O impressionante avanço da soja nas últimas duas décadas no
Brasil, quando a produção aumentou a uma taxa anual de 13,4%, foi puxado pela
expansão da área plantada – principalmente sobre pastagens degradadas -, que
superou 1 milhão de hectares por ano e totalizou, na safra 2015/16, 58,3
milhões. Alardeados com certa frequência, os ganhos de produtividade que
ajudaram a ampliar a colheita para 95 milhões de toneladas no ciclo passado
foram de, em média, 1,42% ao ano no período.
Apesar de menor que o ritmo de incremento da área, o
percentual de alta do rendimento das lavouras não pode ser considerado
desprezível, conforme pesquisadores da Embrapa Soja que fizeram o raio-X do
avanço que tornou a soja o carro-chefe do agronegócio nacional. Mas a avaliação
da divisão da estatal, com sede em Londrina (PR), é que essa velocidade poderá
aumentar, o que seria importante tendo em vista que já não há mais tanta área
disponível para abrigar novas plantações.
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Debruçados sobre esses números, pesquisadores da Embrapa
Soja, com sede em Londrina (PR), analisaram a expansão da oleaginosa, que é o
carro-chefe do agronegócio nacional, nos 15 Estados onde a cultura tem alguma
relevância. E constataram que o Mato Grosso, líder na produção nacional de
soja, destaca-se com taxa média de crescimento de 360 mil hectares por ano.
Rio Grande do Sul e Paraná, que vêm na sequência dos maiores
Estados produtores, também apresentaram elevadas taxas absolutas de aumento de
área (115 mil hectares/ano e 143,9 mil hectares/ano, respectivamente). Em
termos relativos, Pará e Rondônia foram os que registraram os maiores
crescimentos percentuais de área durante as últimas 20 temporadas agrícolas.
Segundo a pesquisa, é possível notar que o Mato Grosso
manteve sua produtividade praticamente estável ao longo desses 20 anos, numa
média de (49,6 sacas de 60 quilos/hectare). No Rio Grande do Sul, a
produtividade durante essas décadas registrou grande aumento, indo de 10
sacas/ha a 53,3 sacas/ha. Mas os gaúchos, juntamente com o Piauí, destacaram-se
negativamente no rol dos Estados com as menores produtividades médias
brasileiras ao longo dos 20 anos (inferiores a 40 sacas/ha).
Contudo, na leitura de pesquisadores responsáveis pelo
estudo e do presidente da estatal, Maurício Lopes, não é correto fazer uma
“análise fria” de que a produtividade cresceu pouco e de que houve
falhas na geração de tecnologia no Brasil. Para a Embrapa, o rendimento não
mostrou avanços tão expressivos como a área cultivada, pois a produção ocupou
sobretudo áreas de pastagem degradada, herdadas da pecuária e caracterizadas
principalmente pela baixa produtividade.
“É óbvio que nos primeiros anos de uso desse solo
degradado, a produtividade não vai ser a mesma que de uma área consolidada, mas
depois de dois a três anos de cultivo a produtividade tende a aumentar”,
disse Lopes. “De 10 anos para cá, a gente percebe que os produtores vêm
plantando e colhendo soja cada vez mais cedo, cultivando variedades de ciclo
mais curto e menos produtivas, tudo para aproveitar a janela de milho”,
acrescentou.
Para Lopes, também é incorreto comparar a produtividade da
soja brasileira com a da soja dos EUA – o principal concorrente do Brasil. Ele
argumenta que o cinturão da soja nos EUA se caracteriza por uma homogeneidade
de solo, clima e produção, diferentemente do Brasil, onde o clima tropical
impõe vários desafios, como chuvas irregulares. Além disso, há solos carentes
que precisam de correção.
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