A proposta do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para privatizar
as linhas 5-Lilás (Capão Redondo-Chácara Klabin) e 17-Ouro (Congonhas-Morumbi)
do Metrô paulista foi tachada de “escandalosa” pelo coordenador geral
do Sindicato dos Metroviários Wagner Fajardo, durante audiência pública
realizada na noite de ontem (29), na Assembleia Legislativa de São Paulo.
“Essa licitação é um escândalo. Nós vamos à greve e vamos à Justiça contra
isso. Não vamos aceitar essa entrega do patrimônio público”, afirmou
Fajardo.
Para os trabalhadores, a proposta de lance mínimo do governo
Alckmin é irrisória perto do valor das obras. O lance inicial proposto é de R$
189 milhões, pelas duas linhas. O valor corresponde a aproximadamente 2% do que
o governo está investindo na construção dos trechos. Até dezembro, o orçamento
estimado era de R$ 10 bilhões.
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No entanto, em março deste ano a base do governador na
Assembleia aprovou a transferência de R$ 200 milhões para a Linha 5, que
estavam destinados à Linha 6-Laranja (Brasilândia-São Joaquim). Mudança feita a
pedido de Alckmin. “Só essa transferência já cobre o valor do lance
mínimo. O governo constrói com dinheiro público e depois entrega de bandeja
para a iniciativa privada lucrar muito, sem necessidade de investir nada”,
afirmou o deputado estadual Carlos Gianazzi (Psol), que organizou a audiência.
O valor cobrado pelo governo também é equivalente a apenas
cinco dos 26 novos trens da Linha 5-Lilás, que ao todo custaram R$ 630 milhões
aos cofres paulistas, mas que estão sem utilização, por causa dos recorrentes
atrasos nas obras (iniciadas em em 1998). Pela concessão – que terá vigência
por 30 anos –, será pedida somente a outorga onerosa mínima de R$ 189 milhões, mais
1% da arrecadação tarifária e 1% da receita com publicidade e utilização de
espaços comerciais.
Para os participantes, a privatização das linhas se vale de
uma falsa ideia de que a iniciativa privada é sempre melhor. E busca compensar
trocas de financiamento de campanha de Alckmin, que recebeu boa parte das
doações na eleição de 2014 de empresas envolvidas no cartel investigado pelo
Ministério Público paulista. “Precisa ficar claro à população que quem
quer privatizar tem rabo preso com a corrupção disfarçada de financiamento de
campanha”, afirmou o diretor da Federação Nacional dos Metroviários
(Fenametro) Paulo Pasin.
Os trabalhadores pretendem apresentar quatro pedidos de
investigação ao Ministério Público, aproveitando a audiência, sobre os R$ 200
milhões transferidos após o anúncio da privatização, os 26 trens sem uso na
Linha 5, comprados em 2013 por R$ 630 milhões e que serão repassados à empresa
que vencer a licitação, a insegurança do novo sistema de controle de trens que
está sendo instalado na rede e a contratação do ex-executivo da Odebrecht –
empresa investigada na Operação Lava Jato – Lucas Bermutto, para o setor de
planejamento do Metrô.
Segundo o coordenador nacional do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, é absurdo que Alckmin proponha
nova privatização depois da Linha 4-Amarela (Luz- Butantã). “As empresas
que administram a linha participaram do consórcio que a construiu. Daí
atrasaram a obra de um lado, depois entraram na justiça para cobrar indenização
de R$ 400 milhões pelo atraso. É um escárnio. Os empresários só ganham”,
afirmou.
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