Um condutor do metrô anda arrancando sorrisos e alimentando o imaginário dos passageiros cariocas. Em meio ao empurra-empurra matinal, os usuários do sistema de transporte subterrâneo são surpreendidos pela seguinte saudação:
— Boa viagem, que todos consigam realizar seus projetos e sonhos nessa manhã que se inicia.
O simpático condutor ganhou o apelido de Pantoja e uma série de elogios — publicados nas redes sociais e enviados por escrito à administração do Metrô Rio. O burburinho entorno do “maquinista fofo”, que ganhou nota na coluna de Ancelmo Gois, do GLOBO, já teria gerado ciúmes nos demais funcionários da casa, a ponto de a concessionária chegar a pensar em padronizar a saudação aos usuários. Mexericos à parte, Pantoja continua conduzindo trens ao longo dos 41,9 quilômetros da malha metroviária carioca, nas linhas 1 e 2.
— Enquanto alguns condutores agradecem a preferência, como se os passageiros tivessem muitas opções de transporte, o Pantoja passa uma mensagem de esperança — diz a assistente administrativa Cristina Barbosa Barros, de 38 anos.
Entre um chiado no sistema de som e um aviso de “cuidado com o vão entre o trem e a plataforma”, ela jura que ouviu o condutor se apresentando como Pantoja:
— Ou ele tem voz de Pantoja.
Na manhã de uma terça-feira deste mês, a Revista O GLOBO pegou o bonde dele, que, na saída da estação Botafogo, após o fechar das portas, saudou os passageiros com a gentileza de costume — a frase é repetida sempre nas partidas e no fim da linha.
A médica Juliana Campello, de 31 anos, logo abriu um sorriso no rosto.
— É carinhoso — diz ela. — Pego o metrô todos os dias, e acho todos os condutores gentis em suas saudações. Mas esse foi especialmente carinhoso.
No banco do lado, o vigia Jorge Eli Fernandes Porto, de 58 anos, começou a imaginar a fisionomia do “piloto”:
— Pela voz, parece ser moreno.
— E parece ser novo — emendou uma loura, no banco de trás. — Fico curiosa para saber como é a cara dele.
A loura saltou na Estação Central e, finalmente, matou a curiosidade.
— Até que ele é bonitinho… — disse, antes de sair correndo escadas acima.
O maquinista tem a pele morena, cabelos encaracolados, 35 anos e esposa o esperando em casa. Ele se chama Marcos Paulo Lima de Freitas.
— Sou católico apostólico romano e, no horário de rush, conduzo 1.800 usuários de diferentes crenças. Tem o camarada de jornal embaixo do braço procurando emprego, o jovem indo para o primeiro dia de aula, a senhora abalada pela doença de um ente querido… Resolvi, então, desejar um “bom dia” de forma universal, passando a minha fé — explica ele.
CONDUTOR É FORMADO EM HISTÓRIA
Professor de História, Marcos Paulo estava desempregado quando resolveu deixar o currículo no Recursos Humanos do Metrô Rio, há seis anos.
— Eu tinha habilitação para dirigir carro e pensei que poderia conduzir um trem do metrô — lembra ele.
Entre aulas teóricas e práticas, Marcos Paulo passou por um período de formação de seis meses e meio, com lições diárias das 8h às 18h. Aprendeu sobre zonas de manobra, sinalização específica, normas de segurança.
Ele faz parte de um time de 274 condutores do Metrô Rio — 90% são homens e 10%, mulheres. O seu expediente vai das 5h30m às 11h30m. Morador de Jacarepaguá, ele vai e volta para casa de ônibus — a esperada Linha 4 está prevista para começar a funcionar em 2016.
E qual é o seu maior sonho?
— Gostaria de levar o Papa Francisco no meu trem — diz ele, que observa o movimento dos passageiros pelo monitor instalado em sua cabine.
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