Uma das grandes preocupações suscitadas no mercado após a
venda à ChemChina, a governança corporativa da Syngenta será preservada,
sinalizou ontem o vice-presidente do conselho de administração da empresa,
Michel Demaré.
Vários termos no acordo reforçam o comprometimento com
a governança corporativa e com a segurança alimentar. A Syngenta continuará a
ser uma empresa privada e seguiremos comprometidos com a transparência,
enfatizou Demaré, que presidia o conselho da Syngenta até a última segunda-feira,
quando assumiu o cargo de vice e deu lugar ao chinês Ren Jianxin no comando.
A jornalistas do mundo todo, o executivo chinês também
reforçou ontem a importância da segurança alimentar, especialmente em tempos de
mudança demográfica. As mudanças na nossa sociedade aumentam a demanda
por alimento. Muitas regiões do mundo, incluindo a China, estão enfrentando
problemas com envelhecimento da população. Melhorar a eficiência e qualidade da
produção de comida nunca foram tão importantes para sobrevivência, sustentou
Jianxin.
O executivo também disse que aquisição da Syngenta ajudará a
prover alimentos à China, sem que isso signifique um problema para o meio
ambiente, frisou o chinês.
Sob o comando da ChemChina, a Syngenta também pretende
manter pesados investimentos em pesquisa e desenvolvimento. ChemChina e
Syngenta compartilham uma visão de longo prazo, o que vai nos permitir
continuar investindo agressivamente em pesquisa, disse Demaré.
Anualmente, a Syngenta investe globalmente US$ 1,3 bilhões
em P&D. A tendência é que essa cifra cresça. Essa transação garantirá
o investimento de longo prazo em inovação, acrescentou Demaré.
Do ponto de vista estrutural, a Syngenta também não será
alterada, asseguraram os executivos. Não mudar radicalmente os negócios é, aliás,
um característica da empresa chinesa. Fundada em 2004 e sediada em Pequim, a
ChemChina vem fazendo aquisições desde 2006.
Desde então, gastou bilhões de dólares em compras na França,
Itália, Alemanha, Israel e Reino Unido. As aquisições mais notáveis incluem a
fabricante italiana de pneus Pirelli, transação que envolveu cerca de US$ 7,7
bilhões em 2015, e o grupo israelense Adama, o maior fabricante mundial de
pesticidas genéricos, por cerca de US$ 2,4 bilhões em 2011. Outras aquisições
incluem Adisseo Group, da França, e Rhodia, da área de nutrição animal e
silício orgânico, respectivamente, e o KraussMaffei, empresa alemã que fabrica
equipamentos para processar plásticos e borrachas.
Ontem, Demaré o papel do grupo chinês no processo de
consolidação das gigantes no agronegócio mundial. Dois anos atrás, a
Syngenta recebeu uma proposta hostil da Monsanto. Hoje estamos aqui para
receber um futuro com confiança e otimismo. A Syngenta iniciou uma consolidação
no mercado que acertou todos os players mundiais, disse, destacando que
as dificuldades no setor foram fundamentais para esse movimento.
Foram cinco anos de condições de mercado desafiadoras,
caracterizadas por excesso de oferta [de defensivos], baixos preços de
commodities e altos custos de pesquisa, acrescentou Demaré. Com a
transação, os executivos acreditam que a Syngenta ocupará papel singular na
produção de alimentos.
Entre os mega-negócios do setor, a venda da Syngenta foi a
primeira a ser concluída. No caso da fusão entre as americanas Dow Chemical e
DuPont, negócio de US$ 145 bilhões, ainda faltam a aprovação de alguns países,
como Canadá e México. Também faltam cerca de dez países para a conclusão da
venda da Monsanto para a Bayer, por US$ 66 bilhões, o que pode ocorrer em
julho.
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