A falta de investimentos do governo federal nos transportes públicos urbanos pode fazer com que as cidades se tornem “inviáveis” dentro de 20 anos, alertou o técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Carlos Henrique de Carvalho.
Ele acredita que os projetos voltados para a Copa do Mundo de 2014 já significam um “avanço”, pois desde que a Constituição de 1988 municipalizou a responsabilidade sobre o transporte urbano, o governo federal se manteve fora dos grandes projetos, para os quais os municípios, em geral, não têm capacidade financeira, acredita o técnico.
“O investimento no transporte público ficou em um ostracismo total. (…) A Copa do Mundo significou um retorno do governo federal se preocupando com as questões da mobilidade urbana”, disse.
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Carvalho salientou que, sem os investimentos necessários, houve forte perda na competitividade do transporte público. Em dez anos, a redução foi de 30% na demanda nas grandes cidades brasileiras, motivada pela alta dos custos, muito acima da inflação. Além disso, foi verificada uma migração de demanda para o transporte individual.
As vendas de automóveis cresceram em média a uma taxa de 9% ao ano, nos últimos 10 anos, e as de motocicletas tiveram alta de 19% por ano, segundo dados compilados pelo Ipea. O técnico lembrou que esse movimento causa “sérios problemas” para as cidades, como congestionamentos e aumento de acidentes e poluição.
“Se não houver políticas no sentido de melhorar e estimular o transporte público, como investimento em melhoria da infraestrutura urbana, políticas efetivas para o barateamento das tarifas de transporte público, a situação vai se deteriorar. Daqui a 20 anos, a gente não sabe como vai ficar a situação. Chega um momento em que as cidades se tornam inviáveis”, afirmou.
A expectativa é de que, a partir de 2012, serão vendidas mais motocicletas no país do que automóveis. Com isso, dentro de 10 anos, já vai haver mais motos nas ruas do que carros, seguindo-se o modelo asiático.
“Um transporte público ruim e pouco atrativo faz com que as pessoas busquem a motocicleta, que é diretamente concorrente do transporte público, devido ao preço. Cerca de 40% das pessoas que compram são ex-usuários de transporte público”, disse Carvalho.
A solução para isso, segundo ele, seria a elevação dos investimentos do governo federal para obras de infraestrutura, mesmo que a iniciativa privada se mantenha na operação tanto de ônibus como de trens e metrô, pois “alguns grandes projetos” não têm como serem viabilizados integralmente sem a participação federal, devido ao elevado volume de recursos necessários.
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