Uma semana após a Folha de Pernambuco antecipar a possibilidade de fechamento do metrô do Recife nos fins de semana, a direção nacional da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) foi além e escancarou o problema. O atendimento pode ser interrompido já na próxima semana por falta de pagamento da energia elétrica consumida na rede, que atende uma média diária de 400 mil pessoas e conta com 29 estações ao longo de 39,5 quilômetros.
Em janeiro, há a possibilidade de a mesma medida ser tomada nos sistemas de João Pessoa, Natal, Maceió e Belo Horizonte. O sistema vem sendo asfixiado por dívidas, uma delas atribuída a atrasos no repasse de valores referentes às passagens da integração metrô-ônibus.
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Conforme a empresa, desde 2013, R$ 48 milhões deixaram de ser recebidos em Pernambuco, o que equivale a R$ 2,3 milhões mensais e a 16% de sua receita. Outros 20% são comprometidos com penhoras no valor de R$ 2,8 milhões. A fatia mais prejudicada, entretanto, é referente à penhora de R$ 7,5 milhões mensais relativos a uma dívida com a Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social (Refer), equivalentes a 54% dos recursos. “Com tudo isso, nossa receita fica comprometida em 90%. Essa realidade pode forçar uma paralisação dos nossos sistemas”, declara o presidente da companhia, Marco Fireman. “É o único transporte do Brasil subsidiado em quase sua totalidade pelo Governo Federal”, completa.
Empresa de economia mista, a CBTU tem 75% de seu orçamento dependente da União. O restante vem, justamente, da renda da bilheteria e do aluguel de espaços para publicidade. Desde 2012, o valor da passagem está congelado em R$ 1,60. Mesmo diante da crise financeira, há relutância em aumentá-lo. “Temos uma tarifa social, muito por conta das pessoas que transportamos, a maior parte de baixa renda”, acrescenta Fireman.
Antes mesmo de medidas drásticas serem tomadas, os usuários já vêm sentindo o impacto da crise financeira no funcionamento dos trens e das estações. Ao longo deste ano, roubos e furtos constantes – que chegaram a ultrapassar cem casos em nove meses, ante 90, em 2014 -, expuseram dificuldades de investimento na segurança.
A falta de manutenção também foi um problema. O Sindicato dos Metroviários, em mais de uma ocasião, apresentou dossiês apontando o uso de peças de trens novos, sem uso, para a reposição em outras composições. Mesmo recorrendo a essas medidas, falhas elétricas e cenas de passageiros descendo de vagões quebrados no meio do percurso se tornaram rotina.
O Grande Recife Consórcio de Transporte, gestor dos terminais integrados, foi procurado, mas não pôde responder aos questionamentos antes do fechamento desta edição.
NEGOCIAÇÕES
A dívida com a Refer, que chega a R$ 2,6 bilhões, está em análise na Procuradoria Geral da União, com possibilidade de acordo para pagamento em 20 anos. Hoje, o caso será alvo de uma audiência. Já a possibilidade de corte da energia elétrica no sistema da Região Metropolitana do Recife está sendo negociada com a Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), conforme a direção nacional da CBTU.
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