Linha 17-Ouro do Metrô volta a andar nos trilhos

Prometida para a Copa do Mundo de
2014 e tida como uma obra fácil e rápida, a Linha 17-Ouro teve sua imagem mais
associada aos usuários de crack que passaram a viver sobre suas colunas na
avenida Roberto Marinho, na Zona Sul de São Paulo. A segunda linha de
monotrilho criada pelo Metrô na cidade começou a ser construída em abril de
2012, portanto, há mais de cinco anos, mas só deve ser entregue no segundo
semestre de 2019, de acordo com as previsões mais recentes do governo do
estado.

Ou seja, levará praticamente o
mesmo tempo que a expansão da Linha 5-Lilás, obra mais complexa e subterrânea
que deverá ser concluída no ano que vem – porém, já parcialmente entregue em
2017. Mas as notícias mais recentes sobre o projeto têm sido positivas. Alguns
imbróglios foram resolvidos e várias frentes de trabalho andam aceleradas, como
o pátio de trens sobre o piscinão da Roberto Marinho.

O maior “abacaxi” da Linha 17 é o
contrato principal, que envolve a construção dos pilares, vigas, sistemas e o
material rodante, quer dizer, o monotrilho em si. Essa licitação foi vencida
pelo consórcio Monotrilho Integração que foi formado pelas construtoras Andrade
Gutierrez, CR Almeida e as empresas MPE e Scomi, esta última, a fabricante do
trem que será usado na linha.

Os trabalhos seguiam bem até que
um acidente com uma viga-trilho em junho de 2014 fez o lançamento dessas
imensas peças ser suspenso pelo Ministério do Trabalho. Na ocasião, a viga
acabou despencando dos pilares vitimando um funcionário. Mais tarde, as
construtoras decidiram abandonar a obra por não concordarem com os valores
recebidos. A pendenga foi parar na Justiça que buscou uma saída negociada,
afinal a Scomi manteve o interesse no projeto e antes disso já havia assumido o
trabalho da MPE, empresa brasileira que deveria montar os trens do monotrilho e
acabou fora da sociedade.

Após muita negociação, o
consórcio Monotrilho Integração retomou os trabalhos de lançamentos de vigas e
instalação de passarelas de emergência. O blog falou com o setor de atendimento
à comunidade da empresa que garantiu que o serviço está sendo feito normalmente
– de fato, várias vigas foram lançadas nas últimas semanas.

 

Trem chega até março

 

Outra grande dúvida a respeito da
obra dizia respeito ao trem. Ao contrário da Bombardier, empresa que forneceu
os trens do monotrilho da Linha 15-Prata e os montou numa fábrica no interior
de São Paulo, a Scomi praticamente não se comunicou com o mercado desde o
fechamento do negócio. Em 2016, no entanto, a fabricante da Malásia lançou uma
pedra fundamental na cidade de Taubaté (SP) onde ergueria uma fábrica que faria
não só os trens da Linha 17 como também da Linha 18-Bronze, no ABC, também
vencida por ela.

No entanto, nada aconteceu. Em
julho a empresa participou de um evento em São Paulo e falou pela primeira vez
sobre seus planos e como anda a fabricação dos trens. Pouco antes, sem alarde,
a primeira unidade do monotrilho da Linha 17 foi apresentada na Malásia em
abril. Segundo a empresa, essa unidade está em testes e deverá ser embarcada
para o Brasil no início de 2018. A ideia é que os testes comecem em abril do
ano que vem. Enquanto isso, um grupo de funcionários do Metrô deveria ter ido
para Kuala Lumpur para avaliar o projeto.

Os executivos da Scomi também
adiantaram que a fábrica brasileira será realmente erguida e montará parte da
encomenda da Linha 17 além da totalidade dos trens da Linha 18. Segundo eles, a
unidade de Taubaté também ajudará a exportar monotrilhos para outras partes do
mundo, inclusive.

