O investimento previsto para a construção do trem-bala, que ligará as cidades do Rio de Janeiro, Campinas e São Paulo, é duas vezes maior do que tudo o que foi investido pelo setor privado e público no setor de ferrovias entre 1999 e 2008. O dado, apurado pelo consultor Marcos Mendes, do Senado, reforça o rol de críticas contra o empreendimento, que teve seu leilão adiado para julho.
“No atual estágio de desenvolvimento da infraestrutura no Brasil, esse não parece ser um investimento que valha a pena”, afirma o consultor.
O orçamento oficial do trem de alta velocidade (TAV) prevê um volume total de investimento de R$ 34,6 bilhões. O governo, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), financiará R$ 20 bilhões desse montante.
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Entre 1999 e 2008, os investimentos feitos pelos setores público e privado em ferrovias no País somaram R$ 16,6 bilhões. Mendes ressalta que o valor efetivo dos gastos pode superar as estimativas oficiais.
“O custo total da obra está orçado oficialmente em R$ 34,6 bilhões, mas pode chegar facilmente aos R$ 50 bilhões, por conta das subestimativas de custos no projeto de viabilidade”, afirma o consultor. No entender de Mendes, o dinheiro a ser aportado no projeto é um “gasto vultoso” que vai “drenar” dinheiro que poderia ser aplicado em outros investimentos públicos.
Para Mendes, ir do Rio a São Paulo em um transporte “moderno” e sem os riscos de congestionamentos ou aeroportos fechados é, sem dúvida, um atrativo. “Porém, sempre que se pretende colocar dinheiro público em um empreendimento, a primeira pergunta a ser feita é: existe aplicação melhor para esse dinheiro?”, questiona. “No caso do TAV, parece haver muitos outros investimentos de retorno econômico e social mais elevados, que deveriam ser considerados prioritariamente”, diz.
Saneamento. Nas comparações feitas pelo consultor, a aplicação de recursos públicos na melhoria do saneamento básico traria maior benefício para a população brasileira do que a criação de um serviço.
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 59% dos domicílios particulares no Brasil são atendidos por rede coletora de esgoto ou fossa séptica ligada à rede coletora e 84% são atendidos por rede geral de abastecimento de água.
“Países do leste asiático e da OCDE já universalizaram esse atendimento”, diz Marcos Mendes. “Em um país com grandes carências na área de infraestrutura, o TAV não passa de um bem de luxo”, pondera o consultor.
Pressionado por investidores, o governo decidiu no início do mês adiar, pela segunda vez, o leilão do trem-bala. O primeiro adiamento foi anunciado em novembro do ano passado, depois que o Palácio do Planalto avaliou que corria o risco de ter apenas um concorrente na disputa.
O segundo adiamento foi anunciado na semana retrasada pelo diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo.
Pelo novo cronograma, as empresas interessadas em participar da disputa terão de apresentar suas propostas no dia 11 de julho. O leilão, propriamente, está marcado para 29 de julho.
Diferenças
R$ 16,6 bi foi o investimento feito em ferrovias entre 1999 e 2008.
R$ 34,6 bi é o custo inicial do trem-bala.
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