Transportar mercadorias por trem traria preços mais
competitivos para os produtos brasileiros no exterior, segundo o Porto de
Itajaí. Porém, o custo inicial é alto e às vezes são necessárias outras obras
ao redor da estrada férrea. No Norte do estado, por exemplo, um viaduto
inacabado que passaria acima de uma ferrovia traz transtornos aos motoristas,
como mostrou nesta terça-feira (29) a segunda reportagem de uma série exibida
pelo NSC Notícias.
Vantagem nos custos
O Complexo Portuário de Itajaí, que inclui os portos de
Itajaí e Navegantes, é o segundo que mais movimenta contêineres no país.
Atualmente, caminhões trafegam mais de 500 quilômetros do Oeste dos estado para
trazer mercadorias.
O superintendente do Porto de Itajaí, Marcello Werner
Salles, vê vantagens caso os produtos fossem trazidos de trem. “Eu
acredito que teríamos mais de 50% de volume agregado ao complexo
portuário”, afirmou.
Construir uma ferrovia é três vezes mais caro do que uma rodovia.
Mas a vantagem vem depois porque o combustível e a operação do trem são bem
mais baratos do que os do caminhão. Dessa forma, o preço da mercadoria cairia e
a empresa conseguiria competir melhor com outros países.
Como mostrou a reportagem, nos Estados Unidos, as
mercadorias que saem de Long Beach, na costa Oeste do país, chegam a Miami, na
costa Leste, por trem. A distância total é de cerca de 5 mil quilômetros. O
custo é menor do que trazer uma carga do Paraná até os portos do Complexo de
Itajaí, em um trajeto de 700 quilômetros.
O professor de Comércio Exterior da Universidade do Vale do
Itajaí (Univali) Bruno Meurer de Souza também apontou outra desvantagem do
transporte rodoviário: “Se você pega um congestionamento na estrada e não
entrega a carga no porto dentro do que a gente chama de deadline, que é o prazo
para embarcar naquele navio, você só consegue embarcar no navio da semana que
vem”.
Ferrovia no Norte
Se a ferrovia em Santa Catarina fosse até o Norte do estado,
onde já há estrada de ferro, a obra seria cinco vezes menor. Mas a linha atual
só transporta grãos e só até o porto de São Francisco do Sul. Para o
pesquisador e engenheiro aposentado Sílvio dos Santos, a solução é convencer a
empresa a transportar contêineres e fazer um terminal terrestre para abastecer
os portos.
Porém, a ferrovia no Norte do estado traz transtornos por
causa de uma obra inacabada. Era para ser um viaduto e custou mais de R$ 10 milhões.
Os carros iam passar por cima do trem. Porém, como a obra parou, todo mundo
precisa esperar. Os motoristas chegam a ficar 40 minutos parados até que o trem
passe. E antes de chegar a São Francisco do Sul, a ferrovia também para o
trânsito em Joinville, também no Norte.
Por dia, aproximadamente 240 vagões passam pela ferrovia no
Norte. Seriam necessários 800 caminhões para levar toda a carga. Mas para não
atrasar a vida dos moradores, são necessários contornos viários.
No caso de Joinville, a obra começou em 2009. Em 2011, os
trabalhos pararam porque, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura
(Dnit), o solo era muito mole e não havia estabilidade.
Em São Francisco do Sul, o problema é o mesmo. O professor e
especialista em geotécnica Jonatas Sosnoski afirmou que era possível ter
descoberto antes que o solo era muito mole nas duas cidades. Agora, as obras
vão ficar mais difíceis e mais caras.
“Se essa camada de solo estiver mais profunda, 10 a 15
metros de profundidade, o meu projeto de fundações tem que prever elementos de
fundações que atravessem essa camada”, afirmou o professor.
Nas duas obras, o Dnit refaz os projetos e a conta. O que
iria custar R$ 86 milhões vai passar para R$ 370 milhões. “Nós temos
previsão já para o início do próximo ano de ter a revisão do projeto aprovado
e, se Deus quiser, mantendo a expectativa, início de obra para o segundo
semestre”, afirmou o coordenador de Construções Ferroviárias do Dnit, Jean
Carlo Trevizolo de Souza.
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