UTC busca R$ 100 milhões para o caixa, enquanto renegocia R$ 1,2 bi

A empresa de construção e engenharia UTC busca R$ 100 milhões para recompor a liquidez de seu caixa e garantir a continuidade de suas operações, enquanto reorganiza suas finanças e renegocia com bancos credores o vencimento de suas dívidas.

Ontem, conforme antecipou o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, a consultoria financeira RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, assumiu a reestruturação da empresa, que fechou o ano passado com R$ 1,59 bilhão em dívida bruta, para uma posição de caixa de R$ 268,5 milhões.

Desse volume, R$ 777 milhões tinham vencimento neste ano. Em dezembro, o balanço mostrava ainda R$ 323,4 milhões de compromissos com fornecedores para serem honrados durante este ano.

Em março, os seis bancos credores ¬ Bradesco, Itaú, Santander, Banco do Brasil, HSBC e Banco ABC ¬ se organizaram e uniram todos os vencimentos que possuem com a empresa, num pacote de R$ 1,2 bilhão, para uma renegociação. No fim daquele mês, assinaram com a empresa um memorando de entendimentos para permitir que o prazo dos débitos (stand still) fosse alongados. O “stand still” venceu na terça¬feira, mas será estendido por 60 dias. No pacote, estão R$ 620 milhões em debêntures.

A RK, como representante da UTC, tem entre as metas assegurar a negociação de linhas de capital de giro e a retomada da concessão de cartasfiança pelos bancos, para os projetos em andamento.

São necessários R$ 100 milhões para manter a normalidade do negócio dentro do novo ritmo ¬ a empresa demitiu metade dos 30 mil funcionários que tinha em seu quadro antes da crise provocado pelo envolvimento da construtora na Operação Lava¬Jato do Ministério Público Federal (MPF).

A estratégia de recomposição da liquidez da UTC, uma companhia que historicamente mantinha seu caixa próximo de R$ 500 milhões, conta ainda com a carteira de ativos. Os dois maiores projetos da UTC atualmente são o aeroporto de Viracopos (Campinas¬SP) e a Linha 6 (consórcio Move SP) do metrô paulistano. No consórcio do aeroporto, a construtora possui uma fatia de 23%, avaliada entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. Na linha 6, a participação é de 19% ¬ mas há todo o investimento por fazer.

No caso do metrô, o consórcio controlador é formado pela UTC, a Galvão Engenharia e liderado pela Odebrecht. Esse é o grupo que assumiu a parceria público privada (PPP) com o Governo do Estado de São Paulo para o projeto, no valor de R$ 9 bilhões ¬ no qual cada um coloca R$ 4,5 bilhões. Além de sócia, a Constran, controlada pela UTC, está entre as contratadas para a construção da linha. Essa atividade gera receita recorrente ao negócio.

ontudo, o aeroporto é visto pelos bancos credores como o ativo mais atrativo da empresa. Já estão disponíveis os recursos necessários para o término da expansão, ainda neste ano ¬ R$ 100 milhões, aproximadamente. Além dessas operações em infraestrutura ¬ que a UTC gostaria de manter, num cenário ideal ¬ há grandes posições em terrenos que podem ser vendidas total ou parcialmente e que somam perto de R$ 400 milhões.

A companhia vem fazendo um duro processo de corte de custos e despesas e já conseguiu uma economia da ordem de 40%. Ainda assim, a receita líquida neste ano deve sofrer queda de dois dígitos, assim como o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). A expectativa é que, em 2015, a receita líquida fique pouco maior a R$ 3 bilhões, e o Ebitda, abaixo de R$ 150 milhões. Em 2014, ficou em R$ 3,8 bilhões e, no ano anterior, em R$ 4,1 bilhões.

Entre as instituições credoras, o entendimento é que a partir de 2016 o Ebitda da UTC deve ser, no mínimo, de R$ 150 milhões, o que traz conforto para renegociação dos débitos, especialmente combinado com a venda de ativos. Está assegurado que parte relevante das vendas que forem feitas serão usadas para abater a dívida. Mas o objetivo da RK é evitar a pressa para essas transações.

A atual carteira de projetos da empresa indica que é possível manter uma receita entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões nos próximos quatros anos.
Não está descartado que, no lugar da venda das posições totais, a UTC busque sócios financeiros para os projetos que ainda demandam grandes investimentos.

Os bancos credores já aceitaram, como parte da garantia, recebíveis da Petrobras, pela refinaria Refap, no sul do país ¬ cerca de R$ 600 milhões.
Outro esforço da RK será negociar, além do alongamento das dívidas, carência do principal e dos juros nos próximos anos. Só o serviço da dívida comprometeria R$ 150 milhões ao ano em caixa.

Uma das preocupações da UTC é estar apta e robusta para, num eventual cenário de acordo de leniência, voltar a contratar projetos com a Petrobras. Diversas empresas envolvidas ou afetadas pela Lava¬jato estão enfrentando dificuldades financeiras. Alguma adotaram recuperação judicial (RJ) como estratégia, algo que neste momento é descartado pela UTC.

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