Otimismo moderado para o minério de ferro

Os economistas e analistas especialistas em commodities
minerais estão conservadoramente otimistas em relação ao preço futuro do
minério de ferro no médio prazo. Segundo quatro destes especialistas, que
participam da mesa “Mercado Global de Preços das Commodities Minerais:
perspectivas e tendências”, no 17º Congresso Brasileiro de Mineração, em
Belo Horizonte, o preço do minério de ferro, com teor de 62% entregue na China,
deve se manter no patamar atual, em torno de US$ 70 a tonelada, ou refluir
ligeiramente no próximo ano. Mas defendem que não há perspectiva de pressões
baixistas que venham a derrubar as cotações para baixo dos US$ 60 a tonelada
até o fim de 2018.

No ano, o minério acumula queda de 12,7%, mesmo percentual
de recuo registrado em setembro. Do pico recente registrado em 22 de fevereiro,
de US$ 94,30, a cotação retrocede 27%. Todavia, a commodity deve terminar o
terceiro trimestre com desempenho forte. Até agora, a média de preços é de US$
72,39, 14,9% a mais do que entre abril e junho e alta de 24% em relação ao
mesmo período de 2016. Considerando os últimos onze trimestres, o atual preço
médio só perde para os US$ 85,63 do primeiro trimestre deste ano.

Ed Rawle, chefe de pesquisa de mercado e especialista em
commodities da Wood Mackensie, disse que a recuperação dos preços no último um
ano e meio garantiu oxigênio para as grandes mineradoras, mas que os preços
tendem a cair e manterem-se próximos dos US$ 60 a tonelada até a eliminação de
parte significativa do excesso de oferta existente hoje no mundo, avaliada por
ele entre 60 milhões e 80 milhões de toneladas. Ante este quadro de ajuste,
Rawle acredita que estamos, hoje, no pico de preços do atual ciclo de
recuperação, mas que a tendência natural é de que a cotação oscile próximo dos
US$ 60 a tonelada pelo menos até o fim de 2018, o que tiraria do mercado
capacidades menos produtivas e que trabalham com minérios mais pobres.

Paul Fraser Robinson, Diretor do CRU Group, do Reino Unido,
concorda que não existe justificativa de demanda para a continuada alta dos
preços, mas acredita na manutenção de margens saudáveis, principalmente para
minérios de alto teor. “Com o coque metalúrgico a US$ 320 a tonelada, as
siderúrgicas estão pagando bons ‘spreads’ pelo minério de maior
concentração”, disse.

John Mothersole, diretor de Pesquisa do IHS Markit, dos
Estados Unidos, a desaceleração do crescimento da China é fator inibidor da
manutenção da evolução positiva dos preços do minério. Em contraposição, a
normalização de taxas de juros pós-recessão leva a uma mudança na posição dos
investidores para o complexo de commodities no curto prazo. Ele também citou a
imposição de limitações das importações chinesas de sucatas e retorno das
siderúrgicas ao minério primário. Colocadas as variáveis na balança, a
tendência seria de estabilidade, com fraco viés de recuo das cotações em 2018.

Já Sigurd Ivo Mareels, analista da McKinsey & Company,
disse que a correção dos preços desde a grande depressão de 2015 se deu pela
paulatina absorção da sobrecapacidade mundial pela China, que fechou uma série
de minas domésticas e passou a importar mais. Segundo ele, os riscos futuros
recaem basicamente sobre os produtores de minério de baixa qualidade, já que a
diferenciação de preços e o pagamento de prêmio por qualidade é uma tendência.

“Apesar da recuperação, uma certa sobrecapacidade vai
continuar. Estamos otimistas, mas existem riscos”, disse ele, que aponta o
comportamento do preço do petróleo e sua influência sobre a cotação do minério
de ferro como o maior deles.

Apesar da perspectiva de estabilidade dos preços do ferro em
bom patamar, Paul Fraser Robinson, da CRU Group, disse que as melhores
perspectivas futuras estão abertas para os minerais ligados à geração verde de
energia, como cobre, zinco e cobalto. “Os investidores deveriam olhar mais
detidamente para estes produtos, que sinalizam melhor retorno médio e longo
prazos”, afirmou. Estes minerais estão ligados ao mercado de fabricação de
veículos elétricos e híbridos que, segundo Robinson, terão aumento continuado
de demanda nos próximos anos.

“Já começa a faltar concentrados. Simplesmente não há
unidades para compensar o declínio continuado de zinco, por exemplo. Este é o
(segmento do setor) mais sensível para picos de preços”, afirmou. A
exceção seria o lítio, também usado na fabricação de baterias, mas onde
“já existem projetos demais”. Segundo Robinson, as mineradoras e investidores
em mineração devem procurar estar em algum nível expostos à evolução verde da
geração de energia, que além dos veículos elétricos inclui as turbinas eólicas
e os painéis fotovoltáicos. “Acredito que não haverá grande pressão de
preços até o fim da década, mas trata-se de uma tendência, de um movimento
irreversível, e é bom estar exposto a ele”.

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