Pacote de concessões vai na direção certa, dizem analistas

O pacote de concessões do governo federal vai na direção
certa, segundo analistas, apesar da pressa e da preocupação com a motivação
fiscal. Há divergências sobre a atração de investidores e o cumprimento de
prazos, que pode ser afetado pelo calendário eleitoral, embora muitos acreditam
na viabilidade de leiloar parte importante dos 54 ativos incluídos no pacote.

Para Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria
Internacional de Negócios, o pacote é uma oportunidade para o BNDES, que tem
capacidade mais do que suficiente de pessoal e estrutura para ser o condutor do
processo de concessões e privatizações do Programa de Parcerias de
Investimentos (PPI), contratando estudos de modelagem de participação privada,
além de possivelmente estruturar a venda.

“O BNDES tem atualmente excesso de capacidade, dada a
queda das consultas por empréstimos. Só não vejo o BNDES participando desse
processo como financiador, como foi no passado”, disse.

A pressa e a motivação fiscal são dois pontos de atenção no
novo pacote de privatizações anunciado ontem pelo governo federal, mas a
iniciativa vai na direção correta, acredita Marcos Siqueira, sócio da Radar
PPP.

Para Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector
Consultores, o novo programa de privatizações já nasce sob a marca da
improvisação, anunciado de maneira abrupta e com a intenção de cobrir o rombo
fiscal. O rápido aumento na oferta de ativos no mercado deve contribuir para a
derrubada de preços, o que poder frustrar a intenção do governo de obter ao
menos R$ 40 bilhões com o programa.

Além disso, diz Silveira, a falta de correta avaliação dos
ativos, de modelagem clara, de “roadshows” para atração de
investidores internacionais e de amplo debate com atores econômicos pode inibir
a atração de investimentos.

Frischtak é mais otimista. Ele diz que as condições do
mercado internacional seriam favoráveis para as privatizações: excesso de
liquidez, juros baixos e procura por retorno. Por isso, o pacote de
privatizações lançado pelo governo federal tem potencial para atrair interesse
de investidores para praticamente todos os ativos.

Segundo Frischtak, o governo deve conseguir vender parte dos
57 ativos anunciados no fim do segundo trimestre de 2018. O quadro eleitoral
pode fazer diferença. “Se tivemos um candidato centrista com chances
razoáveis, teremos uma boa disputa pelos ativos. Deveremos ver os editais sendo
lançados no primeiro trimestre e as vendas acontecendo no segundo trimestre do
ano que vem.”

A recuperação da economia brasileira prevista para os
próximos trimestres deve aumentar o interesse, diz o coordenador de Economia
Aplicada do Ibre-FGV, Armando Castelar. “Interesse vai haver sim, pela
Eletrobras, por Congonhas e outros ativos. O nível de interesse será
determinado também pela modelagem. Se for escolhido modelo em que o setor
público tem poder de veto em muita coisa, o interesse é menor.”

Para Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, o plano de
concessões vai na direção certa. Para os aeroportos, porém, ele prefere a venda
separada dos ativos e não em três blocos que reúnem os mais lucrativos aos
deficitários. “Não gosto da ideia de misturar o filé mignon com carne de
pescoço.”

Para ele, seria mais interessante leiloar separadamente,
para tirar o valor máximo possível para os ativos atraentes. Uma parte dos
recursos dos leilões pode ir para um fundo garantidor, sugere, que financiaria
a contraprestação de PPPs para os aeroportos menos atraentes. A estratégia de
vender separadamente Congonhas e à vista, diz ele, é interessante. Para Gesner,
a proposta parece conciliar medidas fiscais com as de melhora da infraestrutura
e de recuperação da economia.

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