 

Pátio surge no horizonte

 

Apesar dos atrasos na parte de
material rodante é no pátio de manutenção que residia o maior problema da obra.
Depois de ver as mesmas construtoras presentes no consórcio Monotrilho
Integração serem afastadas do projeto por atraso, o Metrô conseguiu repassar a
obra para outro grupo que inclui a construtora TIISA, hoje responsável por
várias outras obras metroferroviárias e que tem correspondido em relação aos
prazos. Após um início lento, as obras estão a todo vapor e já é possível ver
centenas de funcionários no canteiro. Imenso, o pátio terá dois pisos e ficará
sobre o piscinão da avenida, na região do aeroporto. Ele precisa ter mínimas condições
para receber os primeiros trens para testes e esse é hoje o principal foco da
obra.

A mesma TIISA e suas parceiras
estão à frente de sete das oito estações da primeira fase. A parte civil dessas
estações está praticamente concluída e nas últimas semanas foram iniciadas as
instalações de estruturas metálicas em três delas. Também o túnel que ligará a
estação Aeroporto a Congonhas encontra-se em acabamento, já praticamente dentro
do terminal.

A oitava estação, Morumbi e que
ficará ao lado da Linha 9, enfim, foi licitada e vencida por um consórcio de
empresas do grupo Camargo Correa, marcando seu retorno às obras públicas após a
operação Lava Jato. A nova estação será maior e ficará ao sul da parada da
CPTM, além de ter um acesso próprio dentro do terreno do edifício da WTorre. A
expectativa é que a assinatura do contrato ocorra nas próximas semanas a fim de
que a estação fique pronta até meados de 2019. Ela é vital por permitir que os
trens possam manobrar na região da Marginal Pinheiros e voltar no sentido
aeroporto.

 

Fases sem previsão

 

Se o horizonte parece menos
nebuloso para a primeira fase não se pode dizer o mesmo a respeito das duas
outras fases previstas. A ligação com a estação Jabaquara da Linha 1-Azul é a
menos complexa e basicamente depende da remoção de moradias precárias do
córrego Água Espraiada. Parte dessas famílias já está sendo realocada em
habitações de interesse social na região, construídas pela prefeitura, porém,
boa parte do trecho ainda está ocupado. Será preciso liberar a área para o
parque linear e então a linha poderá chegar até o Jabaquara, acrescentando mais
cinco estações.

Já na outra direção a situação é
bem mais complicada. A partir da estação Morumbi, o monotrilho atravessará o
Rio Pinheiros, entrará pela região do Panamby, cruzará a favela de Paraisópolis
quando então seguirá pela avenida João Jorge Saad para se encontrar com a
estação São Paulo-Morumbi, da Linha 4-Amarela, atualmente em construção.

Nesse caso acumulam-se problemas.
Logo ao cruzar o rio haverá uma estação que deveria ser feita por um
empreendimento, o Parque Global, que acabou embargado. Na sequência, o projeto
previu um polêmico traçado ao largo do Cemitério do Morumbi, que exigirá a
ocupação de parte terreno além de colocar os passageiros percorrendo parte dos
jazigos. Depois será a vez de percorrer uma avenida em que uma construtora
alterou o projeto de prédios residenciais e ocupou parte da área que seria
necessária para ampliar a via. Por fim, há todo um movimento contrário ao
monotrilho na região, considerado desnecessário por moradores, incomodados com
sua passagem. Até a suspensão do trecho, nenhuma dessas situações havia sido
resolvida.

Com ou sem novas fases, a Linha
17-Ouro deverá estrear em 2019 já nas mãos privadas. Ela faz parte da concessão
conjunta com a Linha 5-Lilás e que deveria ter o leilão realizado no dia 28 de
setembro. Porém, o TCE suspendeu a licitação e aguarda esclarecimentos do
governo. Até lá, o monotrilho continua a servir de “moradia provisória” para
muita gente até começar a transportar pessoas.

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