Crescimento da China puxa minério e metais em agosto

Agosto foi um mês de dois extremos para as commodities
industriais. Enquanto os produtos que dependem mais da China – notadamente,
minério de ferros e metais não ferrosos – demonstraram recuperação
surpreendente, o petróleo, ainda pressionado pelo lado da oferta dos Estados
Unidos, registrou queda no período.

O minério com teor de 62% de ferro no porto de Qingdao, uma
das principais referências no mercado transoceânico, terminou ontem o mês em
US$ 78,91 por tonelada, maior preço em dez dias e consolidando alta de 7,1% em
agosto. Com isso, no ano o insumo acumula leve alta de 0,1%. O levantamento é
da “Metal Bulletin”.

No mês, a China, maior compradora da matéria-prima no mundo,
continuou com nível bastante elevado de produção siderúrgica. Em julho, por
exemplo, o país fabricou 74 milhões de toneladas de aço bruto, um forte
crescimento de 10,3% na comparação anual, em reflexo do mercado de construção
aquecido.

Em agosto, mostram dados oficiais do governo central, a
atividade também continuou intensa. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na
sigla em inglês) industrial do país subiu acima do esperado pelo mercado, para
51,7 pontos. Só no setor do aço, o aumento foi para 57,2 pontos, maior nível
desde abril de 2016. Patamar acima de 50 pontos indica expansão.

“O índice sugere que a produção industrial desafia a
desaceleração generalizada da economia”, escreveu a consultoria Capital
Economics em relatório. “Suspeitamos que a causa disso seja o aumento da
produção de metais e aço, encorajado pelo repique nos preços
recentemente.”

Mas os sinais, em geral, são de que esse cenário vá perder
sustentação logo. Um dos motivos que levou à rápida valorização do minério, por
exemplo, pode também minar a demanda pela commodity. Os esforços chineses para
conter a poluição levaram a uma corrida por insumo de maior qualidade, com
pureza de 62% ou superior.

O governo central, em especial durante o Congresso Nacional
do Partido Comunista, em setembro, vai limitar a atividade das usinas
siderúrgicas. “Enxergamos o enfraquecimento das compras de novas cargas a
partir de outubro, um mês antes de cortes de capacidade produtiva do aço”,
informa o Credit Suisse, em relatório. “Usinas em Hebei, Shandong, Shanxi,
Henan e Tianjin devem reduzir a produção pela metade até 15 de março, o que
pode minar a demanda por minério em 85 milhões de toneladas durante o
período.”

A certeza do mercado é tamanha nessa reversão dos preços que
o repique de agosto não provocou revisão profunda das estimativas. A média de
projeções de 19 instituições financeiras consultadas pelo Valor continua
apontando para US$ 55 no fim do ano.

Entretanto, para o terceiro trimestre, os analistas já
calculavam que o minério valeria entre US$ 60 e US$ 65. Até agora, com dois
terços do período passados, a cotação média é US$ 71,59 – 13,6% a mais do que
no segundo trimestre e alta de 22,7% na comparação anual.

Mesmo com o real mais forte frente ao dólar do que em outros
momentos do ano, a situação é muito boa para a Vale. O BTG Pactual disse em
relatório recente que a manutenção do minério em qualquer faixa acima de US$ 60
já torna o investimento nas ações da mineradora interessante.

Outro complexo de commodities que reagiu a essa intensa
atividade chinesa foi o dos metais não ferrosos. Em agosto, o contrato futuro
de três meses do alumínio subiu 11%, para US$ 2.117 a tonelada, o cobre avançou
7%, para US$ 6.788, o níquel ganhou 15%, terminando a US$ 11.800, e o zinco
teve alta de 12%, para US$ 3.146.

Todos os preços de fechamento do mês estão próximos do maior
preço ao menos desde 2014. Para o alumínio, pesou o fechamento de fundições
chinesas e para o cobre, ainda a perspectiva de demanda da infraestrutura
americana.

Para o petróleo, a situação foi inversa. Mais uma vez a
predominância foi dos Estados Unidos na formação de preço, mas, nesse caso,
como pressão negativa. A crescente produção da commodity no país e a passagem
do furacão Harvey, que paralisou refinarias próximas ao Estado do Texas,
pesaram sobre a cotação.

No mês passado, o segundo contrato do Brent registrou
desvalorização de 0,2%, para US$ 52,86, na ICE Futures de Londres. Ao mesmo
tempo, o WTI recuou 6,3%, para US$ 47,23, em Nova York.

Na penúltima semana do mês, a produção americana de petróleo
foi de 9,5 milhões de barris por dia, 9% a mais do que no fim de 2016. É também
o volume mais intenso desde julho de 2015. A consultoria Rystad Energy prevê
que só no xisto, que corresponde à maior parte da extração no país e a que
cresce mais rápido, o aumento será de 516 mil barris diários em 2017. Depois,
até 2020, a alta deve ser de 1,2 milhão de barris, em média.

Esse avanço é a explicação de alguns analistas para a
desvalorização do barril de petróleo, mesmo com redução de estoques e ritmo
menor de novas sondas exploratórias. Com a redução do custo de produção do
xisto, cada vez mais os EUA têm capacidade de inundar o mercado mundial.

Outro fator de pressão potencial é o efeito do furacão
Harvey. Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch diz que a demanda
americana pode ter sido represada em 40 milhões de barris por conta do
desligamento de refinarias. Isso pode atrasar o reequilíbrio do mercado com o
acúmulo de produção excedente local e alto nível de importações nos estoques.

Previsões de dez instituições coletadas pelo Valor apontam
para nível de US$ 54 no fim do ano.

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