*Valdir Santos
A excessiva movimentação do Porto de Santos tem gerado reflexos preocupantes à cidade santista e aos municípios vizinhos como São Paulo e Guarujá, visto que as vias de acesso à principal zona primária do País estão totalmente congestionadas, impossibilitando o escoamento das mercadorias e, em consequência, gerando prejuízos para as empresas exportadoras e importadoras.
Os já noticiados episódios de congestionamento nas rodovias Anchieta e Piaçaguera-Guarujá e os atrasos nas operações do Porto de Santos, tendem a se intensificar, já que esperados 600 mil contêineres (TEU’s) a mais no Porto de Santos somente neste ano, vindos das empresas que anteriormente se beneficiavam de incentivos fiscais, concedidos pelos Estados de Santa Catarina e Espírito Santo entre outros.
Além do aumento do volume de operações em Santos, a abertura de dois grandes terminais nas margens direita e esquerda do Porto e os investimentos que deverão ser feitos pela Petrobras e por outras empresas na região, em razão da exploração do Pré-Sal, devem sobrecarregar ainda mais as operações nos terminais. Ou seja, o futuro não se configura promissor para quem desempenha atividades de comércio exterior em Santos.
Na cadeia logística, principalmente no transporte rodoviário, os prejuízos já ultrapassam os 200 milhões de dólares. Quem sobrevoa a região do Porto à noite chega a confundir os mais de cem navios atracados no porto e imediações com uma cidade de porte médio, tamanho é o volume de luzes acesas no local. Esses navios aguardam há dias autorização para descarregar ou carregar mercadorias. Outro sério problema é o custo diário do aluguel de uma embarcação, que gira em torno de 20 a 25 mil dólares. Na soma, todos esses entraves aumentam o custo Brasil.
Nesse contexto, o pior já começa a acontecer: contratos estão sendo cancelados, uma vez que as empresas não recebem as mercadorias de origem brasileira no prazo, haja vista o caso da empresa chinesa cancelou o contrato de compra de dois milhões de toneladas de soja. Essa situação acaba gerando consequências nefastas para toda a cadeia de comércio exterior, em especial aos produtores, que arcarão com os prejuízos da safra que não chegou ao seu destino, o que representa mais de 5% do total do produto a ser exportado pelo País neste ano.
Mesma situação se aplica às importações, por que as transportadoras não estão conseguindo retirar as cargas, paradas há dias no Porto.
Diante desses lamentáveis ocorridos, cabe algumas sugestões para evitar que a situação se agrave.
1 – Rever em caráter de urgência e, se for o caso, até mesmo prorrogar para 2014, o prazo para que sejam cumpridas as determinações do fim da Guerra dos Portos e dos benefícios fiscais concedidos em alguns Estados. Com esta medida, teríamos condições de conter os 600 mil TEU’s previstos para o Porto de Santos em 2013, cujas operações permaneceriam em outros Estados.
2 – Pressionar os governos federal e estadual para a construção de duas novas rodovias, ligando pontos estratégicos do setor ao litoral paulista, sendo a primeira delas a partir de Santo Amaro até os municípios de Itanhaém e Peruíbe, e a segunda via ligando Mogi das Cruzes a Bertioga.
3 – Cobrar providências urgentes do governo federal para a conclusão da pavimentação da rodovia BR-162, que ligará Mato Grosso do Sul com o Porto de Miritituba (PA), agilizando o embarque e transporte dos grãos, pois irá reduzir em 700 quilômetros o trajeto atual da carga exportados pelo Porto de Santos.
4 – Determinar que as companhias marítimas/armadores desviem suas rotas de navio de Santos até que a situação se normalize, deslocando as cargas para portos nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Ainda é possível reverter o atual cenário, mas torna-se necessário apontar soluções, assim como lutar para que elas sejam aplicadas. Se não forem tomadas medidas imediatas a fim de promover um escoamento mais ágil das mercadorias, certamente iremos arcar com prejuízos ainda maiores durante o ano de 2013, consequentes da limitada estrutura para atracar os navios e receber os caminhões que transportam as cargas. Sem contar que os moradores de Santos e Guarujá não terão condições de se deslocar até São Paulo, assim como nós paulistanos podemos esquecer os finais de semana no litoral, uma vez que não conseguiremos acessar as rodovias, em razão deste imbróglio portuário.
*Valdir Santos é presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de São Paulo – Sindasp.
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