A Estação Ferroviária de Sorocaba completa hoje 138 anos de fundação. Marco da instalação da Estrada de Ferro Sorocabana, ela foi oficialmente inaugurada no dia 10 de julho de 1875, iniciando uma nova etapa na história econômica do município. Considerado um dos principais patrimônios arquitetônicos de Sorocaba, o prédio foi tombado há dez anos, mas ainda aguarda a restauração para poder voltar a ser utilizado pela população.
O presidente do Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP), o arquiteto Alberto Streb, afirma que pela importância histórica que a Estação Ferroviária representa para o município, poderia haver um empenho maior para a sua recuperação e, assim, passar a ser usufruída pela comunidade. Ele reconhece, no entanto, que o alto custo que envolve as obras de restauro acaba adiando a sua execução. “É um projeto que exige um estudo de recuperação e uma boa cota de investimento, mas que poderia ser viabilizado dentro dos programas de incentivo fiscal, por meio de parcerias com patrocinadores.” Streb afirma que espera que a atual administração consiga dar uma atenção maior à política de prevenção do patrimônio histórico e cultural do município, na qual está inserida a Estação Ferroviária.
A última grande reforma no prédio principal da Estação Ferroviária aconteceu em 1990, quando foram feitas intervenções na sua estrutura e fachada. No final do ano passado, a Prefeitura realizou a recuperação das instalações internas, como o piso de madeira, do forro e também do telhado. As obras, no entanto, se restringiram à manutenção do prédio, para evitar a sua deterioração. Sem as obras de restauro, no entanto, a Estação permanece fechada ao público, se restringindo à realização de um único evento anual, que é a Cantada de Natal, em que as crianças do coral fazem a apresentação das janelas superiores do prédio, mas o público permanece do lado de fora, já que não existe segurança no local.
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O promotor de Justiça curador do Patrimônio Histórico de Sorocaba, Jorge Alberto de Oliveira Marum, considera que o descaso ao patrimônio arquitetônico e cultural é um problema crônico no país, já que as intervenções envolvem um custo muito alto e acaba não sendo colocado como uma prioridade dentro das políticas públicas. No caso da Estação Ferroviária, o promotor considera que um passo importante foi dado com a municipalização do prédio, que garantiu a sua manutenção. Ele considera, no entanto, que a melhor forma de preservação de um patrimônio é a sua utilização, que faz com que a população passe a se identificar mais com o espaço e se aproprie dele. Embora reconheça que a questão da verba é um impedimento para a efetivação do seu restauro, Marum afirma que poderiam ser fomentadas iniciativas para parcerias com a iniciativa privada que viabilizassem esse custeio. “A Estação é um marco muito importante para a história de Sorocaba, que ainda está viva na memória de grande parte da população e que precisa ser preservada.”
História
A inauguração da Estação Ferroviária de Sorocaba marcou o início do tráfego da Estrada de Ferro Sorocabana, com a linha tronco entre Sorocaba e São Paulo. Quem esteve à frente dessa empreitada revolucionária para a época foi o húngaro Luiz Matheus Maylasky, que chegou em Sorocaba sem nenhuma posse e acabou por se destacar como um dos empresários mais prósperos do ramo do algodão. A linha férrea, aliás, tinha como principal objetivo fazer o transporte da produção local até a capital e assim alcançar o porto de Santos. Três anos depois de inaugurada, a Sorocabana estendeu suas linhas até Tietê, Itapetininga e Botucatu, passando a incorporar também a Companhia Ituana. A empresa passou a percorrer um trecho total de 908 km.
No início do século 20, a Sorocabana entrou em crise financeira e entrou em liquidação. No período de 1907 e 1919, o Governo de São Paulo arrendou-a a um consórcio franco-americano, quando ela operou com o nome de Sorocabana Railway Company e atingiu as margens do Rio Paraná, em Presidente Epitácio. Em 10 de novembro de 1971, governo paulista unificou as ferrovias do Estado e criou a Fepasa Ferrovia Paulista S.A. que, posteriormente, foi incorporada à Rede Ferroviária Federal, que passou a deter a posse do prédio da Estação Ferroviária de Sorocaba.
Com a extinção da Rede Ferroviária Federal, o imóvel foi passado à responsabilidade do Patrimônio da União (SPU), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Apesar de pertencer à União, o prédio está sob “tutela” do município devido ao convênio que autoriza o Poder Executivo a utilizar e ocupar o complexo da Estação Ferroviária de Sorocaba, articulando ações de preservação e educativas que perpetuem a memória histórica e cultural. Dessa forma, desde a transferência, coube à municipalidade, entre outras funções, executar as obras indispensáveis à ocupação e conservação do imóvel. Desde 2003, o prédio foi tombado pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP).
Programação comemora a data
Para comemorar os 138 anos de inauguração da Estação Ferroviária de Sorocaba, a Secretaria Municipal de Cultura e Lazer realiza hoje uma programação especial para resgatar a história desse patrimônio histórico, com a exposição de fotos antigas, além da exibição de vídeos e documentários.
As atividades desta quarta serão sediadas na Casa do Turista, que fica no prédio anexo à Estação. A partir das 13h, será aberta uma exposição de fotos, que conta com o apoio de ferreomodelistas sorocabanos, No mesmo local, a partir das 19h, haverá exibição dos filmes E.F. Elétrica Votorantim, O Trem Paulista e ainda o cine-jornal produzido em 1958 por Landa Lopes, A Estrada de Ferro Sorocabana e Bandeirante Apiaí. As atrações são gratuitas.
A partir do dia 3 de agosto, no Museu da Estrada de Ferro, será exposta a “pena” que pertenceu a Matheus Maylasky e que teria utilizado para assinar os documentos que marcaram a história da Estrada de Ferro Sorocabana. O museu, instalado na rua Dr. Álvaro Soares, 553, em frente à Estação Ferroviária, poderá ser visitado de quarta-feira a sábado, das 9h às 12h e das 13h às 16h30.
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