MRS prevê investir R$ 1,5 bilhão neste ano

A MRS Logística, concessionária de ferrovia que opera malha de 1,65 mil quilômetros, considera que 2010 foi o ano de arrumação da casa, com ajustes fiscais e financeiros, bem como operacionais. Fortemente focada em carga pesada, traçou como meta ampliar sua participação em carga geral e ter uma presença relevante em um mercado que cresce bastante a cada ano no país, o de movimentação de contêineres.


Os investimentos programados para este ano vão duplicar em relação aos R$ 707 milhões aplicados no ano passado. Eduardo Parente, à frente da presidência da MRS desde agosto de 2009, disse que esse montante tem como alvo reforçar a estrutura de material rodante para dar maior velocidade aos trens e aumento de capacidade de transporte da via. Apenas em locomotivas serão mais de R$ 400 milhões, com incorporação de 90 máquinas.


“O investimento é robusto, pois abrange várias frentes de operações da companhia”, explica Parente. Envolve também o novo sistema de sinalização da via, construção de pátios ao longo da malha, mais vagões, início de instalação do projeto Contrail – para movimentação de contêineres no eixo São Paulo-porto de Santos – e começo do projeto de segregação da malha na região metropolitana de São Paulo, permitindo separar vias de cargas e passageiros, ampliando o transporte.


Para o executivo, a MRS tem dois desafios importantes neste ano, ou três. Primeiro: absorver toda a demanda extra de minério de ferro (sua principal carga) de clientes atuais, como Vale, CSN e Usiminas, e de novos, como MMX, ThyssenKrupp CSA (minério da Vale) e Ferrous. Na carga geral, ampliar o transporte com investimento em vagões especializados para produtos siderúrgicos. A outra grande aposta é o mercado de contêineres, do qual a empresa espera no futuro uma participação importante na receita.


Um outro desafio tem sido a formação de mão de obra especializada, um elemento escasso no país, para acompanhar o plano de crescimento da empresa, informa Parente. “Como leva pelo menos 18 meses para formar pessoal, no ano passado contratamos mais de 1 mil pessoas e para este ano prevemos 1,1 mil”. Esse foi um dos fatores de elevação de custos e ajudou a impactar a margem do resultado operacional. A concessionária fechou 2010 com quase 4,6 mil funcionários e prevê 5.685 mil ao fim de 2011.


Operacionalmente, a MRS teve um desempenho positivo no ano passado, com crescimento de quase 12% no volume transportado. No entanto, financeiramente, o resultado da empresa, criada em 1996, foi inferior ao do exercício anterior. A receita bruta anual, por exemplo, apresentou queda de 4,5% em comparação à de 2009, totalizando R$ 2,485 bilhões. Já a receita líquida, de R$ 2,25 bilhões, foi apenas 1,3% menor no mesmo período. Na comparação de trimestre, teve bom resultado de outubro a dezembro, com R$ 600 milhões, 22% superior ao período de julho a setembro. Mas em relação ao quarto trimestre de 2009, houve ligeira retração da receita.


O resultado operacional da empresa, medido pelo Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) teve retração de 19,9% – caiu de R$ 1,26 bilhão em 2009 para R$ 1,014 bilhão no exercício do ano passado.


O impacto maior, percentualmente, no balanço verificou-se no lucro líquido: foi 28% inferior aos R$ 605 milhões do ano anterior. A ferrovia fechou 2010 com resultado na última linha do balanço de R$ 439 milhões. Esse desempenho, explica a companhia, é “em grande medida, consequência de ajustes financeiros não recorrentes que ocorreram durante o exercício de 2010”.


Segundo explicou Parente, o balanço sofreu efeitos fiscais, de aumentos de custos e de ajustes de tarifas. O principal exemplo foi o impacto da anistia do pagamento de ICMS feito pelo governo de Minas, gerando um acordo, em duas etapas desde 2008, que levou a empresa a saldar débito do imposto, o qual contestava e chegou à conclusão jurídica que estava errada. “Com isso, limpamos R$ 345 milhões do balanço”, afirmou. Segundo ele, a empresa também sofreu uma perda de quase R$ 70 milhões devido à compra de um sistema de sinalização que não se mostrou efetivo e teve de ser negociado com o fornecedor. “Fizemos a troca de fornecedor, mas esse valor, que correspondia a 40% do sistema, a MRS não recuperou”, disse.


Para este ano, o executivo está otimista e seu principal alvo é recuperar parte da margem operacional perdida no ano passado. Caiu de 54% para 36%. Um dos pontos é recompor as tarifas cobradas de seus clientes – mais de 70% da carga é minério de ferro e carvão. “Um fator importante foi a limpeza que fizemos no nosso balanço no ano passado”, diz. A companhia evitou apontar perspectiva de volume a ser transportado no ano, porém, no primeiro bimestre, houve uma expansão de quase 9% no volume de carga, atingindo 22,5 milhões de toneladas.


A MRS opera malha ferroviária nos Estados de Minas Gerais, Rio de janeiro e São Paulo, com acesso aos portos do Rio, Itaguaí e Santos. É resultado da privatização da Malha Sudeste da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Os maiores acionistas controladores da concessionária – e seus principais usuários – são a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), a Vale, a Usiminas e o grupo Gerdau.

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