Com os descarrilamentos registrados nestas últimas semanas na região noroeste paulista, a retirada dos trilhos da área urbana voltou a ser debatida. Existem estudos e projetos, mas a burocracia é grande e deixa a impressão de que as obras não vão ser feitas tão cedo.
Só quem mora perto da linha férrea sabe como é quando o trem se aproxima. “Muito barulhento, começa chacoalhar toda a casa, a televisão não pega, tudo atrapalha. Eu fico muito preocupada, com as crianças, tenho medo de acontecer algo com elas”, afirma a dona de casa Creusa Guedes.
Pior do que o medo é a dor de quem perdeu de uma só vez vários parentes numa das maiores tragédias ferroviárias do país, em novembro do ano passado, em São José do Rio Preto (SP). O irmão, duas sobrinhas e duas cunhadas de Ana Lúcia Dias da Silva morreram no acidente. “Perder uma pessoa é difícil, agora perder cinco de uma vez é muito difícil, pode dar o valor que for, mas nada vai trazê-los de volta”, afirma Ana.
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Um levantamento da ANTT, Agência Nacional de Transportes Terrestres, mostra que os acidentes com trens vêm diminuindo, mas o número ainda é assustador. Neste ano, já foram registrados mais de 700 acidentes nas ferrovias brasileiras.
Na semana passada, 12 vagões carregados de milho e soja descarrilaram em Catanduva (SP). Três dias depois, outro descarrilamento na mesma linha assustou os moradores de Bálsamo (SP). Nove vagões saíram dos trilhos e despencaram num barranco.
Em todo o país, mais de 900 municípios são cortados por linhas férreas. São Paulo é o estado com o maior número de cidades nessa situação: cerca de 200. Em Rio Preto, a prefeitura entrou com um pedido, há três anos, para que os trilhos fossem retirados da área urbana, mas até agora, nada foi feito.
O Dnit, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, informou que está finalizando os estudos técnicos para desviar a ferrovia, que passaria a contornar o município. Segundo o Dnit, outros 14 projetos desse tipo já estão aprovados ou em andamento, em quatro estados do país. A Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários defende outras medidas, de curto prazo e mais baratas. “As concessionárias têm investido cada vez mais na eliminação dessas interferências entre a comunidade e a linha férrea, construindo passarelas, construindo viadutos, passagens inferiores sobre a linha férrea e vedando essa linha para evitar esse conflito”, diz Gustavo Bambini, presidente da ANTF.
Segundo o Dnit, estão sendo feitas mudanças para incluir no PAC a retirada dos trilhos da área urbana de Rio Preto. Com isso, a contratação de um projeto para a obra seria acelerada. A próxima etapa do processo deve ser concluída no mês que vem. A ALL, América Latina Logística, responsável pela ferrovia, disse que apoia a mudança da malha férrea e colabora com iniciativas nesse sentido. A empresa afirmou que atende todas as regras de segurança da ANTT e que os acidentes diminuíram 80% desde que assumiu a concessão. A ALL informou ainda que investiga todas as ocorrências.
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