Em um desfecho surpreendente, Fábio Schvartsman assume a Vale

Numa decisão que surpreendeu por sua velocidade e pelo desfecho, o engenheiro Fábio Schvartsman, CEO da Klabin, foi escolhido ontem para presidir a Vale no lugar de Murilo Ferreira.


Era grande a preocupação dos acionistas controladores em afastar a ideia de uma indicação política para o cargo. Com o anúncio da reestruturação societária para transformar a companhia numa “corporation”, de capital pulverizado, no mês passado, e agora a indicação de Schvartsman, os acionistas querem abrir um novo capítulo para a empresa, buscando afastar a velha imagem de uma empresa privatizada pela metade e que permaneceu sob interferência governamental por ser controlada por fundos de pensão e BNDES.


Ao mesmo tempo, de acordo com uma alta fonte, os sócios querem acabar com a era de CEOs superpoderosos na mineradora, que existiu sob Roger Agnelli e também com Ferreira. Ao menos enquanto existir bloco de controle, previsto para perdurar até 2020 segundo a reestruturação proposta.


Schvartsman constava de uma lista que na partida contava com cerca de 30 nomes e que, ao final, foi reduzida a apenas seis. De acordo com duas pessoas próximas ligadas aos sócios controladores da Vale, a sugestão de seu nome partiu da empresa de headhunter Spencer Stuart, contratada há menos de vinte dias para conduzir a seleção. A velocidade da escolha, esperada para daqui uma semana a quinze dias, buscou estancar um processo de desgaste para a mineradora, que ameaçava tomar proporções maiores. Segundo uma fonte, Ferreira vinha externando insatisfação com sua substituição em conversas com investidores.


Um comitê formado por Gueitiro Genso, presidente da Previ, Fernando Buzzo, presidente da Bradespar, Eliane Lustosa, diretora de mercado de capitais do BNDES, e Oscar Camargo, da japonesa Mitsui, analisou e entrevistou os seis finalistas selecionados pela Spencer Stuart. O comitê se reportou a Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil, e Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, que deram a palavra final.


Pesaram a favor de Schvartsman, entre outras coisas, seu talento para lidar com pessoas, capacidade de aglutinar a equipe e delegar funções e seu desempenho à frente da Klabin e também como diretor financeiro da Ultrapar, empresa que ajudou a conduzir para o modelo de corporation. Por quatro vezes, foi eleito “Executivo de Valor” do setor de papel e celulose.


Se a escolha foi técnica, não escapou da devida costura política. Coube a Caffarelli levar o nome de Schvartsman, depois de escolhido, ao presidente Michel Temer, que o aprovou. O senador Aécio Neves também foi informado e buscou a opinião do economista e investidor Armínio Fraga. Fraga confirmou ao Valor ter sido consultado previamente, sem dizer por quem.


“Considero uma escolha excelente. Ele tem todas as qualificações: reputação, competência, experiência ímpares”, afirmou Fraga. “Claro que a empresa tem acionistas públicos e importância nacional, mas o nome do escolhido garante que a escolha foi meritocrática, na linha já adotada em Petrobras, BNDES e Eletrobrás “, disse.


Para bater o martelo com a mineradora, Schvartsman precisava chegar a um acordo com a Klabin sobre sua saída. Sua confirmação foi dada ontem aos sócios da Vale. A eleição do executivo pelo conselho de administração da mineradora, que vazou no meio da tarde, foi confirmada em comunicado de fato relevante da companhia pouco antes das 19 horas.


Antes mesmo da confirmação, a reação do mercado foi no sentido de referendar a escolha. As ações da Vale subiram e ajudaram a reverter a baixa da bolsa, enquanto as da Klabin aceleraram a queda que já registravam no dia. Vale PNA fechou em alta de 2,49%, enquanto o papel ON subiu 1,34%. A unit da Klabin perdeu 3,72%.


De acordo com uma pessoa a par do processo, foram considerados para o cargo o executivo Carlos Ghosn, CEO da Nissan que está prestes a passar o bastão a um sucessor, e Maria Silvia Marques, a presidente do BNDES. Ghosn só estaria disponível para assumir a presidência da Vale em 2018.


O nome de Schvartsman, desde o início um favorito, foi mantido em sigilo e não apareceu em nenhuma das listas que especularam sobre os candidatos. Muitos nomes que circularam com insistência nos últimos dias nem chegaram a fazer parte da seleção. Foi o caso de Rômulo Dias, o ex-presidente da Cielo que agora ocupa um cargo na diretoria do Bradesco, e também o de Nélson Silva, diretor da Petrobras.


Em comentário a investidores, a corretora Itaú BBA disse que o anúncio deve ser positivo para a Vale, pois Schvartsman é bem visto pelos investidores e é um executivo experiente. Avaliou ainda que, para a Klabin, o anúncio deve ser levemente negativo no curto prazo, uma vez que havia expectativa de que o executivo renovasse seu mandato como presidente da empresa por mais três anos.


Uma dúvida no mercado hoje é se Schvartsman será um presidente de transição em um momento em que a Vale avança para unificar ações e listar os papéis no Novo Mercado da BM&FBovespa.


A razão para a dúvida está na idade de Schvartsman, que tem 63 anos, e no fato de que, na Vale, existe uma espécie de acordo tácito entre os acionistas de que os diretores-executivos se aposentem quando completam 66 anos.


Se o entendimento prevalecer, Schvartsman ficaria na Vale por um mandato de dois anos, coincidindo de certa maneira com o período previsto para a unificação das ações, que é até 2020. “A empresa não tem limite de idade em seu estatuto”, afirmou uma pessoa ligada aos sócios. “A idade dele não foi uma questão e não é relevante”, completou a mesma pessoa.



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