Em vias de assinar mais um contrato vultoso com o condado de Miami, para a construção de um complexo empresarial, comercial e hoteleiro junto ao aeroporto internacional do município, a brasileira Odebrecht está avançando a passos largos sobre território americano. Além do projeto, avaliado entre US$ 600 milhões e US$ 700 milhões, a construtora está pronta para participar da licitação para construção do primeiro Trem de Alta de Velocidade (TAV) dos Estados Unidos, um projeto de US$ 2,5 bilhões somente na primeira fase, e se prepara para fincar os pés no Texas, por meio de concorrências para construção de um estádio de futebol americano e outro de beisebol.
“Estamos em uma nova fase, com foco em contratos maiores e na busca de oportunidades em outros Estados”, afirma o presidente da Odebrecht nos Estados Unidos, Gilberto Neves.
Com exatos 20 anos de presença no mercado americano, a Odebrecht conquistou o direito de negociação do novo projeto no Aeroporto Internacional de Miami e pode assinar o contrato já nesta semana. Conforme Neves, cinco grupos mostraram interesse, porém apenas dois seguiram na disputa pelo direito de negociação com o condado. E a construtora brasileira foi vencedora. “Alguns termos do acordo estão sendo ajustados e os ‘senadores’ terão de aprová-los”, conta o executivo, que participou do início das operações nos Estados Unidos. Um dos pontos já alterados é relativo à construção de um centro de diagnósticos, que acabou cedendo lugar a um centro empresarial.
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Em modelo de Parceria Público-Privada (PPP), o empreendimento deverá ter a Odebrecht como investidora e operadora durante certo período. O “project finance” será desenhado pela companhia, que deve buscar bancos e outros parceiros. A proposta prevê a construção de mais um hotel – a unidade já existente será reformada -, um shopping center e torres de escritórios, similares às existentes nos aeroportos de Orlando e Dallas. “Vamos buscar os investidores. O aeroporto só entrará com os terrenos, que hoje não são utilizados”, explica Neves. Ao fim de 35 ou 40 anos de concessão, os ativos serão revertidos ao aeroporto.
O projeto apresentado pela Odebrecht levou em conta, de acordo com o executivo, a necessidade do aeroporto de gerar receitas não vinculadas aos negócios aeronáuticos e, desta forma, possibilitar a redução dos custos das companhias aéreas que operam no aeroporto internacional. Hoje, em razão dos elevados investimentos em expansão e da emissão de cerca de US$ 6 bilhões em bônus do Aeroporto Internacional para financiar tais projetos, as aéreas acabam por pagar taxas elevadas de operação. Com geração de caixa adicional, esses custos poderão ser reduzidos. A Odebrecht foi responsável pelas obras de expansão nos terminais Norte, ainda em execução, e Sul do aeroporto, em contratos que totalizaram US$ 1,94 bilhão.
Na disputa pela construção do TAV, cujo edital será publicado em outubro, a Odebrecht entrará em parceria com a espanhola Dragados. A construtora chegou a assinar contrato semelhante, na década de 90, porém o projeto do TAV acabou cancelado. A primeira fase do empreendimento ligará Tampa a Orlando. Na segunda etapa, com orçamento ainda indefinido, a linha será ampliada a Miami. O vencedor do primeiro lote terá o direito de construir o segundo trecho e o contrato prevê também a operação do TAV.
Além do foco em projetos de grande porte, a operação americana da Odebrecht quer desbravar novos mercados. De olho no potencial do Texas, avalia duas licitações para construção de estádios, estimadas em US$ 60 milhões. Para os negócios naquele Estado, já nomeou um diretor de contrato. “Vamos buscar contratos maiores. Não entraremos em obra para perder dinheiro”, diz Neves.
Essa seletividade reflete o amadurecimento da operação da construtora nos Estados Unidos. Há 20 anos, quando chegou ao país, ela tinha como foco atrair mão de obra especializada e fixá-la em seus quadros. Depois dessa fase, voltou-se para concorrências na modalidade menor preço, com contratos de US$ 15 milhões a US$ 50 milhões. O salto veio com os US$ 840 milhões para expansão do terminal Sul do Aeroporto de Miami, em associação com a americana Parsons. “Essa é a terceira fase: atuar com sócio americano. No Texas, vamos olhar parcerias com empresas locais”, diz o presidente.
Com faturamento de US$ 300 milhões anuais, a operação americana responde por cerca de 5% dos negócios globais da construtora. Apesar da participação relativamente pequena, a operação é estratégica para a construtora. “O mercado americano é muito competitivo e não somos grandes aqui como no Brasil. Isso faz com que formemos profissionais extremamente qualificados, que saem daqui preparados para qualquer operação em outro país”, afirma.
Primeira construtora brasileira a ganhar um contrato público nos Estados Unidos, a Odebrecht foi responsável por 57 obras no país, num total de US$ 3 bilhões. “Não se pode subestimar a economia americana (diante da crise). Ainda há muita obra a ser feita”, avalia.
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