Haddad vê repetição de cenário de 2013

Candidato à reeleição na principal cidade do país, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), tem visto os protestos contra o aumento da tarifa do transporte público no início deste ano repetirem a jornada de manifestações de 2013 e preocupa-se com a contaminação do cenário político nacional. Há três anos, o desgaste político que resultou dos atos atingiu não só o prefeito e o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), que promoveram o reajuste da passagem do ônibus, metrô e trem, mas também a presidente Dilma Rousseff.

Além do receio de que os protestos prejudiquem sua candidatura, Haddad e seus auxiliares acompanham com cautela os desdobramentos dos atos, para tentar impedir que os reflexos políticos cheguem à imagem de Dilma às vésperas da retomada do processo de impeachment pela Câmara. O prefeito age para esvaziar os protestos, antes de março quando estão previstas as manifestações em favor do impeachment.

Ontem, o prefeito conversou com Alckmin para buscar diálogo com os manifestantes, por meio do Ministério Público Estadual, e evitar a violência nos atos – o que poderia aumentar a adesão aos protestos, a exemplo do que houve em 2013. Haddad já havia pedido, na terça-feira, a intermediação do Ministério Público ao secretário de Segurança, Alexandre de Moraes, para que o ato marcado para aquele dia não tivesse conflitos entre PM e manifestantes, mas o protesto foi reprimido pela polícia antes mesmo de a passeata começar. Pelo menos 24 pessoas se feriram e 13 foram presas.

O MPE marcou para hoje uma reunião com representantes da Secretaria de Segurança e do Movimento Passe Livre (MPL), que organiza os protestos. À tarde, haverá outro ato contra o reajuste, com concentração no Teatro Municipal, no centro, e no Largo da Batata, zona oeste da capital.

Depois de ter negociado com Alckmin o aumento conjunto da tarifa de R$ 3,50 para R$ 3,80, que vale desde o dia 9, Haddad tem se desvinculado do governo estadual para evitar ficar com a imagem de apoio à ação da polícia nos dois últimos protestos.

Ontem, o secretário estadual de Segurança afirmou que manterá a estratégia de repressão usada no ato de terça-feira. A PM impedirá qualquer tipo de manifestação se o trajeto não for informado previamente, e o secretário anunciou que ‘black blocs’ detidos serão tipificados como integrantes de organização criminosa. “Não é possível que o direito de manifestação acabe virando baderna, crime”, disse. Moraes afirmou ainda o MPL “acoberta” black blocs nos atos e tem ligações com eles.

Já o prefeito afirmou que vê com “muita preocupação” a repressão e disse que as cenas de violência que foram vistas são “realmente incompatíveis com a cidade” que se deseja. “Queremos que nossa cidade continue sendo um palco de democracia onde as pessoas possam se manifestar livremente”. O Diretório Municipal do PT divulgou uma nota em repúdio à repressão nos dois últimos protestos.

O MPL disse que aumentará a resistência nos protestos e criticou a repressão. O ouvidor em exercício da Polícia de São Paulo, Walter Forster Junior, afirmou que há um “extremismo” tanto da polícia quanto de manifestantes, além de uma “tensão generalizada”. “Devemos procurar o diálogo, senão vai ficar mais difícil para acabar com os protestos”, disse. O ouvidor ponderou que é preciso garantir o livre exercício da manifestação e que o vandalismo sempre aconteceu em protestos desde a década de 60. “A PM tem que acompanhar os atos, não impedi-los”.

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