Mineradoras voltam à cena para investir

Passados dois anos em que ficaram mais voltadas à
organização da casa, as mineradoras estão de volta ao mercado. A alavancagem já
não é um problema tão grande, os custos estão mais controlados e até mesmo a
perspectiva econômica de seus produtos mais importantes melhorou, com maior
equilíbrio de demanda e oferta.

Para Afonso Sartorio, sócio-líder para mineração e metais da
consultoria EY (ex- Ernst & Young), 2017 é um ano favorável para as
commodities, o que já torna a percepção sobre suas produtoras mais positiva.
Percebendo o momento, as mineradoras correm atrás de investidores e bancos para
financiar um novo ciclo de crescimento – tanto orgânico quanto por fusões e
aquisições.

Estudo da EY divulgado com exclusividade ao Valor mostra que
as empresas do setor foram às compras no primeiro semestre, dobrando o valor
das operações de fusões e aquisições no mundo, em comparação anual. O total
chegou a quase US$ 28 bilhões. Só no segundo trimestre, foram US$ 14,8 bilhões,
71% a mais que igual período de 2016.

“Depois de um momento de disparada na oferta com o
‘superciclo’ e a demanda menor que a prevista nos últimos dois anos, vemos mais
equilíbrio entre oferta e demanda, no geral”, diz Sartorio. “Os
projetos foram adiados ou cancelados e tivemos uma parte de desinvestimentos e
consolidação de empresas de médio porte, o que contribuiu.”

Com o cenário menos negativo, as mineradoras precisam de
capital. Em parte, como combustível para projetos que ficaram parados e agora
são viáveis. Um dos motivos é a exaustão de minas, cujas reservas precisam ser
repostas.

Para se ter uma ideia, a Vale, maior produtora de minério de
ferro do mundo, é a única das grandes que vai apenas manter os investimentos no
ano que vem. Um corte de US$ 500 milhões está previsto, mas só porque a empresa
alienou o negócio de fertilizantes. Além disso, a postura menos ativa em
relação às outras gigantes do setor faz sentido, já que a companhia vem de anos
com largos orçamentos para colocar em operação a mina S11D no início deste ano.

No total, Vale, Rio Tinto, BHP Billiton e Anglo American
preveem gastar cerca de US$ 17,4 bilhões no ano que vem; US$ 1 bilhão a mais do
que em 2017.

Para esse fim e outros, inclusive o de fusões e aquisições,
que as mineradoras levantaram US$ 71 bilhões no segundo trimestre deste ano –
15% a mais do que nos mesmos meses de 2016. Um dos motivos foi a troca de
instrumentos de dívida por outros mais baratos, algo que acelera o processo de
desalavancagem.

“As juniores [mineradoras menores], por exemplo,
aumentaram a busca por financiamento”, afirma Sartorio. Até o ano passado,
um movimento desses não seria esperado, pois o preço da maioria das commodities
estava em situação muito pior. “As captações têm ocorrido de forma muito
diversificada, geograficamente e quanto aos produtos. Com a melhora da saúde
financeira das mineradoras, o mercado está oferecendo dívida com termos melhores.”

A consultoria prevê que o processo de diminuição do
endividamento continue em 2017. Se a velocidade com que pagaram as obrigações
em 2016 se repetir, a EY calcula que a alavancagem financeira – índice que
relaciona dívida líquida e lucro antes de juros, impostos, depreciação e
amortização (Ebitda, na sigla em inglês) – do setor fique abaixo de 1 vez pela
primeira vez em cinco anos.

Sobre os novos projetos que esse dinheiro pode gerar,
Sartorio vê o cobre com perspectivas interessantes. Os fundamentos para o metal
tornaram-se mais positivos para o investimento, após ajustes de capacidade e
expectativa de maior demanda nos próximos anos. Carros elétricos, por exemplo –
uma tendência que deve se intensificar até o fim da década -, seriam grandes
consumidores.

Contudo, o Brasil não é protagonista, lembra o sócio da EY,
porque não é tão relevante na produção do cobre. Chile e Peru, na América do
Sul, têm mais oportunidades. Sartorio também cita a redução de participação da
China nas operações como uma tendência recente.

O mercado de ouro, por outro lado, também deve se agitar
daqui para frente – e o Brasil é protagonista. Ele também cita o nióbio – cuja
maior produtora é a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) -,
além da bauxita e do lítio.

Mas não é só a falta de reservas ou a menor relevância em
certas commodities que deixa o país para trás. Sartorio ressalta que o mercado
por aqui não está parado, mas alguns fatores restringem negócios. Entre eles, a
contínua recessão, a crise política e a entrada em operação do S11D, da Vale.

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