Após críticas de arquitetos, engenheiros e urbanistas, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), decidiu mudar o traçado do BRT Transbrasil (corredor expresso de ônibus que ligará Deodoro, na zona oeste, ao Aeroporto Santos Dumont, no centro) e do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que percorrerá a zona portuária e o centro. Os dois projetos são as principais promessas da prefeitura e dos governos estadual e federal para melhorar a mobilidade no centro do Rio até a olimpíada de 2016.
“Ouvi as propostas de alteração do traçado do BRT e do VLT para o centro e acho que fazem todo o sentido. Com esta mudança, o VLT passaria por uma área de maior importância histórica. Acho que há chances de fazermos essa alteração no projeto”, disse hoje o prefeito.
Na noite de segunda-feira (10), em debate na sede do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), o representante da prefeitura Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, ouviu uma série de críticas aos projetos. No dia seguinte, houve uma reunião para discutir o assunto com o prefeito, que teve a participação de Fajardo, secretários municipais e representantes do IAB e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).
Originalmente, o VLT passaria pela Avenida Rio Branco e o BRT, pela Rua Primeiro de Março, que reúne uma série de construções históricas, como o Paço Imperial. Agora, deverá ocorrer o inverso. “É saudável e positiva a mudança. O debate ocorreu justamente com o objetivo de dar uma contribuição e discutir o melhor para a cidade”, disse o presidente do IAB, Sérgio Magalhães.
No encontro de segunda, o arquiteto e ex-superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio, Carlos Fernando de Andrade, disse que a Rio Branco seria a melhor opção para receber o BRT, de alta capacidade. “A via é a ideal para receber o sistema, tem calçadas largas e, arquitetonicamente falando, não tem importância. Já a joia da Coroa, a Rua Primeiro de Março, que tem calçadas de quarenta centímetros com postes no meio, vai ganhar um BRT. O projeto tem uma permanência e um impacto na cidade que merecem ser repensados”, declarou Andrade.
Orçado em mais de R$ 1 bilhão, o BRT Transbrasil ligará Deodoro ao Santos Dumont, passando pelas avenidas Brasil e Presidente Vargas. Será um corredor expresso de 32 quilômetros, com ônibus articulados e faixas segregadas. Segundo a prefeitura, terá a “maior demanda entre todos os BRTs já projetados e implantados no mundo”. A previsão oficial é de que sejam atendidos 900 mil passageiros por dia – é mais do que o total de usuários de metrô no Rio (650 mil). O cálculo de demanda foi contestado por especialistas no IAB.
Para o engenheiro Raul Lisboa, é um contrassenso a prefeitura querer transformar trechos do centro histórico em boulevards e, ao mesmo tempo, planejar transportes de alta capacidade de superfície para essas áreas. Não se sabe ainda como ficará a proposta de se criar uma grande área arborizada para pedestres no trecho final da Rio Branco, impedindo o tráfego de carros, com a eventual passagem do BRT. O sistema já foi inaugurado na zona oeste, onde tem provocado uma série de acidentes e atropelamentos.
Está prevista para sexta-feira (14), com a presença da presidente Dilma Rousseff, a assinatura da ordem de serviço para o início das obras do VLT. O contrato está orçado em R$ 1,2 bilhão. Desse montante, R$ 532 milhões serão repassados pelo governo federal por meio do PAC da Mobilidade e R$ 590 milhões deverão ser investidos pelo consórcio privado vencedor da licitação, que vai explorar o sistema por 25 anos. O consórcio é formado por seis empresas, entre elas as que já dominam os serviços de barcas, metrô, trens e ônibus na cidade, mais uma operadora francesa e outra argentina. Estão previstas seis linhas de VLT, com 42 estações e 28 km de rede. De acordo com a prefeitura, o equipamento terá capacidade para transportar até 285 mil pessoas por dia.
Seja o primeiro a comentar