em Botucatu, a equipe da historiadora Leonora Portela de Assis, da Unidade de Proteção do Patrimônio Histórico (UPPH), encontrou o prédio construído em 1934 em estado de abandono. Apenas neste ano, a Rede Ferroviária Federal transferiu o conjunto para a prefeitura. Outro grupo esteve na estação de Santa Cruz do Rio Pardo, projetada por Ramos de Azevedo, em 1908, e constatou sinais de deterioração.
Patrimônio. Restam mais de 200 estações ferroviárias no interior do Estado, mas apenas 13 são tombadas. A estação de Mairinque, projetada pelo arquiteto Victor Dubugras e inaugurada em 1906, é considerada a primeira construção modernista do País – e pioneira no uso do concreto armado. A estação de Cachoeira Paulista, de 1877, foi a ligação entre as estradas de ferro D. Pedro II e São Paulo-Rio. Por causa da localização estratégica, abrigava o famoso trem blindado usado na Revolução de 32 para enfrentar as tropas federais.
O Condephaat protegeu também trechos de linhas e conjuntos ferroviários como a Estrada de Ferro Perus-Pirapora (1914), entre São Paulo e Cajamar, o complexo ferroviário de Paranapiacaba (1877), em Santo André, e um conjunto de casas da antiga Mogiana, em Espírito Santo do Pinhal (1889/1920). Na capital, são tombadas as Estações da Luz, do Brás, a antiga Estação Júlio Prestes, além da estação de bondes do Brás.
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