Operadores evitam a frota K do Metrô de São Paulo

Corriqueiras, falhas no fechamento das portas, no sistema de ar condicionado e na tração dos trens são os principais problemas da frota K, considerada “maldita” pelos operadores do Metrô de São Paulo. O histórico da frota, que inclui ainda abertura de portas com trem em movimento, descarrilamento e até mesmo incêndio, assusta até mesmo experientes operadores.


A frota K roda na Linha 3-Vermelha (Palmeiras-Barra Funda/Corinthians-Itaquera) desde 2011 e é composta por trens da antiga frota da empresa Cobrasma que estão sendo reformados pelo consórcio MTTrens, encabeçado pela empresa TTrans, uma das acusadas de formação de cartel na contratação de serviços para reformar os trens e ampliar a malha ferroviária de São Paulo. Ao todo são 20 trens, em que oito estão parados, dez estão rodando e dois passam por reforma, segundo o Sindicato dos Metroviários. O Metrô diz que a frota k é composta por 11 trens, mas não informou se todos estão em circulação ou estão sendo reformados no momento. Também não informou quanto custou a reforma dos trens da frota K.


“O pessoal [operadores] trabalha com bastante receio porque a frota K tem muita falha. Mas as que metem mais medo é de abrir a porta do lado oposto porque coloca em risco a vida do usuário. Eu tive sorte porque ainda só tive falhas corriqueiras, mas não tem nenhum operador que não tenha passado pela frota K sem que não tenham nenhum problema para contar”, diz um operador, que trabalha na Linha 3 há quatro anos e meio.


De acordo com Altino Melo Prazeres Junior, presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, o emperramento de uma única porta em um trem causa problema para os usuários de todo o sistema.


“O Metrô funciona em sistema de carrossel. As portas emperram abertas ou fechadas. Cada trem têm seis carros e 48 portas, mas basta o problema em uma porta em um trem para parar o sistema inteiro.”


Limpeza


Em um dos incidentes mais graves, em outubro do ano passado, o o trem K07 abriu todas as portas, em ambos os lados, na estação Santa Cecília. Após a falha, a equipe de manutenção do Metrô concluiu que “baixa isolação na fiação de comando de portas devido à infiltração de água na caixa de passagem dos cabos” causou o problema e recomentou que a limpeza dos trens fosse feita apenas com pano úmido para evitar que a água atingisse os circuitos que controlam as portas, de acordo com um relatório da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).


“A partir de 07/10/2013, a LPI (limpeza do piso) dos trens da frota K será efetuada sem uso de água, mas sim de pano molhado para evitar infiltração de umidade na fiação que causou a abertura de portas do trem K07 do lado oposto em 02/10/2013”, diz o texto.


Operadores disseram ao iG que a recomendação foi seguida e o Metrô ainda vedou a caixa onde ficam as fiações, no entanto, o problema persistiu e relatórios da Cipa relataram cinco problemas diferentes nos trens K01, K05, K11 e K24 nos últimos quatro meses.


“Parece pouco, mas são problemas que aconteciam há 20 anos nas outras frotas e foram resolvidos”, diz um operador em condição de anonimato.


Ar condicionado


Para Prazeres Junior, as falhas da frota K ainda são amplificadas pela lotação da linha. “Quando você tem um problema no ar condicionado em um trem lotado, é lógico que fica desconfortável para todo mundo na composição. Os trens da frota K não têm janelas. Óbvio que ninguém vai ficar confortável quando o ar condicionado deixa de funcionar e aperta os botões de emergência mesmo para sair do trem. Isso acarreta outros problemas porque os funcionários tem que desenergizar a via e todo o sistema fica paralisado”, diz Prazeres Junior, em referência ao problema que aconteceu no último dia 4 de fevereiro.


