Brasil será o 2º maior produtor do mundo

O Brasil está muito perto de passar de quarto para segundo
maior produtor mundial de celulose, considerando-se todos os tipos de fibra,
atrás apenas dos Estados Unidos. Com o início de operação da nova fábrica da
Klabin, em março, e com a expansão da Fibria em Três Lagoas (MS), no fim de
2017, a capacidade instalada brasileira subirá de 17,4 milhões de toneladas em
2015 para 20,9 milhões de toneladas anuais, superando com folga a da China e a
do Canadá, os atuais segundo e terceiro colocados.

Ironicamente, foi a China que impulsionou o crescimento da
indústria brasileira de celulose nos últimos anos – o Brasil já é líder global
em uma especialidade, a celulose de eucalipto (fibra curta). Há alguns meses, o
país asiático superou a Europa e tornou-se o maior comprador da matéria-prima
produzida no país. De janeiro a agosto, as receitas com exportação para a China
subiram 19%, a US$ 1,373 bilhão, o equivalente a 37% do total.

Ao mesmo tempo, o Brasil assumiu o posto de principal origem
da celulose importada pelos chineses. Em receita, a participação chegou a 23%,
de um total de US$ 5,98 bilhões, considerando-se os oito primeiros meses do ano
e as fibras curta e longa. Em volume, essa fatia é de 25%, de um total de 10,73
milhões de toneladas de celulose importadas. Especificamente em fibra curta, a
participação do país é de 49% em volume (com 2,69 milhões de toneladas) e de
48% em valor (US$ 1,366 bilhão).

Na avaliação da presidente da Indústria Brasileira de
Árvores (Ibá), Elizabeth de Carvalhaes, o fato de a China estar substituindo a
produção local de celulose com alto impacto no meio ambiente por matéria-prima
mais sustentável ajuda a explicar esse movimento. Contribuem ainda os pesados investimentos
em máquinas de papel realizados nos últimos anos naquele país, sobretudo em
tissues (para fins sanitários).

“A China está comprometida com projetos de melhoria do
clima e uma maneira de fazer isso é migrar da celulose que absorve menos
carbono para a matéria-prima brasileira”, diz a executiva. “A
genética arbórea brasileira produz árvores mais capacitadas à absorção do
carbono”, acrescenta. Há nove anos, conta Elizabeth, apenas 14% das
exportações brasileiras da fibra tinham como destino o mercado chinês (contra
os 37% atuais).

As novas capacidades de produção no Brasil, ressalta
Elizabeth, são focadas, principalmente, no mercado chinês. E não há anúncio de
grandes projetos de produção na China para o curto e médio prazos. A próxima
grande fábrica a ser inaugurada na Ásia está em fase final de construção na
Indonésia, que hoje é a nona maior produtora global, com 6,8 milhões de
toneladas ano.

A fábrica OKI, da Asia Pulp & Paper (APP), terá
capacidade total de produção de 2,8 milhões de toneladas e espera-se que uma
parcela significativa desse volume seja direcionada aos chineses. Há ainda
possibilidade de a Vietracimex, do Vietnã, dar a partida em uma linha de 400
mil toneladas de fibra curta em 2017, mas há dúvidas quanto ao status desse
projeto.

No Brasil, a Klabin deu início à produção na fábrica de
Ortigueira (PR) neste ano, adicionando ao mercado 1,1 milhão de toneladas ao
ano de fibra curta e 400 mil toneladas de fibra longa, que também podem ser
convertidas em fluff (usada na produção de fraldas descartáveis e absorventes).
A companhia tem um acordo comercial com a Fibria, que durante quatro anos vai
comprar e revender ao menos 900 mil toneladas da fibra curta produzida na
unidade.

Maior produtora mundial de celulose de eucalipto, com 5,3
milhões de toneladas anuais, a Fibria também está construindo uma nova linha em
sua fábrica sul-mato-grossense. A companhia vai investir US$ 2,3 bilhões no
projeto, com capacidade para 1,95 milhão de toneladas ao ano e início de
operação no quarto trimestre do ano que vem.

A vice-liderança do país no ranking global de produtores
deve ser consolidada com a nova fábrica que a Eldorado Brasil, da J&F
Investimentos, pretende erguer em Três Lagoas. Com investimentos de R$ 10
bilhões, a nova linha poderá produzir até 2,5 milhões de toneladas por ano a
partir de 2019. No entanto, há incertezas no mercado quanto aos prazos do
projeto, uma vez que a companhia ainda não fechou a estrutura de financiamento.

Estaria jogando contra esse passo da Eldorado o envolvimento
em duas investigações, de pagamento de propina e fraude, que resultaram em
ações de busca e apreensão no escritório de São Paulo. Em entrevista recente ao
Valor, o presidente da companhia, José Carlos Grubisich, garantiu que o projeto
está em andamento e a celulose da nova fábrica começará a chegar ao mercado em
2019.

Há outros projetos em curso, especialmente em fibra longa,
que devem entrar em operação entre 2017 e 2018. Contudo, nenhum deles terá
impacto relevante no ranking global de produtores de celulose.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*



0