A conclusão da Ferrovia Norte-Sul (FNS) não é ambição exclusiva de mineradoras e companhias da agroindústria fincadas nas regiões Centro-Oeste e Norte. A Zona Franca de Manaus também está de olho no impacto que a ferrovia trará para o escoamento da produção de eletrônicos, hoje restrito aos transportes rodoviário, aéreo e fluvial.
Com a chegada da FNS ao Sudeste, a Zona Franca passa a contar com a alternativa de enviar parte da produção pelos portos do Norte – como Porto do Conde, no Pará e Itaqui, no Maranhão – que formarão um corredor de ligação com a FNS, chegando ao Sudeste. “À medida que o prolongamento da ferrovia se efetiva, a tendência será a substituição da cabotagem de longo curso pela Norte-Sul”, afirma a coordenadora-geral de estudos econômicos e empresariais da Suframa, Ana Maria Souza.
Hoje, os principais gargalos de entrada e saída da produção do polo industrial de Manaus são a escassez de portos de longo curso e cabotagem, diz Ana. “As rodovias estão em péssimo estado, provocando atrasando e aumentando o custo do frete. Os custos de frete e armazenagem do transporte fluvial são elevados em decorrência, principalmente, da distância.”
A participação das ferrovias em relação aos demais meios de transporte de carga ainda é tímida, embora tenha avançado nos últimos anos. A participação do setor passou de 3,38% em 1999 para 7,89% em 2008, segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). No mesmo período, os investimentos públicos em ferrovias passaram de R$ 20 milhões para R$ 237 milhões.
Com a privatização do setor, em 1996, a contrapartida foi muito maior. Nos últimos 14 anos, as concessionárias investiram mais de R$ 22 bilhões. Hoje, 12 concessionárias privadas operam 28,5 mil km de malha ferroviária. No ano passado, o setor empregava 36,5 mil pessoas. A projeção é fechar este ano com 40 mil.
Com as projeções de investimento público e privado, o governo garante que há possibilidade de chegar a 2025 com as ferrovias responsáveis por 35% do transporte de cargas – o país teria então 48 mil quilômetros de trilhos.
Projeções de prazos bem mais curtos são feitas por municípios beneficiados pela malha. É o caso de Anápolis (GO), de 380 mil habitantes. “Vamos ser o marco zero da Norte-Sul”, diz o prefeito Antonio Gomide (PT). “Neo Química e Ambev já sinalizaram que vão ampliar o parque industrial na cidade, e tudo isso é reflexo da ferrovia.”
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