Na ocasião, o trem K07 apresentou uma falha no sistema de ar condicionado e parou na estação Sé (região central), por volta das 18h. Os usuários de vários trens, que foram parando ao longo da linha, acionaram o botão de emergência, saíram dos trens e andaram nos trilhos. Com isso, os funcionários precisaram cortar a energia da via, o que cortou o ar condicionado de outras composições. A linha ficou travada por cerca de cinco horas, houve quebra-quebra e a polícia precisou ser acionada.


Prazeres Júnior afirma ainda que esse mesmo trem foi protagonista de um descarrilamento em agosto do ano passado próximo a estação Barra Funda.


Por causa das consequentes falhas, o sindicato dos Metroviários chegou a produzir um relatório em que apontou 696 falhas em sete trens reformados da frota K entre outubro e novembro do ano passado. Segundo o relatório, mais de 300 dessas falhas ocorreram no trem K07.


O trem K01 também é temido pelos operadores. Segundo o sindicato, ele chegou a pegar fogo em 2011, na estação Sé. Os usuários foram retirados do trem e a composição foi recolhida. Ninguém ficou ferido.


Sistema CTBC


Os problemas da frota ainda incluem a instalação do sistema chamado de Controle de Trens Baseado em Comunicação (CTBC), que permite a comunicação direta entre os trens, sem interferencia humana, possibilitando a redução da distância entre eles e, consequentemente, diminuindo o intervalo entre as composições.


Prazeres Junior diz que o contrato de reforma da frota K incluiu a instalação do sistema de CTBC, no entanto, afirma que a Linha 3 ainda não está pronta para receber a tecnologia.


“O Metrô tem esse problema de projeto e planejamento. Os trens reformados, que saíram com o CBTC, tiveram que receber novamente o sistema ATC [Controle Automático de Trens, usado atualmente]. São chamados de trens ‘Frankenstein’. Isso é como comprar um carro elétrico sem postos para reabestecimento”, diz Prazeres Junior.


Pela instalação do sistema, o Metrô pagou R$ 750 milhões em 2008. A previsão inicial era que o CTBC estivesse completamente instalado na Linha 2-Verde (Vila Prudente/Vila Madalena) em dezembro de 2009 e, em 2011, também nas linhas 1-Azul (Jabaquara/Tucuruvi) e 3-Vermelha. Atualmente, funciona integralmente na Linha 4-Amarela (Luz/Butantã), sob concessão à iniciativa privada.


Investigação


As reformas dos trens de São Paulo são alvo de investigação do Ministério Público, sob suspeita de formação de cartel. O promotor Marcelo Milani, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital, responsável pela investigação, pediu a companhia, no começo do mês passado, a suspensão do contrato de reformas de 98 trens da Linha 3 e Linha 1-Azul.


As investigações apontaram que houve irregularidade (falta de concorrência) na licitação da contratação das empresas responsáveis pelas reformas. Segundo o promotor, as reformas custaram 85% do preço de um trem novo. O Metrô informou, na ocasião, que o custo da reforma era de 65%, o que justificaria a reforma. Mesmo assim, a companhia suspendeu os contratos por 90 dias.


Resposta


Sobre a instalação do CBTC, o Metrô informou em nota que “o sistema está em implantação nas linhas 1 e 3 do Metrô. Na Linha 2, o sistema de sinalização já opera no trecho Vila Prudente – Sacomã e está em fase experimental no restante da linha”. A companhia não informou, no entanto, quando o sistema será integralmente instalado e nem se pronunciou sobre a troca dos sistemas.


A respeito do número de falhas apontada pelo sindicato entre outubro e novembro do ano passado, o Metrô disse que o sindicato contabilizou como falha “intervenções de manutenção realizadas”. “Entre o que o sindicato insiste em chamar de falha podemos citar, por exemplo, 140 ações de limpeza e troca de filtros de ar condicionado realizados na frota em ações programadas rotineiramente. Entre outras atividades programadas, também há 96 registros de lubrificação e troca de óleo. Sem contar trocas de vidros quebrados, reposição de extintores de incêndio etc”, informou a companhia em nota.


O Metrô informou ainda que todos

Fonte: Último Segundo

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