Arauco, Suzano e Fibria estudam fazer ofertas pela Eldorado

Produtores de celulose do Brasil e de outros países estão se
posicionando para apresentar à J&F Investimentos ofertas pela Eldorado
Brasil, produtora de celulose do grupo, apurou o Valor. A chilena Arauco
contratou o Santander para auxiliá-la na possível compra e, de acordo com uma
fonte, já estaria analisando o ativo. A Suzano Papel e Celulose concedeu o
mandato a dois grandes bancos brasileiros. A Votorantim, controladora da
Fibria, também tem interesse, embora preço e detalhes do acordo de leniência firmado
pela J&F possam ser empecilhos a uma oferta vinculante, segundo fontes. O
grupo já conta com a assessoria do banco Morgan Stanley.

Dois executivos de bancos que analisam o ativo calculam que
os acionistas poderiam receber entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões (equity
value), já descontada a dívida de quase R$ 8 bilhões. Além da J&F, são
acionistas da Eldorado os fundos de pensão Funcef e Petros, por meio do fundo
FIP Florestal.

Segundo fontes, na reta final da disputa, um arranjo entre
uma fabricante local e uma companhia estrangeira, aos moldes da Veracel (joint
venture entre Fibria e Stora Enso) não surpreenderia.

A outra opção – união de Fibria e Suzano numa proposta
conjunta, repetindo a dobradinha de 2004 para compra da antiga Ripasa – é
vista, hoje, com pouca chance. E a associação poderia enfrentar resistência no
Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

À época, para frear o avanço de estrangeiros no país, a
Votorantim Celulose e Papel (hoje Fibria) e Suzano compraram juntas e
constituíram o Consórcio Paulista de Celulose e Papel (Conpacel). Mas, para um
executivo do setor financeiro, Suzano pode ir sozinha, de olho em uma futura
fusão com a Fibria.

Nos últimos dias, circularam no mercado vários nomes de
potenciais interessados na Eldorado, que oficialmente não foi colocada à venda
pela J&F. O grupo até agora não mandatou banco para oferecer o ativo,
segundo pessoas do setor e de bancos, e os irmãos Joesley e Wesley Batista
estão empenhados pessoalmente em conversar com os interessados. A quem os procura,
eles têm usado o discurso de que há vários compradores para a empresa. Os
bancos credores do grupo também estão determinados a valorizar o ativo.

O único processo oficial de venda de ativos do grupo até o
momento é o da empresa de lácteos Vigor, a cargo de Bradesco e Santander. Mas
alguns grupos também já têm se aproximado da J&F para tratar sobre a
Alpargatas, segundo fontes.

No caso da Eldorado, além da Arauco, outra chilena, a CMPC,
foi mencionada como uma potencial interessada. Porém, para uma fonte da
indústria, seu endividamento neste momento não permitiria uma operação de maior
fôlego. A sino-indonésia Asia Pulp & Paper (APP) também é lembrada como
potencial interessada, mas fonte próxima à empresa lembrou que o foco neste
momento está no investimento na fábrica OKI, em Sumatra, que terá capacidade
para quase 3 milhões de toneladas por ano.

Procurada, a Suzano informou que não comenta o assunto. A
Fibria disse que “não há, no momento, nenhuma negociação envolvendo
eventual fusão ou aquisição entre Fibria e Eldorado Celulose. A Fibria segue
focada no seu projeto de crescimento orgânico por meio da ampliação da unidade
de Três Lagoas (MS)” e a prioridade é Procurada, a Suzano informou que não
comenta o assunto. A Fibria disse que “não há, no momento, nenhuma
negociação envolvendo eventual fusão ou aquisição entre Fibria e Eldorado
Celulose. A Fibria segue focada no seu projeto de crescimento orgânico por meio
da ampliação da unidade de Três Lagoas (MS)” e a prioridade é concluir o
projeto em setembro, “o que representa uma antecipação em relação ao plano
original, inicialmente previsto para o último trimestre do ano”.

De sua parte, a J&F informou que não comenta o assunto.
A holding dos Batista não abriu um processo mais organizado de venda, com abertura
de um “data room” para receber propostas.

A Arauco, um dos maiores grupos florestais do Hemisfério
Sul, já tem operação no Brasil, mas ainda não produz celulose localmente. No
país, sua especialidade são os painéis de madeira. Na avaliação de uma fonte,
os chilenos saem em vantagem no processo de disputa pela Eldorado no que diz
respeito a custo de capital. No ano passado, teve vendas líquidas de US$ 4,8
bilhões e resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização
(Ebitda) ajustado de mais de US$ 1 bilhão.

Para a Fibria, que está prestes a colocar em operação nova
linha na fábrica de Três Lagoas (MS), haveria sinergias, na avaliação de um
especialista, de “bilhões de reais” com a potencial integração da
fábrica da concorrente, que foi construída no mesmo município
sul-mato-grossense, porém na ponta oposta. Por isso, a empresa da Votorantim e
BNDES é vista como a maior interessada em ficar com o ativo – até pagando um
pouco mais – e evitar que um concorrente estrangeiro no seu calcanhar.

“A Fibria seria a candidata mais forte em uma situação
normal, mas agora parece mais difícil que a empresa coloque um cheque na mão
dos Batista, já que tem o BNDES como seu acionista”, ponderou um
executivo. A empresa já é a maior produtora mundial de celulose de eucalipto e
teve, com receita de R$ 9,6 bilhões em 2016.

Já a Suzano tem o balanço mais estruturado para absorver a
aquisição, na avaliação de uma fonte. Com receita líquida de R$ 9,9 bilhões em
2016, a companhia está em franco processo de desalavancagem, com sucessivas
reduções do custo caixa de produção, uma importante métrica para essa
indústria, que indica o desembolso efetivo de dinheiro para produção da
celulose. Mas não estaria disposta a destruir valor para seus acionistas – a
família Feffer.

Além da dívida e de dúvidas sobre o acordo de leniência, há
mais ponderações sobre o ativo de celulose da J&F. Questiona-se a operação
da Eldorado, embora seja consenso que sua fábrica foi construída com tecnologia
de ponta. As dúvidas dizem respeito à disponibilidade de madeira para a unidade
fabril, que produz 1,7 milhão de toneladas por ano, no médio e longo prazos, e
sobre seus custos com logística, que seriam mais altos do que a média do setor
devido ao uso de rodovias e contêineres no transporte, não comum para celulose.

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