Cai volume de carga transportada por trem no Paraná

A baixa participação do modal ferroviário no transporte de cargas no País é um dos fatores apontados pelos técnicos como de maior impacto no Custo Brasil. O trem precisa carregar uma parte mais expressiva da produção nacional para a economia brasileira ganhar competitividade. Hoje, não leva mais que 30%.

Uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada nesta semana, compara a capacidade do modal ferroviário brasileiro com o de outros países. Em relação aos Estados Unidos, por exemplo, a densidade ferroviária é praticamente nove vezes maior (32 contra 3,6). A medida representa a relação entre um quilômetro de trilho por mil quilômetros de território. Outro grande concorrente brasileiro na produção de grãos, a Argentina tem uma densidade ferroviária 3,5 vezes maior (13,5 contra 3,6).

Apesar disso, o modal pouco tem evoluído no País. E o que é pior, no Paraná, ele andou para trás em 2014. O volume de cargas transportadas sobre trilhos do interior para o porto diminuiu cerca de 5% na comparação com os três anos anteriores, segundo a Pesquisa CNT de Ferrovias 2015. No ano passado, o trem levou 46 milhões de toneladas úteis para Paranaguá, contra uma média de 48,5 milhões de toneladas úteis por ano de 2011 a 2013. O trecho Londrina/Apucarana foi o que mais apresentou redução: de 6,5 milhões de toneladas úteis em 2011 para 5,7 milhões de toneladas úteis em 2014 (-12%).

A CNT analisou 66 trechos de 13 corredores em todo o País. O corredor Paranaguá, concedido para a América Latina Logística Malha Sul (ALLMS), tem 959,9 quilômetros de trilhos, com ramais que se inciam em Londrina, Maringá e Guarapuava em direção a Ponta Grossa e, na sequência, ao porto.

Atualmente, são transportados pela ferrovia açúcar, soja, milho, farelo de soja, óleo diesel, álcool, contêineres, cimento acondicionado, cloreto de potássio, gasolina e calcário corretivo.

Em nota enviada à FOLHA, a ALL alegou que a movimentação foi impactada pela diminuição nas exportações de granéis sólidos em 2014. “No primeiro semestre, a redução de demanda da China levou a uma queda no volume transportado de soja. No segundo semestre, os Estados Unidos apresentaram safra recorde de milho, reduzindo o preço internacional, afetando as exportações brasileiras e consequentemente nossos volumes transportados”, afirma a empresa.

Para o assessor técnico da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Nilson Hanke Camargo, a redução no transporte ferroviário da ALLMS não o surpreende. “Há uma série de problemas com o modal no País. É difícil conseguir contratar frete. As concessionárias costumam fidelizar clientes que têm carga o ano inteiro, como os de açúcar. Pouca gente que trabalha com exportação de grãos consegue fidelizar”, declara. Ele reclama que falta estrutura para o sistema ferroviário brasileiro. “Não há vagões suficientes, os trilhos também não comportam tanta carga”, afirma.

O diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, ressalta que, ao contrário do que ocorreu no corredor Paranaguá, a produção das ferrovias aumentou no País. “É claro que há deficiências, que a malha tem de melhorar em termos de extensão e qualidade, mas, mesmo com dificuldades, a produção vem aumentando lentamente”, declara.

Batista ressalta que os baixos investimento em infraestrutura por parte do poder público e a existência de gargalos operacionais comprometem a eficiência do setor. Em áreas urbanas, as composições chegam a reduzir em oito vezes a velocidade, de 40 quilômetro por hora para 5 quilômetros por hora.

Dos 66 trechos pesquisados pela CNT, 40 operam com velocidade média até 20 quilômetros por hora, sendo a mais alta, 51 quilômetros por hora. Na Malha Sul da ALL, a velocidade vai de 18 a 34 quilômetros por hora. Questionada sobre as razões de o trem não poder ir mais rápido, a assessoria da concessionária justifica que a velocidade é estabelecida pela agência reguladora, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Também por meio de nota, a agência informa que não tem regulamentação de velocidade. “Ocorre que, eventualmente, a ANTT estabelece restrições à velocidade das composições ferroviárias em razão da baixa qualidade da ferrovia, via de regra, por falta de manutenção”, diz a assessoria do órgão.

Fonte:  Folha de Londrina

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