Em crise, Brasil quer atrair mais capital chinês

Uma forte onda de investimentos de companhias chinesas no
Brasil é esperada para os próximos meses, sobretudo em infraestrutura e
commodities. Para o leilão de transmissão de energia, previsto para setembro, grupos
chineses e outras multinacionais – que já atuam aqui e novas – foram convidados
para participar, segundo fontes ouvidas pelo ‘Estado’.

O desmonte de ativos da Eletrobrás, como as subsidiárias
Eletrosul e Celg, é considerado atraente. Os ativos estão sendo oferecidos a
diversos investidores, chineses ou não. Também estão à venda importantes
negócios do setor, como a Hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, que
tem entre os sócios o grupo Odebrecht, a participação da Light na Renova,
ativos da Abengoa e Duke Energy, dizem fontes. As empresas não comentam.

A State Grid e sua conterrânea China Three Gorges (CTG),
ambas estatais, são apontadas como compradoras de vários ativos no Brasil. A
CTG foi a última a aportar por aqui. Chegou em 2013 e comprou participação em
várias hidrelétricas e, nos últimos meses, arrematou as Usinas Jupiá e Ilha
Solteira, da Cesp.

Nas últimas semanas, representantes da Câmara de Comércio e
Indústria Brasil-China fizeram um “road show” em território chinês para atrair
investidores. “Há grupos que ainda não têm investimentos no Brasil e que estão
sendo apresentadas aos diversos negócios à venda (de infraestrutura ao
agronegócio)”, disse Charles Tang, presidente da entidade, que está na China
nessa comissão e deve voltar no início de agosto.

Entre 2010 e 2015, investidores chineses colocaram entre US$
30 bilhões e US$ 35 bilhões no País, segundo Roberto Dumas Damas, professor de
economia chinesa do Insper. “Estão nessa conta investimentos diretos e em
empresas”, diz. “Os chineses buscam negócios, principalmente, em recursos
naturais e commodities.”

Segundo ele, o total de aporte poderá aumentar, considerando
a recessão econômica e investigações em curso da Operação Lava Jato, que apura
corrupção em contratos da Petrobrás. “Tem vários ativos da Lava Jato à venda e
o Brasil está barato. É uma combinação perfeita.”

Tang estima que os potenciais aportes de chinesas no País
podem chegar a US$ 70 bilhões – considerando os já feitos desde 2010.

Longo prazo. Para Rodrigo Zeidan, da Fundação Dom Cabral, os
investidores chineses olham o Brasil no longo prazo. “Eles consideram o Brasil
como um importante player para fazer frente à dominação dos EUA.”

Após a crise financeira global de 2008, países asiáticos que
apostavam nos EUA e na Europa começaram a buscar oportunidades em países
emergentes. No Brasil, os chineses têm mirado especialmente o setor de
infraestrutura. Além da aquisição de empresas de energia, já demonstraram
interesses em projetos de ferrovias, a exemplo da Bioceânica – uma estrada de
ferro que ligaria os litorais do Peru e do Brasil a um custo de R$ 40 bilhões.
Para os chineses, seria um empreendimento que facilitaria o transporte de grãos
do Centro-Oeste para a China.

“Eles estão comprando tudo”, afirma Luiz Fernando Loene Vianna,
presidente da Copel – sócia da State Grid em três linhas de transmissão, num
total de 2.572 km. “Eles são muito sérios nas obrigações e nos aportes que
precisam fazer.”

 

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