Avanço estrutural

Nas contas da equipe de pesquisa e análise setorial do
Rabobank, a agropecuária deverá apresentar um salto de 11% neste ano,
considerando-se exclusivamente a produção primária, após recuar 6,6% em 2016. O
volume recorde colhido pelo país na safra 2016/17, estimado em 238,5 milhões de
toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ajudou a
impulsionar o valor agregado pelo setor ao Produto Interno Bruto (PIB). Mas
essa contribuição tende a ser mais modesta em 2018, ou praticamente nula,
sempre no setor primário.

Ao longo deste ano, segundo calcula o Rabobank, o setor
deverá responder por todo o crescimento projetado para a economia em geral,
alguma coisa na faixa de 0,6%. A atividade econômica nos demais setores tende a
zero. No próximo ano, o PIB total poderá registrar elevação de 2,0%, na
avaliação da instituição, mas a agropecuária deverá se contentar com 0,7%.
Porém, na série histórica do banco, o setor tem se comportado melhor do que a
média. Entre 1997 e 2016, aponta a instituição, o PIB agropecuário cresceu a
uma taxa média anual de 3,3% diante de 2,3% para o restante da economia.

Em seu conceito mais amplo – que inclui a produção primária,
fabricantes e distribuidores de insumos, agroindústria e todos os setores que
prestam serviços associados à agropecuária -, o agronegócio teve variação de
0,36% no acumulado entre janeiro e maio em relação a igual intervalo de 2016,
dado mais recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea),
da Esalq/USP. No primeiro semestre, para comparação, o PIB do país ficou
estagnado.

Como a safra não deve vir “tão cheia” como a
colhida neste ano, segundo o economista Felippe Serigati, professor do Centro
de Estudos do Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (GV Agro), a inflação deve
retomar seus “níveis normais” no ano que vem, “mas não será
nenhuma dor de cabeça”, pondera, já que a taxa tem rodado abaixo do piso
da meta inflacionária neste ano.

Sócio da Agroconsult, o analista Marcos Rubin sugere que o
campo tem todas as condições para reeditar uma safra superior a 200 milhões de
toneladas, embora ligeiramente inferior ao volume colhido neste ano,
principalmente por conta da mudança estrutural nos níveis tecnológicos
incorporados pelas lavouras nos últimos anos. Esse processo está associado ao
surgimento de novos materiais genéticos e ainda à melhora na nutrição das
plantas, com aplicação de fertilizantes de forma mais eficiente e em maior
escala, avalia Rubin.

A agricultura conseguiu acumular “potenciais de
produtividade bastante elevados, basicamente pela incorporação de novas
tecnologias de sementes”, reforçam Pedro Barreto Fernandes, diretor de
agronegócio do Itaú BBA, e Guilherme Bellotti, economista do banco.

Em sua primeira estimativa para a safra 2017/18, a Conab
antecipou a expectativa de produção entre 224,1 milhões e 228,2 milhões de
toneladas, indicando recuo respectivamente de 6% a 4,3% frente ao ciclo
anterior.

A Conab espera avanço de 4,8% a 14,6% para a produção de
algodão em caroço, saindo de 2,30 milhões para 2,41 milhões a 2,63 milhões de
toneladas. “Este será novamente o ano do algodão”, sustenta Barreto,
levando em conta a previsão de incremento tanto para a área plantada quanto para
a produção da pluma, diante de preços mais favoráveis quanto comparados aos
praticados para as demais culturas.

O milho deverá “devolver” para a soja parte da
área cultivada na safra de verão de 2016/17, de acordo com Rubin. A Agroconsult
projeta redução de 13% na área destinada à primeira safra do grão, de 5,5
milhões para 4,8 milhões de hectares, um pouco menos do que a Conab espera
(entre 4,9 milhões e 5,1 milhões de hectares). A menor produtividade, diz
Rubin, permite antecipar colheita próxima a 25 milhões de toneladas, 5 milhões
abaixo da safra passada.

A produção na segunda safra de milho, de acordo com Rubin,
deverá girar em torno de 69 milhões de toneladas, praticamente repetindo a
colheita deste ano. Na soma das duas safras, a Agroconsult espera 95 milhões de
hectares ou 5% menos do que no ciclo 2016/17, quando o país teria colhido 100
milhões de toneladas.

A soja deverá ocupar 35 milhões de hectares, na projeção de
Rubin, ou seja, 1 milhão de hectares a mais que na safra passada, equiparando-se
à área prevista pela Conab. A produtividade, no entanto, não deverá repetir o
recorde deste ano, baixando de 57 para 53 sacas por hectare, conforme Rubin,
reduzindo a produção de 115 milhões para 111 milhões de toneladas. A Conab
aposta numa produção entre 106 milhões e 108 milhões de toneladas diante de
114,1 milhões de toneladas no ciclo passado. Barreto, do Itaú BBA, antecipa a
colheita de 109 milhões de toneladas diante de 113 milhões de toneladas em
2016/17.

Para Barreto e Belloti, a safra 2017/18 ainda trará uma
rentabilidade boa para os principais grãos. “A queda dos custos de
produção deverá compensar a redução dos preços dos grãos”, afirma Barreto.

No sudeste de Mato Grosso, o banco projeta margens de R$ 316
por hectare para o milho (alta de 7%) e de R$ 1,0 mil para a soja (em queda de
8,7%).

A contribuição do setor para a balança comercial deverá
manter-se relevante, na visão dos analistas, mas dependerá, logicamente, dos
volumes produzidos em 2018. Os embarques de soja em grão e milho deverão somar
66 milhões e 34 milhões de toneladas, com avanço de 3% e queda de 5,6%
respectivamente.

“Se considerarmos todas as adversidades que o setor
enfrentou neste ano, o Brasil não teve que reduzir seus preços de venda ao
exterior em nenhum mês e, no balanço final, deveremos superar os US$ 5,3
bilhões exportados em 2016”, avalia Antônio Jorge Camardelli, presidente
da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

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