Com novo acionista, Manabi muda nome e entra no setor portuário

A mineradora Manabi, com ativos de minério de ferro em Morro do Pilar (MG) e projeto de construção de um terminal portuário em Linhares (ES), passa por reestruturação que inclui mudança de nome, de controle acionário e o desenvolvimento de um novo plano de negócios. A Manabi passará a se chamar MLog e terá como foco ser uma operadora de terminais portuários e oferecer soluções logísticas em navegação. “Vamos entrar na operação de terminais portuários com a aquisição de ativos maduros, geradores de caixa, nos próximos meses”, disse Patricia Tendrich Pires Coelho, presidente e nova sócia controladora da MLog.

Advogada com passagem pelo mercado financeiro, Patricia afirma que a desvalorização do real levou ativos de logística no Brasil para um preço mais realista: “Há oportunidades na crise para comprar ativos.” Para fazer as aquisições, a MLog conta com caixa próprio, com dinheiro dos atuais sócios da empresa e de novos investidores. A MLog tem em caixa R$ 282 milhões, sendo R$ 73 milhões que a Manabi já dispunha e R$ 209 milhões resultantes de uma operação de aumento de capital, feita na reestruturação da companhia.

Foi esse processo que deu a Patricia o controle acionário da Manabi, com 58% das ações. Os antigos sócios, entre os quais estão o Korea Investment Corporation (KIC), OTPP, EIG e Southeastern Asset Management, entre outros, ficaram com 42% da empresa. “Os antigos sócios permaneceram na companhia e deram voto de confiança”, afirmou Patricia.

Para assumir o controle da Manabi, Patricia conduziu a fusão da sua empresa de navegação, a Asgaard, com a mineradora. A Asgaard é uma empresa de navegação brasileira (EBN) especializada na prestação de serviços à indústria de petróleo e gás. Patricia tem 51% da Asgaard e os restantes 49% estão em mãos da Asgaard UK, na qual a empresária divide o controle com outros investidores.

A Asgaard opera três navios offshore para atender plataformas e tem planos de construir seis embarcações. Vai fechar 2015 com receita líquida de cerca de R$ 60 milhões. É a única receita da Mlog hoje, daí a necessidade de comprar ativos geradores de caixa.

A mudança de foco da Manabi, uma companhia pré-operacional, se relaciona com a queda no preço do minério de ferro. O plano original da empresa previa atingir capacidade de produção de 25 milhões de toneladas de minério de ferro por ano em Morro do Pilar, na serra do Espinhaço, em Minas Gerais. Mas nas atuais condições de mercado ficou mais difícil para pequenas e médias mineradoras, como a Manabi, desenvolver novos projetos ou fazer expansões.

Patricia disse que a empresa vai manter o plano de investimentos na mina de Morro do Pilar por razões regulatórias e ambientais. Dos 189 empregados da MLog, 11 estão dedicados à manutenção da mina, incluindo geólogos e pessoal de engenharia de mina.

A Manabi foi pensada, desde o começo, como um projeto integrado por mina, logística e porto. A empresa possui um terreno de 12 milhões de metros quadrados com 6,5 quilômetros de frente para o mar, em Linhares (ES), onde planeja desenvolver o Porto Norte Capixaba. O porto depende de licenciamento ambiental, cujo processo está em andamento e envolve discussões com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e com o Instituto Chico Mendes (ICMBio). “A MLog está estudando outras alternativas de exploração de negócio [do porto], além do minério de ferro”, disse Patricia.

Antes da fusão com a Asgaard, a Manabi fez uma baixa contábil (“impairment”) de R$ 770 milhões nos ativos minerários. Foi uma medida para refletir melhor o valor dos ativos, disse Augusto Tanure, diretor de desenvolvimento logístico da MLog. Ele afirmou que a fusão entre Manabi e Asgaard tinha condições precedentes a serem cumpridas. Uma delas era o prazo de 60 dias, encerrado ontem, para eventual manifestação de acionistas no resgate de ações preferenciais da Manabi dentro do processo de reestruturação da empresa.

O resgate de ações buscou simplificar a estrutura societária da empresa, disse Tanure: “Tinhamos uma estrutura societária com ações preferenciais e ordinárias e hoje só temos ordinárias, está todo mundo alinhado”, afirmou. Essa transação levou a uma redução de capital em que parte do caixa da empresa foi devolvido aos acionistas. Ao mesmo tempo, houve o aumento de capital de R$ 209 milhões que permitiu a Patricia tornar-se a controladora.

Na nova estrutura, a Manabi, futura MLog, passa a ser uma holding com quatro subsidiárias: Morro do Pilar (mineração), Dutovias do Brasil (mineroduto), Manabi Logística (Porto Norte Capixaba) e Asgaard. Até dezembro, a empresa deve apresentar ao conselho de administração, presidido por Wilson Brumer (ex-presidente da Usiminas), um plano estratégico. No conselho, também estão Armando Santos e Samir Zraick (ambos ex- Vale) e João Cox Neto.

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