Temer aposta nas concessões para ganhar popularidade

O pacote de privatizações lançado pelo governo é a aposta do
presidente Michel Temer não apenas para tentar conter o rombo no Orçamento e
enfrentar a crise econômica, mas também para recuperar popularidade em 2018, ano
eleitoral. Pesquisas feitas em redes sociais nos últimos dias, já analisadas
pelo núcleo político do Palácio do Planalto, mostraram que, quando o tema
privatização é abordado, a aprovação do governo sai de 4% e chega a 15%.

O “salto” ocorre somente nesse caso. Os dois dígitos foram
obtidos nesta segunda-feira, 21, quando o Ministério de Minas e Energia
anunciou a venda da Eletrobrás, e se mantiveram com a divulgação de que a Casa
da Moeda e o aeroporto de Congonhas estão na lista do que será oferecido à
iniciativa privada.

Na avaliação de auxiliares de Temer, as privatizações podem
dissipar as desconfianças do mercado sobre os rumos da economia e, de quebra,
reaproximar o discurso do governo da sociedade, principalmente da classe média.
Desde as delações da JBS, que vieram à tona em maio, levantamentos indicam a
deterioração da imagem do presidente.

Foi por isso que os dados obtidos nas redes sociais após o
anúncio do plano animaram o Planalto e a cúpula do PMDB. Agora, até mesmo uma
pesquisa qualitativa da Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT, está
sendo lembrada por interlocutores de Temer para mostrar que a população quer um
Estado mais enxuto.

Feita entre novembro de 2016 e janeiro deste ano na
periferia de São Paulo, a consulta revelou que ex-eleitores do PT veem o Estado
como “inimigo” responsável por se apropriar do dinheiro dos impostos e fornecer
serviços de baixa qualidade.

Para o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), o pacote
não tem apenas objetivo fiscal. “É evidente que, do ponto de vista econômico e
social, deveríamos ter um programa para enfrentar o desafio do emprego e da
renda, além de melhorar a infraestrutura”, argumentou ele.

Racha. A base aliada do governo, porém, já começou a
criticar a proposta. As resistências aparecem cada vez mais fortes no
Congresso, mas, em conversas reservadas, muitos políticos observam que a queixa
tem como pano de fundo o medo de alguns colegas de perder cargos em estatais
com gordos orçamentos, como a Eletrobrás.

“Eu tenho zero de cargo”, afirmou o senador Edison Lobão
(PMDB-MA), ex-ministro de Minas e Energia, que é contra a venda da Eletrobrás.
Questionado sobre o domínio do grupo do ex-presidente José Sarney (PMDB) –
integrado por ele – na distribuição de diretorias do sistema elétrico, Lobão disse
que isso “é uma falácia”. E completou: “Nada é particularmente do Sarney nem
meu”.

Adepto da máxima “quanto menos Estado, melhor”, o líder do
DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), afirmou que a Lava Jato jogou luz sobre a
corrupção nas estatais. “Historicamente, essas empresas têm servido de
instrumento para financiar projetos político-partidários dos governos de
plantão”, disse. Efraim lançou até um desafio aos colegas contrários às
privatizações: “Se hoje as telefônicas pertencessem ao Estado, será que o
serviço prestado seria melhor?”

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