Em Paris, na sede da Alstom, maior fabricante mundial de trens de alta velocidade do mundo, o leilão do trem-bala no Brasil, marcado para abril, é aguardado com expectativa. Além de ser o primeiro projeto do gênero em toda a América Latina, o contrato poderá render à multinacional francesa encomendas de mais de R$ 3 bilhões.
Avaliado em R$ 33 bilhões pelo governo brasileiro, o trem-bala vai interligar Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, percorrendo cerca de 500 quilômetros. As empreiteiras, porém, já falam em um custo de R$ 53 bilhões, cifra que, se confirmada, faria do projeto a obra mais cara já realizada pelo País.
Cerca de 90% do orçamento, no entanto, devem ser destinados à construção da própria ferrovia, cujo trajeto é considerado bastante desafiador para a implantação de um trem de alta velocidade devido à diferença de altitude e à topografia do terreno entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
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Apenas 10% do valor do projeto devem ser desembolsados com a aquisição dos trens e outros equipamentos, como sinalização. Ainda assim, será um contrato de peso para fabricantes como a Alstom, que cujas vendas caíram desde a crise financeira na Europa e nos Estados Unidos, em 2008.
A carteira total de pedidos do grupo caiu nada menos do que 39% no ano fiscal encerrado em março de 2010, totalizando 14,9 bilhões de euros. O valor inclui a divisão de equipamentos de energia, como turbinas, setor em que a Alstom é a número um do mundo, e a divisão de transporte ferroviário (trens), mercado em que o grupo só fica atrás da canadense Bombardier.
“O Brasil é um país muito importante para nós”, afirma Patrick Kron, presidente executivo da Alstom, em entrevista concedida a jornalistas brasileiros na sede da companhia, em Paris.
Emergentes
Não é para menos. Desde a crise financeira que afundou as economias dos Estados Unidos e da Europa, em 2008, os países emergentes, como o Brasil e a China, passaram a representar 60% dos negócios da Alstom e a concentrar os grandes investimentos feitos em obras de infraesterura no mundo. Há três anos, ao contrário, eram as economias industrializadas que respondiam por mais da metade das vendas da multinacional francesa.
No segmento de trens de alta velocidade, por exemplo, a Alstom venceu recentemente contratos no Marrocos e na Arábia Saudita e prevê uma forte expansão na China.
Mas, ao mesmo tempo em que a China transformou-se no maior mercado mundial, as empresas chineses também transformaram-se em fortes competidores globais. E essa maior concorrência com os asiáticos deve ser sentida também no Brasil. “Os chineses brigam em preço e na oferta de financiamento. Nós entramos na disputa com tecnologia, com a nossa capacidade de fornecer projetos completos (turn key), com a oferta de serviço pós-venda e com as parcerias com os fornecedores locais”, diz Kron sobre como pretende enfrentar a concorrência chinesa.
Na França, executivos da Alstom se esquivam de falar sobre o projeto do trem-bala brasileiro ou sobre como será a participação da companhia nos consórcios que vão disputar o leilão. “Ainda precisamos saber mais (sobre o projeto) antes de tomar uma decisão final”, afirma Kron, que recusou-se a revelar os nomes das empreiteiras com as quais a Alstom está conversando. “Ainda não sabemos se vamos participar (do leilão do trem-bala) como membros de um consórcio ou como fornecedores”, disse o executivo.
TGV
Na fábrica de trens da empresa em La Rochelle, na costa oeste do País, o especialista em trens de alta velocidade da Alstom Philippe Jarrasson responde que ainda não há uma definição sobre o tipo de trem que deve ser escolhido no Brasil. A Alstom fabrica tanto o TGV, trem de alta velocidade que alcança 250 quilômetros por hora, como o trem de altíssima velocidade (AGV), que chega a 360 quilômetros por hora. Trem-bala é, por sinal, um nome que os franceses detestam, por estar associado aos trens japoneses.
A multinacional francesa sempre disputou o mercado global de trens com a canadense Bombardier, maior fabricante do mundo, e a alemã Siemens. Juntas, as três companhias ainda controlam 40% das vendas, mas os chineses vêm despontando como competidores cada vez mais fortes e já possuem hoje cerca de 20% do mercado mundial de trens.
Para a disputa no Brasil, a Alstom conta com a vantagem de já possuir uma fábrica no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo, onde são produzidos os trens fornecidos para os metrôs de São Paulo e Brasília e para a CPTM. A unidade ainda fornece equipamentos para os metrôs de Nova York, Santiago e Buenos Aires.
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