A combinação entre ALL e Rumo Logística, ainda em fase de negociação, passa por uma capitalização. O volume ainda não está definido. Os fundos de investimentos atualmente minoritários na Rumo, Gávea e Texas Pacific Group (TPG), estão dispostos e podem pôr dinheiro novo no negócio. O projeto todo envolve a capacitação da empresa resultante para investimento da ordem de R$ 5 bilhões.
Essa operação, portanto, se concretizada, deve levar ao surgimento de uma empresa com maior capacidade de investimento. Ontem, as ações da ALL subiram forte na bolsa, com ganho de 8,8%. A empresa encerrou o pregão avaliada em R$ 4,6 bilhões.
O fundo canadense CPP- Canada Pension Plan Investment Board – que estava interessado em aportar recursos no Grupo Cosan, dono da Rumo, para essa operação desde a tentativa anterior do empresário Rubens Ometto de entrar no controle da ALL, deve ficar de fora nesta etapa. Gávea e TPG devem exercer os respectivos direitos de preferência.
O CPP estava disposto a colocar R$ 1 bilhão. Entretanto, o trâmite para chegada da fundação canadense seria longo, o que gera oportunidade para os atuais minoritários da Rumo – também interessados no negócio.
A disposição desses acionistas está diretamente relacionada a uma identificação prévia do volume de investimentos necessários para a ALL e dos prazos. O retorno do capital neste setor leva tempo.
A definição disto passaria, inclusive, por uma espécie de auditoria detalhada da qualidade da malha atual da ALL. Os investidores, contudo, devem permanecer como sócios financeiros. Há tempos que o mercado aponta a necessidade da ALL de uma capitalização para fazer frente às necessidades de investimento.
A questão foi o ponto central das conversas tanto de Rubens Ometto como do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, com a presidente Dilma Roussef, nos encontros realizados na quarta-feira. Eles tiveram encontros separados no Planalto. Após tomar conhecimento da negociação, a presidente pediu dados mais objetivos sobre as pretensões de investimento para a ALL. A preocupação é que a companhia não se torne um gargalo para o projeto de expansão da malha do país, em especial o trecho Norte-Sul.
Conforme o Valor apurou, Coutinho procurou, durante a reunião, mostrar para Dilma a importância de se superar os desafios da malha paulista, que possui trechos urbanos problemáticos.
Para Rubens Ometto, a presidente teria solicitado a apresentação, dentro de 15 dias, de informações mais objetivas quanto a sua disposição para investimentos. De acordo com interlocutores, por trás disso estaria a tentativa de se certificar que a chegada de Ometto deve resolver a situação da ALL.
A ALL possui um plano estratégico desenhado com investimentos pesados para o longo prazo – que podem chegar a R$ 15 bilhões. A execução, contudo, passaria por uma discussão sobre a extensão do prazo de concessão das malhas detidas pela empresa, hoje controlada pelos empresários Wilson De Lara e Ricardo Arduini, em conjunto com BNDES e fundos de pensão.
A retomada das conversas entre ALL e Rumo se deu no fim do ano passado. Ainda não houve, contudo, uma rodada de negociações sobre os detalhes da operação.
Após a frustração da negociação para Ometto comprar 5,6% da empresa, equivalentes a 49,1% do bloco de controle, por R$ 900 milhões, as duas empresas iniciaram uma disputa judicial bilionária sobre um contrato de transporte de açúcar fechado em 2009. O diálogo a respeito desta questão abriu as portas para uma nova negociação. A Estáter assumiu as conversas, pela ALL, no fim de novembro.
Investidor reage bem à possível fusão e ações de concessionária sobem
Os investidores da bolsa reagiram bem à possível fusão entre a concessionária de ferrovias América Latina Logística (ALL) e a Rumo Logística – subsidiária de movimentação de açúcar do grupo Cosan. A notícia foi antecipada no fim da tarde de quarta-feira pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. O preço do papel da ALL fechou cotado ontem a R$ 6,80, o que representa alta de 8,80% contra o dia anterior e o maior avanço do Ibovespa na mesma comparação.
O analista Bruno Di Giacomo, da Fator Corretora, diz que, apesar de ainda não ser possível saber qual seria o desenho final da negociação, um acordo poderia resolver o problema da ALL com o contrato operacional firmado com a Rumo – que hoje a prejudica. “Por parte da ALL, seria uma ótima maneira de resolver essa pendência”, afirma. Outros analistas consideram que o recomeço das negociações pode realinhar os interesses de ALL e Cosan, embora ainda mencionem a dificuldade em prever o modelo final da negociação.
O imbróglio mencionado pelos analistas é o contrato operacional de transporte de açúcar firmado entre ALL e Rumo em 2009 – e que se transformou hoje na grande arma da Cosan para pressionar uma negociação. Hoje, ou a ALL transporta altas demandas de volume para a Rumo ou paga pesadas multas à companhia. No ano passado, de maio a setembro, foram R$ 195 milhões em multas e diferenças de fretes foram cobrados.
Com a ação de rompimento do contrato por parte da ALL, a empresa teve de depositar o valor na Justiça, feito na forma de seguro-garantia, e de outros meses, a partir de outubro.
O contrato é tão forte que desestimulou outros interessados em fazer oferta para entrar na ferrovia, como as grandes tradings de grãos (suas usuárias). Mas, o interesse desses grupos é visto como um dos fatores que aceleraram o acerto entre ALL e Cosan.
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