A Vale tem uma forte posição competitiva no mercado de minério de ferro, apesar do cenário de queda nos preços. Em entrevista ao Valor, o diretor-executivo de finanças, Luciano Siani, disse que a empresa terá capacidade de ampliar as margens com base na capacidade de reduzir custos, seja de produção, com a entrada de novas minas em Carajás, no Pará, seja de logística, via uso dos navios Valemax, e também com o centro de distribuição na Malásia, recentemente inaugurado. Também acredita que a Vale terá condições de aumentar o preço de venda porque a qualidade do produto está aumentando. Siani afirmou ainda que os três principais sistemas produtivos da companhia – Norte, Sudeste e Sul – têm custos parecidos, cerca de US$ 22 a US$ 23 por tonelada, incluindo mina, usina de beneficiamento e transporte até o porto. Leia a entrevista a seguir.
Valor: A Vale vinha trabalhando com um preço médio para o minério de ferro este ano na faixa de US$ 100 por tonelada. A empresa mantém essa previsão?
Luciano Siani: Vai ficar abaixo [de US$ 100 por tonelada]. O ano está terminando e, se fizer a conta, não dá para dizer que vai ficar isso.
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Valor: Em quanto vai ficar?
Siani: Hoje, prever o preço de minério de ferro a curto prazo é que nem prever o câmbio.
Valor: Pode segmentar a posição competitiva dos diferentes sistemas de produção da Vale?
Siani: Nós vamos apresentar os dados em detalhe no “Vale Day” [em Nova York, em 2 de dezembro] porque tem havido demanda dos investidores. Posso assegurar que a curva de custo, a competitividade das minas da Vale, excluindo o sistema Oeste [Corumbá], é praticamente igual. Existe concepção equivocada de que nosso sistema no Norte é muito mais competitivo. Já foi e voltará a ser, mas hoje nosso custo é aproximadamente o mesmo, na casa de US$ 22 a US$ 23 por tonelada, colocado no navio, em todos os sistemas. No sistema Norte esse custo foi menor e aumentou ao longo do tempo por conta das restrições ambientais e agora com o EIA Global [licença ambiental para expansão em Carajás] estamos eliminando. Nossa expectativa é voltar a ter mais competitividade no norte. O Sul e o Sudeste [em MG] estão muito competitivos. A mina de menor custo da Vale é Brucutu [MG].
Valor: Pode dizer de quanto é?
Siani: Prefiro não falar. Posso dizer que a diferença entre os sistemas Norte, Sudeste e Sul é marginal, diferença máxima de US$ 1 por tonelada, no custo de produção, colocado no navio. O Sistema Sul é um pouco mais caro, alguns dólares, porque a Vale tem que pagar tarifa na MRS Logística [a concessionária ferroviária]. Mas a Vale é dona de parte da MRS, então o custo é mais alto, mas o dinheiro volta na forma de dividendo. Então, quando faz os ajustes, a competitividade entre os sistemas é muito semelhante.
Valor: E no sistema Oeste?
Siani: O sistema Oeste é menos competitivo porque não tem um sistema logístico eficiente para levar o minério de ferro para o mercado transoceânico. O minério desce por barcaça até o Rio da Prata. Nesse sistema, em um momento como este, precisamos vender localmente. As siderúrgicas da Argentina compram nosso minério e o sistema oeste tem uma parte importante de lump, minério granulado, que tem preço mais alto. Então, vendemos do sistema Oeste ou localmente ou o minério granulado. Porque, se vendesse o minério tradicional, o chamado sinter-feed, não conseguiria colocar esse minério na China de forma competitiva com o preço de hoje. Mas estamos falando de 5 milhões, 6 milhões de toneladas por ano.
Valor: O custo de US$ 22 por tonelada inclui mina e logística?
Siani: O custo inclui mina, usina de beneficiamento, ferrovia, porto e também royalties e a Taxa de Fiscalização de Recursos Minerais (TFRM). Nossos concorrentes divulgam os custos sem considerar os royalties.
Valor: Inclui as pelotas de ferro?
Siani: Exclui pelotas. No caso de pelotas, é preciso adicionar o custo de transformação e comparar esse custo ao prêmio da pelota. Hoje, transformar minério fino em pelota agrega mais valor.
Valor: O Citi publicou relatório apresentando números diferentes para os sistemas da Vale. Concorda com essa avaliação?
Siani: A avaliação está errada. Mas eles não têm culpa porque não têm acesso aos números. A lição que fica é que temos que publicar essa informação e nós vamos fazê-lo. Mostrar no Vale Day e nas demonstrações financeiras.
Valor: Como vê a Vale?
Siani: A Vale tem oportunidade de ampliar as margens em três alavancas. A primeira é a redução de custo. Estamos com expectativa grande de que com a abertura das novas minas, a partir do segundo semestre [de 2015], quando as minas novas estiverem operando à plena capacidade, os custos vão cair. Acreditamos que vamos reduzir custos logísticos com a operação dos [navios] Valemax e com o centro de distribuição da Malásia. E acreditamos que vamos melhorar a realização de preço porque a qualidade está aumentando. A produção de Itabira [MG], que há um ano e meio atrás produzia material de baixa qualidade, hoje produz material com 68% de minério de ferro, o que vai aumentar prêmio e reduzir descontos por sílica. Com redução de custo de produção e de custo logístico e aumento da qualidade, vamos aumentar margens de forma importante em qualquer cenário de preços. Estamos confiantes e vamos navegar bem em 2015 e 2016 e, a partir de 2017, com o projeto S11D a posição competitiva da Vale será insuperável.
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